novembrada | 27/11/2009 12h04min
Não poderia haver maneira mais barulhenta e condizente para se institucionalizar a Confraria do Senadinho do que naquela manhã turbulenta de 30 de novembro de 1979.
Enquanto o alvorosso já corria solto entre o presidente João Figueiredo e os manifestantes em frente ao Palácio Cruz e Sousa, o advogado Edy Leopoldo Tremel e um grupo de signatários da recém-criada agremiação aguardavam o presidente João Baptista Figueiredo no Ponto Chic, tradicional ponto de encontro da Ilha, sede física do Senadinho.
Figueiredo foi o primeiro homenageado com o diploma de "senador", inaugurando uma tradição que se estenderia por mais de duas décadas, condecorando mais de 400 personalidades.
— A ideia era incentivá-lo no
seu propósito de dar seguimento à abertura política naquela época. Mas depois
daquilo o Senadinho ficou conhecido como um dos marcos da luta pela redemocratização e passamos a ficar conhecidos desde então — lembra Tremel, hoje com 81 anos.
De fato, na base do "prendo e arrebento", Figueiredo levou a cabo a distensão política e gradual deflagrada por seu antecessor, Ernesto Geisel.
Em agosto de 1979, Figueiredo sancionou a Lei da Anistia e permitiu o retorno dos exilados. E numa campanha para popularizar sua imagem, empreendeu uma série de visitas às principais cidades brasileiras. Florianópolis, para o seu azar, não ficou de fora.
Tremel lembra que por alguns instantes, enquanto saboreava o café no interior do Ponto Chic, o presidente descontraiu e agradeceu a homenagem do Senadinho, mas tão logo deixou o bar ele e seu staff bateram de frente com os manifestantes que o cercaram.
Tremel faz uma correção histórica sobre aquele confronto. Segundo o advogado, o Ministro das Minas e Energia César Cals, que
acompanhava o presidente, não foi agredido com o
famoso "tapa na orelha", mas caiu após tropeçar em um floreira que ficava bem em frente ao Ponto Chic.
— E não tiraram a floreira por causa do César Cals, mas porque de fato era uma armadilha, causando acidentes corriqueiros — explica.
O Ponto Chic foi fechado, assim também como a própria Confraria do Senadinho que há algum tempo não promove mais suas solenidades de diplomação. Muitos dos seus confrades já morreram, mas o espírito pitoresco da agremiação continua e seu valor histórico, para Tremel, merece ser eternizado.
— Eu gostaria que fosse colocada no Senadinho uma placa marcando aquele episódio, quando há 30 anos o povo catarinense marcou o seu desagrado com a ditadura — sugere Tremel.
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