| 30/01/2006 16h49min
Desânimo e frustração. Este foi o sentimento do grupo do Brasil na Copa do Mundo de 1978 ao ver a semifinal que levou a Argentina à grande decisão, após vitória emblemática de 6 a 0 em cima do Peru. Segundo o ex-volante da Seleção Brasileira e da dupla Gre-Nal Batista, que estava entre os convocados do técnico Cláudio Coutinho, os atletas nem conseguiram dormir naquela noite, após saber da vitória dos hermanos.
– Não assistimos ao primeiro tempo, escutamos pelo rádio, esse foi o desespero, pois não tínhamos idéia do que estava acontecendo mesmo. Foi um sentimento de desânimo, frustração. Como só faltava um gol, no segundo tempo a pressão seria grande. Era realmente uma questão de tempo. Chegamos na concentração, vimos um pedaço do primeiro tempo, e aí garantimos que não teria mais volta. Desligamos a TV e fomos para os quartos, pois dormir, ninguém conseguia – afirmou Batista em entrevista online concedida nesta segunda ao
clicRBS.
Batista não se considera campeão
moral da competição, como afirmou o técnico da Seleção na época, o gaúcho Cláudio Coutinho. Na avaliação do ex-jogador, isto expressa ainda mais a frustração do grupo de 78.
– Não me sinto campeão, mas foi uma declaração até baseada numa frustração de uma desclassificação injusta. Todos estávamos revoltados por não termos disputado a final. E foi uma declaração baseada no estado de espírito de todos, principalmente do treinador.
O Brasil acabou vencendo a Itália na disputa pelo terceiro lugar e encerrando a participação na Copa de forma invicta.
Batista, que foi um dos destaques da grande era colorado na década de 70, justificou a ausência do companheiro de clube Falcão no grupo do Mundial por problemas de relacionamento do volente com o técnico Cláudio Coutinho.
Confira a íntegra da entrevista online:
clicRBS – A Argentina sediou a Copa em 1978
sob o comando governo militar. Como era o clima no país naqueles tempos? Você
chegou a notar alguma necessidade da população ou das autoridades em garantir a conquista da competição a qualquer custo?
Batista – A gente não tinha muita noção na cidade, pois vivíamos concentrados, longe da cidade, num hotel campestre. Só saíamos para treino ou jogo. Até por os jogos terem sido muito próximos um do outro, nós saíamos pouco. Mas existia sim uma certa manipulação nos horários dos jogos para facilitar, de repente, a conquista.
Pergunta de Internauta – O futebol evoluiu muito de 78 para cá. Está mais fácil jogar hoje ou na época era melhor (esquemas táticos, marcações, etc). O que mudou?
Batista – Acho que evoluiu a parte física, e caiu muito a qualidade técnica, porque depois de 79, abriu o mercado mundial e os nossos melhores jogadores foram embora. No Brasil, ficou até mais fácil de jogar, pois os jogadores voltam da Europa, por exemplo, e quando chegam aqui continuam sendo craques fazendo a
diferença.
clicRBS – Um empate contra a
Argentina na segunda fase era considerado um bom resultado por vocês? O grupo tinha consciência de que ali estava sendo disputado a vaga para a final?
Batista – Um empate naquele jogo era considerado um bom resultado, pois jogávamos no país deles, com estádios lotados de torcedores argentinos e contra uma excelente seleção. Não poderíamos ter noção de que estaríamos disputando a final, pois não tínhamos a consciência dos horários manipulados da fase seguinte.
clicRBS – Inicialmente, os jogos entre Brasil e Polônia e Argentina e Peru estavam marcados para o mesmo horário. Depois, isso foi modificado. Quando essa informação chegou a vocês e qual foi pensamento do grupo?
Batista – Chegou a nós depois de termos disputado o jogo contra a Argentina, e nosso pensamento foi de tentar fazer o maior número de gols possível no jogo contra a Polônia. Não achávamos que Argentina teria tanta facilidade como teve contra o Peru, porque até
ali, o Peru tinha sido um adversário
difícil para todas as seleções. Foi uma surpresa o resultado de 6 a 0.
clicRBS – Não faltou uma atuação mais forte da CBF nesse caso para impedir a alteração?
Batista – Isso era uma decisão para a diretoria, mas essa coisa de bastidores, de como a Argentina conseguiu manter essa mudança de horários, nós nunca ficamos sabendo. Sabemos que devia existir alguma pressão, mas não sei qual foi a posição da Fifa no momento. Estranho ter permitido essa mudança de regras durante a competição.
clicRBS – Na partida contra a Polônia, o Brasil fez o terceiro gol por volta dos 20 minutos do segundo tempo. Vocês achavam que o resultado era suficiente para garantir a vaga?
Batista – Nós pensamos que sim. Porque como já disse, o Peru tinha sido um adversário muito forte contra as outras seleções. E fazer 4 gols em uma Copa do Mundo, contra um adversário forte, nós achávamos muito difícil. Mas no primeiro tempo
do jogo Argentina e Peru, nós vimos que a situação era
outra. Ao final do primeiro tempo já estava 4 a 0, ou 3 a 0. (Nota do site: O primeiro tempo de Argentina e Peru terminou 2 a 0. Os últimos quatro gols foram marcados na segunda etapa).
clicRBS – Você assistiu a partida da Argentina contra o Peru? Qual era o seu sentimento e o do grupo na medida em que o jogo se desenrolava?
Batista – Não assistimos ao primeiro tempo, escutamos pelo rádio, esse foi o desespero, pois não tínhamos idéia do que estava acontecendo mesmo. Foi um sentimento de desânimo, frustração. Como só faltava um gol, no segundo tempo a pressão seria grande. Era realmente uma questão de tempo. Chegamos na concentração, vimos um pedaço do primeiro tempo, e aí garantimos que não teria mais volta. Desligamos a TV e fomos para os quartos, pois dormir, ninguém conseguia.
Pergunta de Internauta – Você acredita que a CBF teria força de reverter alguma situação à época e hoje como você vê a atuação da CBF?
Batista – Acho que não teria condições
de reverter. Eles acabaram tendo que se submeter a o que foi decidido, seguramente devem ter tentado. Hoje eu não convivo, vejo de longe, mas vejo que é muito rica, ao contrário daquela época. Hoje dinheiro não falta. Gostaria de viver um pouco na mordomia que as seleções têm hoje. Nada contra o conforto de hoje, falo principalmente pela concentração na Argentina, que era muito precária em comparação às de hoje.
clicRBS – Você acredita que tenha ocorrido armação naquela partida?
Batista – É difícil responder... O resultado, a atuação da seleção peruana, a indignação da torcida, afinal foi uma atuação ridícula, mas afirmar manipulação é difícil.
clicRBS – Muitos dizem que o terceiro lugar no Mundial de 78 foi muito mais do que aquela equipe merecia. Você concorda?
Batista – Não, de jeito nenhum. Essas afirmações e críticas se dão muito pela dificuldade da imprensa e do torcedor aceitar uma
colocação que não seja o primeiro lugar, mas não foi tão mal
assim. Principalmente porque nós ficamos invictos. Então uma seleção que não perde e é desclassificada, não é tão ridículo assim.
clicRBS – Você concorda com a declaração do técnico Claudio Coutinho de que o Brasil foi o campeão moral daquela Copa? Você se sente campeão?
Batista – Não me sinto campeão, mas foi uma declaração até baseada numa frustração de uma desclassificação injusta. Todos estávamos revoltados por não termos disputado a final. E foi uma declaração baseada no estado de espírito de todos, principalmente do treinador.
Pergunta de Internauta – Como repercutiu a não convocação do Falcão dentro do grupo? Ele poderia fazer a diferença a nosso favor naquela copa?
Batista – Foi uma surpresa ele não ter ido. Existia problemas de relacionamento treinador-jogador. Pelo menos foi o que soubemos na época. Mas seguramente acrescentaria muito. Faria diferença, pois qualidade é sempre um
acréscimo, mas não discutíamos muito a respeito em consideração
aos jogadores que estavam no grupo, porque se você dá muita ênfase a uma situação como essa, é um desrespeito aos jogadores que foram convocados no momento.
clicRBS – E você saberia dizer que tipo de problemas de relacionamento havia entre eles?
Batista – Era sobre pontos de vista. A respeito de jogar ou não jogar em determinada posição. Mais detalhes só o Falcão poderia dizer.
clicRBS – O time de 78 era limitado tecnicamente, mas chegou em terceiro lugar. A equipe de 82 era muito mais brilhante, mas não conseguiu chegar às semifinais. Você participou dos dois Mundiais. Quais as diferenças entre os dois grupos?
Batista – Eu não concordo que o de 78 fosse limitado tecnicamente, poderia não ser tão brilhante quanto o de 82, mas foi mais eficiente, tanto que o grupo de 78 ficou invicto.
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