A definição pelo padrão de TV Digital adoto no Brasil, prometida e postergada diversas vezes já neste ano, promoverá mudanças nas redes de TV e nos televisores brasileiros.

A nova TV vai concentrar num só aparelho a qualidade de som dos CDs, a imagem e a tela do cinema, a portabilidade do celular e a interatividade, até então quase exclusiva dos computadores através da internet.

– Isto tudo com certeza trará novos hábitos e costumes para o brasileiro que gosta de ver televisão – observa Fernando Ferreira, diretor de Tecnologia RBS TV, que concedeu entrevista online ao clicRBS.

Na pauta de discussões desde 1999, a decisão pela TV Digital brasileira já causa perdas para o Brasil, conforme Ferreira.

Com a proximidade da escolha do padrão adotado no país, Ferreira estima o prazo para a nova TV chegar às casas dos brasileiros:

– Acredito que, com esta definição sendo em março, no prazo de nove meses já teremos um grande número de emissoras operando.

• Leia a íntegra da entrevista.

clicRBS: A discussão sobre a TV Digital no Brasil se estende desde 1999, que motivos podem existir para o processo ser tão demorado?

Fernando Ferreira: Realmente é desde 1999. O processo envolve evolução tecnológica, mercado e aplicabilidade. Estamos olhando desde esta data a evolução nos EUA, Europa e Japão. Que são os países, e continente, dominantes neste tema.

clicRBS: O que o Brasil perde com essa demora sobre o padrão a ser adotado no país?

Fernando Ferreira: Diria que até três anos atrás estávamos analisando as vantagens técnicas dos sistemas envolvidos. Nos últimos três anos tivemos perdas por não definir o modelo e o modo de operação.

Pergunta de internauta: Quais as vantagens políticas que estão por trás dessa demora em escolher um padrão para o Brasil?

Fernando Ferreira: Os ganhos políticos são na negociação com os padrões que, acredito, estão esgotados.

clicRBS: Você defende a adoção de algum dos padrões que estão sendo analisados pelo governo?

Fernando Ferreira: Acredito ser o japonês que apresenta melhores condições técnicas e parece ser também o de melhor condição econômica. A minha posição não é "defesa" e sim de análise do modelo brasileiro de televisão que é aberta (não codificada) e gratuita para todo o público.

clicRBS: Quais as vantagens do padrão japonês para os outros?

Fernando Ferreira: Os padrões que apresentam melhores condições para a televisão fixa com alta definição e a televisão móvel e portátil simultaneamente devido a seu processo de modulação são o japonês e o europeu. O japonês é superior tecnicamente porque no mesmo canal consegue enviar para televisor fixo e o móvel sem perda de qualidade as transmissões separadamente.

clicRBS: Que mudanças a TV Digital vai promover nos hábito de milhões de brasileiros?

Fernando Ferreira: A TV Digital trará alguns ganhos como imagens com mais qualidade e maior resolução, áudio com qualidade de CD, formato da tela retangular 16x9 (e não 4x3 atua), interatividade, transmissões para terminais além do fixo o móvel e o portátil, e dependendo da qualidade mais de um conteúdo no mesmo canal. Isto tudo com certeza trará novos hábitos e costumes para o brasileiro que gosta de ver televisão.

clicRBS: Uma vez decidido o padrão, qual é o próximo passo para que a TV Digital chegue às casas dos telespectadores?

Fernando Ferreira: Teremos um trabalho regulatório que estipulará algumas regras como qual o canal que será para a TV Digital e o prazo para a transmissão simultânea do analógico para o digital e algumas regras complementares. O restante será das emissoras de televisão que deverão investir em equipamentos de transmissão para fazer está televisão disponível. Acredito que com esta definição sendo em março no prazo de nove meses já teremos um grande número de emissoras operando.
 
clicRBS: Que tipo de aparato técnico será necessário para receber o sinal digital? Os televisores atuais vão virar artigo de museu?

Fernando Ferreira: Para receber a TV Digital nos atuais televisores, serão necessários conversores da transmissão digital para o televisor analógico. Mesmo com esta conversão, haverá um ganho na qualidade da imagem. A outra forma de receber é com televisor digital (HDTV). Os televisores deverão ser substituídos ao longo dos próximos dez anos, quando, com certeza, a totalidade das emissoras estarão transmitindo no canal digital. Comparando com o computador, lembro que de quatro em quatro anos temos que substituí-los. Com os televisores teremos algo similar.

Pergunta de internauta: Como o poder aquisitivo dos brasileiros é relativamente baixo, logo a maioria da população não vai poder adquirir imediatamente um televisor digital, qual é o custo estimado desse conversor que será implantado nos primeiros anos?

Fernando Ferreira: O valor do conversor está previsto um custo inicial de R$ 300.