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 | 02/12/2005 09h52min

Ex-mulher de Dirceu diz que colocaria a alma no fogo por ele

Clara Becker declarou estar chateada com a cassação

Os lojistas Carlos Henrique Gouveia de Melo (identidade falsa do militante esquerdista banido José Dirceu) e Clara Becker viveram juntos por cinco anos, entre 1975 e 1979, em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Tiveram um filho, José Carlos Becker de Oliveira e Silva, o Zeca, hoje com 27 anos e prefeito da cidade. No final de 1979, o quietão Carlos Henrique confessou a verdadeira identidade à mulher: era um incendiário ex-líder estudantil, preso em 1968, libertado um ano depois e expulso do país em troca da soltura do embaixador americano Charles Elbrick, seqüestrado por grupos de esquerda. Na conversa, Carlos Henrique, dono de uma loja de roupas, revelou que o nome e o rosto eram falsos. Zé Dirceu usava uma prótese implantada em Cuba que tornou seu nariz adunco. Vivia sob disfarces, porque temia ser preso de novo pela ditadura. Ontem à tarde, Clara, 64 anos, dona de duas lojas de confecções em Cruzeiro, conversou por telefone:

Zero Hora - A senhora acompanhou a sessão da Câmara que cassou José Dirceu?

Clara Becker - Assisti um pouco pela TV, mas não até o fim. Sabia que ele já estava condenado pelos dobermanns com dentes afiados. É uma perda para o Brasil, que precisa de gente inteligente e honesta na política. Dirceu faz política para tentar melhorar este mundo. Agora, está sem mandato, com as mãos amarradas.

ZH - A senhora conversou com ele depois da cassação?

Clara - Não. Estou muito chateada. Conversamos muito antes. Ele tinha esperança. Eu telefonava e ele dizia: "Fica calma, fica calma". Ele sabe que sou nervosa e não aceito injustiças. Dirceu não é corrupto. Conheço ele e a família dele. Não levam a vida de quem está envolvido com corrupção. Não boto a minha mão, boto a minha alma no fogo por ele. Vivi cinco anos com este homem.

ZH - Quando José Dirceu revelou a verdadeira identidade?

Clara - Foi no final de 1979, depois da anistia. No final do dia, depois do trabalho, ele me chamou. Eu entendi. Eu falei: "Carlos Henrique, se você não é ladrão nem bandido, não tem problema". Nunca me senti traída. Ele estava cuidando da vida dele. Os que mostraram a cara foram mortos. Por um bom tempo, continuei chamando Dirceu de Carlos Henrique. Só muito depois comecei a chamá-lo de Dirceu.

ZH - Depois da cirurgia plástica em que retirou a prótese do nariz, a senhora não estranhou o rosto de José Dirceu?

Clara - Ele mudou as feições, ficou mais bonito. Quando usava a prótese, tinha um nariz feio. Mas eu nunca desconfiei. Eu tinha 30 e poucos anos. Ele ajudava tanto os pobres que a gente chegava a brigar. Ele queria ajudar a todos, e eu era mais dura.

ZH - Ele pagava pensão para o filho?

Clara - Não sou mulher de pedir pensão. Trabalho desde os 10 anos e não preciso de homem que sustente meu filho. Vivíamos juntos, não éramos casados (formalmente). Quando Dirceu veio morar aqui em Cruzeiro do Oeste, ele abriu a loja dele. Eu já tinha a minha loja, pequena, com meia porta. Ele foi embora em 1979 para voltar a fazer política. Nos separamos, mas continuamos conversando. Ele já prometeu para o meu filho passar uns dias aqui em casa. E será muito bem recebido.

ZH - José Dirceu foi sua grande paixão?

Clara - Tive outra paixão antes. Ele foi a segunda e última. Ele foi meu primeiro e único marido. Nunca mais casei. Preciso trabalhar e cuidar dos meus netos. Dirceu é um homem bom, compreensivo. Sei que ele não é corrupto. Ele me disse que vai se virar. É advogado. Sabe o que fazer para reconstruir a vida dele.

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