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 | 31/12/2007 15h29min

Felipão: "Poderia ser um pouco mais político"

Entrevista: Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção portuguesa

Atualizada às 17h51min Luis Henrique Benfica  |  luis.benfica@zerohora.com.br

São quase cinco anos de Europa. Luiz Felipe Scolari, 59, lembra em detalhes o 13 de janeiro de 2003, quando embarcou para Lisboa e assumiu Portugal na tentativa de repetir a trajetória do carioca Oto Glória. Esteve perto. Foi vice da Euro/2004, classificou-se para a edição de 2008 e ficou em quarto na Copa de 2006, na Alemanha - Oto foi terceiro em 1966.

O gaúcho superou a resistência a um técnico "estrangeiro" e vê motivos para renovar contrato - o atual se encerra em julho, após a Eurocopa. Prova de que superou a crise em que se envolveu depois de agredir o zagueiro sérvio Dragutinovic em setembro, ao final de uma partida pelas Eliminatórias da Euro/2008.

A volta ao Brasil, contudo, também é cogitada, "desde que o projeto seja interessante".

Felipão passará o Réveillon em Gramado, com a mulher, Olga, e a sogra, Aurélia. Dia 3, retorna para Cascais, balneário a 25 quilômetros de Lisboa, onde mora de frente para o mar com os filhos Leonardo, 23 anos, formado em Direito em Portugal, e Fabrício, 16. Antes do Ano-Novo, o técnico conversou com Zero Hora. Leia trechos:

Zero Hora - Suas idéias já são melhor aceitas em Portugal?

Felipão - Não sei se são aceitas melhor ou não, mas tenho que escolher de acordo com minha observação. Há jornalistas que acham que A ou B merecem chance. Mas eu escolho, como sempre fiz no Brasil. Tenho que responder com os resultados se fiz o certo.

ZH - O senhor ainda enfrenta problemas com a imprensa?

Felipão - Às vezes, pela minha forma de agir, muito frontal. Eu poderia ser um pouco mais político. Mas não consigo, não adianta.

ZH - Há perspectiva de renovação com Portugal?

Felipão - As coisas se desenrolarão na disputa da Euro. Em 2004, na Euro, e em 2006, na Copa, renovei em meio a competições.

ZH - Com o seu desempenho em Portugal, o técnico brasileiro ficou melhor aceito na Europa?

Felipão - É. Mas uma das coisas que o europeu diz é que, como o Brasil tem muitos jogadores de boa qualidade, é fácil ser técnico no nosso país. Só que, quando você tem muita qualidade e não sabe escolher ou organizar, é bem pior.

ZH - Você se sentiria motivado a treinar um clube brasileiro?

Felipão - Às vezes, conversamos sobre isso em casa. Já saí 200 vezes do Brasil (trabalhou na Arábia e no Japão) para treinar fora e voltei. O dia em que tiver uma proposta dentro de uma linha que eu ache interessante, irei motivado.

ZH - Algum projeto brasileiro o motivaria hoje?

Felipão - Há bons times, bons projetos. O próprio Palmeiras fez boa parceria. O Mano fez bela troca, para um time (Corinthians) que tem uma torcida espetacular. Ele tem possibilidade de crescimento espantoso em 2008. Tenho conversado com o Dr. Raul Régis (presidente do Conselho do Grêmio), e ele me fala dos projetos do Grêmio, da arena, de futuros investimentos em atletas. O São Paulo tem estrutura espetacular. A gente é que faz o ambiente depois.

ZH - Algum clube brasileiro o procurou em Portugal?

Felipão - Sim. O pessoal do Corinthians esteve uma ou duas vezes em Lisboa. Continuo tendo bom entrosamento com o pessoal do Palmeiras. De vez em quando, eles perguntam: "Não vai voltar? A prioridade é nossa".

ZH - Qual o grande técnico brasileiro da atualidade?

Felipão - O Muricy Ramalho realiza grande trabalho no São Paulo. O Mano (Menezes) fez trabalho espetacular no Grêmio. O Renato (Portaluppi) surge muito bem. O Wanderley Luxemburgo se mantém: ganha um título por ano.

ZH - O que acha do Abel Braga?

Felipão - Gosto do Abel. Só que cometeu o erro de seguir no Inter quando foi campeão do mundo. Deveria sair e voltar depois de três, quatro anos - se quisesse voltar. É um bom técnico, tem mercado na Europa, principalmente França, Espanha e Portugal. Fez nome não só como jogador. É respeitado, poderia ter aproveitado. Mas não quis.

ZH - Qual sua opinião sobre a Copa do Mundo no Brasil?

Felipão - Acho ótimo. O Brasil tem condições, desde que cumpra o solicitado pela Fifa. Ela exige demais. Se cumprir o que é exigido, será benéfico para o futuro do país.

ZH - A Fifa também pensa em controlar a saída de jogadores jovens do Brasil. É possível?

Felipão - Ela pode controlar. O problema é a lei. Dizem que os pais precisam ter trabalho no Exterior para que o filho se transfira. Os clubes empregam os pais como empacotadores de supermercado, ganhando mil euros. É melhor do que ficar aqui (no Brasil). Todos sabem que o clube burlou a lei. Tem que criar leis que não possam ser dribladas.

ZH - O lançamento de Cristiano Ronaldo foi sua grande contribuição para os portugueses?

Felipão - Pelo que vinha apresentando, foi normal chegar à seleção. É um menino de boa índole, em dois ou três anos será o capitão de Portugal. É ídolo no mundo todo, mas muito receptivo ao que indicamos como caminho correto.

ZH - Acha que Ronaldinho deve sair do Barcelona?

Felipão - Seria melhor para ele e o Barcelona. Mas, mudando ou não, seguirá entre os cinco melhores do mundo por mais sete ou oito anos. Ele joga muito.

ZH - O Felipão ficou milionário em Portugal?

Felipão - Está brincando? Não estou comprando nada, só estou pagando as contas (risos).

Jefferson Botega  / 

Felipão cogita voltar ao Brasil, "desde que o projeto seja interessante"
Foto:  Jefferson Botega


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