| 12/06/2006 22h08min
O elevado número de mortos e de tiros dados em cada pessoa morta durante a semana de ataques atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC) indica que podem ter atuado grupos de extermínio ou mesmo ocorrido excessos dos policiais durante a repressão. Dados como esses serão investigados pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público Estadual de São Paulo, que receberam hoje um relatório e os laudos necrológicos dos 492 mortos do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, a média diária de mortos por arma de fogo no Estado nos anos anteriores era de 20 pessoas e subiu para 62 durante os dias 12 a 20 de maio. Ariel é membro da Comissão Especial Independente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).
– Esse aumento exorbitante de mortes é um indício de que circunstâncias totalmente ilegais e abusivas possam ter colaborado e é isso que se pretende investigar. O que iremos apurar é se foi na atuação de policiais ou de grupos de extermínio – explicou.
O Condepe, acrescentou, enviará os laudos ao professor perito Ricardo Molina, da Universidade de Campinas, que colaborará na análise. Mas continua aguardando os boletins de ocorrência das policias Civil e Militar, e os inquéritos policiais abertos.
O relatório do Cremesp aponta que o total de mortos baleados na cidade de São Paulo, no mesmo intervalo dos dias 12 a 20 de maio, foi de 77 pessoas em 2000; 108 em 2001; 67 em 2002; 107 em 2003; 64 em 2004; e de 163 neste ano. A média de tiros encontrada nos corpos cresce quase igualmente ao número de mortos, ao longo da semana de 12 a 20 de maio.
– Fica evidente que houve aumento expressivo da média de tiros por óbito em alguns dias do período analisado, o que demonstra alteração no perfil das agressões por ferimento por arma de fogo. Chamam a atenção Santos (8,3 tiros por óbito no dia 15/5), Guarujá (8,25 tiros por óbito no dia 16/5), São Paulo (6,9 tiros por óbito no dia 13/5); e Guarulhos (5,8 tiros por óbito no dia 15) – destaca o Cremesp.
Os laudos também foram entregues hoje à Comissão Especial do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), que auxilia o Ministério Público Federal e é integrada pelo advogado Percílio de Souza, pela procuradora federal Ela Wiecko Castilho e pelos juristas Dalmo de Abreu Dallari e Flávia Piovesan.
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