| 30/12/2005 23h07min
Messi não acreditou no que via: Ronaldinho estava ao seu lado, escoltado por um empregado do Barça. Ali mesmo, no estacionamento do clube, surpreendendo a um garoto que não entendia como uma estrela internacional de seu porte poderia querer cumprimentar um jovem atleta que nem sequer havia participado de um treino com os profissionais. Mas Ronaldinho estava curioso. Desde sua chegada à Catalunha, ele escutava maravilhas de um argentino das divisões de base: faz gols fantásticos, tem uma habilidade incrível, passa pelos adversários como se estivessem parados. Ronaldinho ria, porque antes de se aproximar, havia gritado para Messi, de trás: O que faz aí, bichona?.
As coisas se aceleraram para Messi a partir daquele encontro. Enquanto Ronaldinho arrancava ovações no Camp Nou, Messi também brilhava nos juniores, sempre supervisionado por Carlos Rexach – o treinador que decidiu contratá-lo quando ainda media 1,40 m de altura e o Newell’s Old Boys, da Argentina, não lhe pagava o tratamento de 900 dólares mensais para superar os problemas de crescimento.
– Qualquer pessoa que entende de futebol teria constatado que se trata de um talento especial. No começo, pedíamos para que ele não driblasse tanto, que pensasse mais em função da equipe. Mas logo nos demos conta de que, em sua essência, Messi é como Ronaldinho. Ambos têm o dom de fazer coisas espetaculares com a bola e é uma bobagem pedir-lhes que não o façam – diz Rexach
O segundo encontro entre os dois aconteceu no vestiário do Barcelona, quando Messi e um grupinho de juvenis iriam treinar com os profissionais. Vestiário enorme, com duas regiões bem demarcadas. Uma, mais ampla, para as superestrelas. Outra, menor, para os juvenis. Outra vez, como no estacionamento, lá vem Ronaldinho: O que faz aí, bichona? Venha, venha aqui conversar conosco.
Desde então, Ronaldinho adotou Messi. É meu irmão menor, diz. Desde então, compartilharam diferenças e coincidências.
– Como eu era muito franzino, no Brasil diziam que eu não ia vencer no futebol. Mas graças a isso, eu não perdi agilidade. E depois fiquei forte naturalmente. Cresci 10 centímetros entre os 20 e os 21 anos – contou-lhe o gaúcho.
– Me diziam o mesmo. Mas ninguém queria bancar o tratamento, até que apareceu o Barcelona. Em 30 meses, cresci 29 centímetros – respondeu o argentino.
E a amizade entre os dois cresceu, regada por vários gestos de Ronaldinho. Exemplos? O gaúcho o enxertou no grupo de brasileiros – Sylvinho, Belletti, Thiago Motta, Edmilson e Deco –, com voz e voto para as brincadeiras. No dia 24 de outubro, quando Messi estreou oficialmente no Camp Nou substituindo justamente a Ronaldinho, o brasileiro o abraçou longamente e lhe disse algumas palavras ao pé do ouvido. E durante um amistoso, teve um gesto surpreendente: tirou a correntinha de ouro e rubis, com um enorme R, e pediu a Messi que cuidasse dela.
Jorge, pai de Lionel Messi, diz que Ronaldinho tem sido muito generoso com seu filho.
– Os catalães também o tratam bem, mas com os brasileiros tem uma relação especial. Sylvinho se comporta como um pai. E Deco é fora-de-série. Leva meu filho para cortar o cabelo em uma barbearia onde vão os brasileiros, e o acompanha até para comprar roupas.
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