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novembrada  | 27/11/2009 15h06min

Placa que simboliza a Novembrada é guardada como relíquia

Desde o último 23 de novembro o objeto está na Casa da Memória em Florianópolis

Marcos Espíndola  |  marcos.espindola@diario.com.br

Se o propósito dos assessores do Palácio do Planalto era popularizar a imagem do presidente-general João Baptista Figueiredo, não poderiam ter sido mais infelizes ao propor uma homenagem aos 90 anos da Proclamação da República, na figura do Marechal Floriano Peixoto, com uma placa em bronze que fora fixada embaixo da figueira da Praça XV de Novembro, no Centro de Florianópolis.

A resposta veio a altura daquilo que os florianopolitanos entenderam como um ultraje e a lâmina virou símbolo da ira popular durante a caótica visita de Figueiredo naquele 30 de novembro de 1979.

Para situar-nos na história vamos retroceder ao fatídico ano de 1894, quando após sufocar o levante federalista em Santa Catarina, Floriano Peixoto ordenou uma severa "limpeza" na então Nossa Senhora do Desterro. Como castigo, dezenas de ilustres catarinenses foram presos e fuzilados na Fortaleza de Anhatomirim.

Mas a humilhação maior viria com a decretação, pelo então governador Hercílio Luz e com a aprovação da Assembleia Legislativa, da mudança do nome da capital catarinense para Florianópolis, numa homenagem ao seu maior algoz.

O propósito de Hercílio Luz, atestam pesquisadores contemporâneos, era aplacar a sede de vingança do governo central e cessar a perseguição em território catarinense. Daí a contrariedade entre o meio político catarinense com a surpresa bolada pelo governo Figueiredo.

A placa foi forjada em Brasília, sem o conhecimento das autoridades locais, com os seguintes dizeres: "Homenagem do presidente João Figueiredo A (sic) Marechal Floriano Peixoto no 90º Aniversário da República".

Enviada a Florianópolis foi colocada em um pedestal para ser inaugurada pelo presidente. Só que, por conta da confusão generalizada durante a visita de Figueiredo, a lâmina foi deixada a própria sorte e acabou alvo dos manifestantes que a arrancaram, calcinaram em uma pequena fogueira e depois a jogaram-na no chão para que fosse amassada.

A lâmina ainda quente e já envergada foi carregada por um grupo de pessoas como um troféu e atirada na porta do Palácio Cruz e Sousa, sede do governo catarinense e marco zero da confusão que ficou conhecida como Novembrada. Além de renegar a homenagem os manifestantes fizeram do ato uma tomada de repúdio à ditadura que agonizava.

— Eu participei da missão da Casa Militar em Brasília para preparar a visita do Figueiredo e em nenhum momento a assessoria da Presidência da República falou sobre esta homenagem, pois com certeza nós os orientaríamos a mudarem de ideia — lembra Nilo Marques de Medeiros Filho, coronel da Polícia Militar, hoje na reserva, e que na época era major e responsável pela segurança do Palácio Cruz e Sousa naquela manhã.

Foi Nilo quem pegou a placa na frente do Palácio e a guardou na Casa Militar. Lá ficou até 1983, quando então, por precaução e temendo pelo destino daquela relíquia histórica o militar pediu para guardá-la em casa. A partir daí a tal Placa da Novembrada entrou para o rol das lendas e causos da Ilha.

Muitos a davam como desaparecida ou destruída até que em 1995 seu paradeiro foi revelado. Nilo a apresentou durante um julgamento histórico sobre Floriano Peixoto promovido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A peça foi uma espécie de prova de acusação contra o Marechal de Ferro.

Nos últimos cinco anos, Nilo Marques tentou devolver a relíquia para o Museu Cruz e Sousa e estranhamente recebeu negativas. Até que, por ocasião da celebração das três décadas da Novembrada, articulou-se a doação da placa à Casa da Memória, o que ocorreu no último dia 23 durante uma Sessão Solene da Câmara de Vereadores da Capital.

Além da placa, foi entregue também documentos da Polícia Federal (PF) sobre a autuação dos sete estudantes que lideraram a Novembrada e que foram enquadrados pela Lei de Segurança Nacional.

 
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