| 02/05/2006 16h52min
O aumento na tarifa de gás para o consumidor brasileiro é a conseqüência mais imediata e "mais suave" da decisão anunciada ontem pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, de estatizar as refinarias de petróleo e gás das subsidiárias multinacionais presentes naquele país, dentre as quais, a Petrobras.
A análise é do pesquisador da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Giuseppe Bacoccoli. Segundo ele, a pior conseqüência seria a interrupção do fornecimento de gás ao Brasil, que equivale "a mais da metade do gás que a gente consome".
Ele acredita, porém, que a interrupção seria temporária, uma vez que os bolivianos têm que vender o gás, "que é o único bem de que o país dispõe". O pesquisador lembrou que o Brasil é o único país não rico do mundo a ter o domínio completo de toda a tecnologia relacionada ao petróleo e ao gás natural, com algumas áreas de excelência pela Petrobras, como a exploração em águas profundas.
– E certamente a Bolívia precisa não somente dos nossos conhecimentos, como também da nossa tecnologia – disse, acrescentando que 40% do gás produzido na Bolívia foi descoberto e está sendo processado atualmente pela estatal brasileira.
A proposta formulada por Morales, de ficar com 82% do valor de produção do gás, destinando apenas 18% às empresas estrangeiras, é analisada por Bacoccoli como uma reação a estabilidade do preço do gás no mercado internacional frente a alta crescente no preço do petróleo no mundo.
– Ele (Evo Morales) tem alguma razão quando se vê que o preço do petróleo subiu bastante no mercado internacional e o preço do gás natural deveria seguir o preço do petróleo. Então, seria até certo ponto imaginável um pequeno aumento da tarifa – avaliou.
Bacoccoli disse ainda que os royalties pagos pelas companhias estrangeiras que exploram e produzem gás na Bolívia subiram de 30%, antes de Morales ser eleito, para 50%.
– Neste momento, ele fala em cobrar 82% justamente dos campos que produzem mais, que são San Antonio e San Alberto, de propriedade da Petrobras. Nos demais campos, ficaria com 60% para o governo boliviano.
O pesquisador disse ainda que a resolução do problema passa pelas vias internacionais superiores, como a Organização Mundial do Comércio (OMC).
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