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 | 24/06/2006 10h

Bibliotecas virtuais revolucionam o mundo dos livros

Internautas podem comprar ou acessar obras gratuitamente na rede

Um dos mais antigos sonhos do homem, o de difundir o conhecimento através de uma biblioteca universal e enciclopédica, está dando passos cada vez mais firmes por meio de projetos de bibliotecas digitais que se anunciam, além daqueles que já disponibilizam na internet obras de autores de todo o mundo. Os serviços oferecidos diferem bastante e vão desde a visualização no computador das páginas digitalizadas de um livro tradicional até a possibilidade de compra de um livro virtual para leitura em Palm. Alguns são pagos, outros cobram por páginas ou incluem anúncios publicitários, muitos são gratuitos. Tudo depende da legislação e dos objetivos de cada biblioteca.

O livro virtual nada mais é que uma cópia eletrônica de um livro tradicional. A diferença está no formato e nas possibilidades de interação que ele oferece. Se ler na tela do computador pode ser cansativo, conforme a biblioteca, o livro digital pode ser baixado, impresso e manipulado. Ou ainda, ser levado para qualquer outro lugar através de aparelhos eletrônicos – os HandHelds – como o PocketPC e o Palm. Em alguns casos, durante a  leitura, o internauta pode alterar o tamanho da fonte, fazer anotações ou pesquisar palavras no texto.

Entre as bibliotecas virtuais, um dos mais recentes e também mais polêmicos projetos é o Google Book Search, no ar desde o final de 2005, e que pretende digitalizar mais de 15 milhões de livros e oferecê-los gratuitamente. Junto dele, outros gigantes da internet, como Amazon, Yahoo e Microsoft, prometem encabeçar propostas semelhantes. Na outra ponta, cresce o número de bibliotecas e instituições que aproveitam a internet como ferramenta para difundir e ampliar o conhecimento, utilizando os textos e arquivos publicados para fins educacionais. Um terceiro tipo de serviço encontrado na rede é a venda dos chamados e-books. Ao contrário das outras bibliotecas, as lojas virtuais vendem o acesso a arquivos contendo os livros.

Portais de busca

Em dezembro de 2004, o site de buscas Google anunciou que iria investir cerca de US$ 200 milhões no projeto Google Book Search para digitalizar milhões de livros, inclusive aqueles protegidos pelos direitos autorais. O objetivo, segundo alega a ferramenta de buscas da internet, é facilitar o cruzamento de informações e contextualizar resultados dentro dos livros, e não fornecer a obra completa para leitura. A exceção é feita para aqueles livros já sob domínio público, geralmente, publicados há mais de 70, e que podem ser acessados na íntegra. No caso dos volumes protegidos pela propriedade intelectual, só será permitido ler trechos e obter algumas informações básicas. Conforme o livro, a leitura de outras páginas está condicionada ao fornecimento de uma senha Google Account – que pode ser a do Gmail.

O arquivo de livros do Google começou a ser formado a partir da digitalização dos acervos de universidades como Harvard, Oxford e Michigan, e da Biblioteca Pública de Nova York, além de outras obras de autores norte-americanos. Desde então, o portal está à procura de parcerias com bibliotecas e editores para ampliar o número de obras disponível. A proposta é simples: o Google entra com a tecnologia e o custo da digitalização e, em contrapartida, obtém a exclusividade para disponibilizá-los na internet.

A pesquisa dentro do Google Book Search é feita por palavra, autor, título, editor, data da publicação ou código ISBN (International Standard Book Number - sistema internacional padronizado que identifica os livros). Depois de encontrar o livro procurado, se desejar, o usuário pode comprar o livro, clicando nas opções de livrarias virtuais que são apontadas. Outra opção é sofisticar a busca, procurando por informações adicionais sobre o autor, a editora, o assunto, ou além disso, encontrar uma biblioteca local para retirar o livro, bastando, para isso, informar a região desejada. O projeto, no entanto, ainda está restrito aos Estados Unidos e não há previsão para entrada em outros países, nem no Brasil. Por isso, apesar de o acervo contar com livros em outras línguas, a maioria das buscas aponta para textos em inglês.

O site de compras Amazon tem um serviço semelhante ao do Google ao disponibilizar a leitura parcial de textos, no chamado “search inside this book” (procure dentro deste livro). No entanto, assim como o Google, não permite a impressão. Ou seja: leitura, somente na tela.

Educacionais

As bibliotecas virtuais mais difundidas na web são aquelas vinculadas a instituições de ensino, bibliotecas públicas ou projetos governamentais. A proposta central de muitas delas é oferecer recursos para escolas e universidades, suprindo prováveis carências das bibliotecas tradicionais ou estimulando o interesse pela leitura.

De maneira geral, todas elas disponibilizam gratuitamente obras de valor histórico e educacional, sendo essas de domínio público ou cuja divulgação foi autorizada pelos autores. Em função disso, parte do material pode ser utilizado livremente pelos leitores, o que inclui republicá-los em outros sites, imprimi-los, distribuí-los ou transformá-los em outros formatos. Alguns arquivos, no entanto, possuem restrições: o livro pode ser baixado, impresso e lido, mas não alterado ou distribuído. Outra peculiaridade das bibliotecas com finalidade educativa é que os textos são atualizados com a participação de voluntários. Qualquer pessoa pode digitalizar um livro e colocá-lo na rede, seguindo as instruções específicas de cada biblioteca.

Um dos precursores neste sentido é o Projeto Gutenberg – existente nos Estados Unidos desde 1971 – que oferece gratuitamente mais de 18 mil livros, além de imagens, áudios e outros textos. O objetivo é facilitar o acesso mundial a obras clássicas da literatura universal, como, por exemplo, Shakespeare, Edgar Allan Poe, Dante e Lewis Carroll. O material, geralmente disponível em arquivo PDF, é oferecido em 45 idiomas, como inglês, português, francês, espanhol, chinês, italiano, alemão, entre outros.

Na Europa, outro grande projeto é o patrocinado pela Biblioteca Nacional Francesa. A Gallica, como é chamada a biblioteca virtual, soma 90 mil arquivos digitalizados, entre áudios, livros, revistas, jornais, dicionários e imagens, incluindo as áreas de história, literatura, ciências, filosofia, direito, economia e política,  em língua francesa e outros idiomas estrangeiros. A União Européia prepara um projeto similar que prevê colocar disponível na rede, até 2010, mais de seis milhões de livros, filmes, fotografias e outros documentos.

No Brasil, as maiores universidades já disponibilizam de alguma maneira o conteúdo de suas bibliotecas, mas o material, em geral, se restringe à literatura técnica e científica. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, dispõe de um serviço de publicação on-line de teses e dissertações e participa de uma rede de periódicos organizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Por outro lado, em se tratando de documentos históricos e literários, a Fundação Biblioteca Nacional é uma referência nacional. Sua biblioteca digital incluiu parte do acervo de literatura brasileira e portuguesa disponível para download. Para ler, visualizar ou escutar os arquivos é necessário ter instalado no computador alguns plug-ins: Adobe Reader, Flash Player, Djvu ou Express View. As buscas são realizadas por autor, título, assunto, data, coleção ou tipo de documento.

Tendo como público basicamente estudantes e professores, outra importante contribuição na divulgação de livros eletrônicos é a Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa, nascida da parceria entre a AT&T Foundation e a Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP). Ela contém clássicos da literatura brasileira e portuguesa, como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, José de Alencar, Lima Barreto, Luís de Camões, além de lições do Telecurso 2000, testes de pós-graduação, livros falados, documentários em vídeo, vozes de personalidades da história e artigos sobre educação. As ferramentas são de fácil utilização: o internauta tem a opção de ler os textos em formato HTML na tela, armazenar e ler em arquivo PDF com o Acrobat Reader, imprimir, ou ainda,  baixar para um aparelho de Palm. Os materiais oferecidos sob domínio público podem ser redistribuídos livremente, desde que não sejam alterados e que contenham menção à Biblioteca Virtual, com sua respectiva URL e os dados sobre a obra. Já os materiais concedidos sob autorização podem ser utilizados apenas para fins pessoais e educacionais.

e-books

Para encontrar na rede um livro contemporâneo na íntegra, existem ainda as lojas virtuais. Ao contrário das outras bibliotecas, as lojas virtuais vendem arquivos com a íntegra dos livros, que podem ser executados e lidos na tela do computador através de determinados programas. Com preços menores do que os de um livro tradicional, os e-books podem ser armazenados tanto em computadores, como em palms e laptops, mas dificilmente podem ser impressos na íntegra, já que muitos arquivos vêm protegidos contra cópias ou limitados para certo número de impressões. Como a maioria dos livros é protegida pelas leis de direitos do autor, eles não podem ser enviados por e-mail, pois nesse caso estaria sendo gerada uma cópia. A licença, neste caso, é pessoal, e o usuário não pode distribuir o texto para outras pessoas.

Cada loja trabalha com diferentes formatos de arquivos, como Adobe Reader, Gemstar, eBook, hiebook, HTML, Instant eBook, Microsoft Reader, Microsoft Word, Mobipocket, Palm, Plain Text, entre outros. O pagamento é feito, na maioria dos casos, com cartão de crédito e algumas exigem que o internauta se cadastre, informando seus dados pessoais. Outros e-books além de possuírem um padrão gráfico similar a um livro impresso, agregam vídeo, áudio, anexos e sala de chat. Junto ao preço, a vantagem desse tipo de serviço é que o leitor não precisa se deslocar até uma livraria ou esperar a entrega do livro físico em sua casa.

Grande parte das lojas existentes é norte-americana, como Ebookexpress, Ebooks, Ereader, mas no Brasil, alguns sites de vendas já entraram no ramo, como o Submarino.

HELENA KEMPF
 

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