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 | 11/02/2007 10h19min

Motim de controladores pode ter causado apagão aéreo

Acusação foi divulgada por relatório do Comando da Aeronáutica, responsável pelos controladores

Inquérito Policial Militar (IPM) do Comando da Aeronáutica que apurava as responsabilidades pela operação-padrão desencadeada pelos controladores de vôo no fim de outubro do ano passado acusa a categoria de ter realizado um motim — crime grave nas Forças Armadas — planejado em um encontro secreto no Parque da Cidade naquele mês. Porém, sem apontar culpados específicos, o inquérito não deverá resultar em punições. Segundo algumas fontes, o vazamento desse IPM visaria a fortalecer a tese de manter o setor sob controle militar.

O conteúdo do IPM foi revelado na edição de ontem do jornal Correio Braziliense. O Comando da Aeronáutica não comentou os detalhes, limitando-se a informar que o processo de investigação realmente foi concluído. Controladores de vôo confirmaram a realização da “assembléia” no parque. Nela, cerca de 60 profissionais quase aprovaram uma greve, que acabou substituída pela operação-padrão. O IPM incluiria ainda, segundo o Correio, panfletos anônimos, convocando os controladores para a paralisação parcial.

Procurados, Jorge Nunes Oliveira, da associação dos controladores militares no Rio, e Wellington Rodrigues, da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, não retornaram as chamadas.

Os militares não podem ser sindicalizados ou ter qualquer representação legal da categoria profissional. Isso deve-se à questão da hierarquia nas Forças Armadas e, justamente por isso, uma rebelião — ou motim — é considerada insubordinação, um crime grave no Código Penal Militar.

O IPM é um reflexo direto do caos aéreo posterior à queda de avião da Gol, em 29 de setembro, que matou 154 pessoas. Após os depoimentos dos pilotos do jato Legacy que se chocou com a aeronave, os controladores passaram a temer que fossem responsabilizados pelo acidente. O clima de tensão levou à reunião em Brasília, que sedia o Cindacta 1, o maior centro de controle aéreo do Brasil.

Queixosos do ritmo e das condições de trabalho impostos pela Força Aérea Brasileira (FAB), os controladores decidiram trabalhar estritamente dentro das recomendações internacionais e monitorar no máximo 14 aviões por vez. Além disso, decidiram cumprir a carga horária limite e não aceitar trabalhar com quaisquer problemas de saúde ou estresse. Para chamar a atenção para seus problemas, em vários dias aumentaram o espaçamento entre pousos e decolagens. Isso estrangulou a capacidade de controle do tráfego aéreo, gerando atrasos e cancelamentos de vôos em todo o país.

Para controladores, o vazamento do conteúdo do IPM é uma estratégia do Comando da Aeronáutica:

– É uma reação para mudar o foco do problema, que é a desmilitarização do setor – afirma um profissional.

Outro controlador diz que o encontro no Parque da Cidade não foi uma assembléia nem teve conotação política, para tentar derrubar um dirigente da Aeronáutica. Mas deixa escapar que a iniciativa visava a dar outra dimensão ao assunto, extrapolando o universo militar, e conquistar novos interlocutores:

– Nossos superiores não nos ouvem. O caminho foi falar com o Waldir Pires (ministro da Defesa).

Os controladores acreditam que a estratégia foi parcialmente bem-sucedida. Embora alguns defendam a retomada da operação-padrão, para que as reivindicações não caiam no esquecimento, a categoria prefere aguardar o governo federal. Espera-se que depois do carnaval o governo anuncie algumas medidas para o setor, como a criação de uma carreira específica e o início da desmilitarização.

A categoria quer ficar ligada ao Ministério da Defesa, à Casa Civil ou à Infraero, além de equiparar salários aos de policiais federais. Quer, ainda, que a carreira seja de nível superior.

AGÊNCIA O GLOBO
 
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