Consumo Consciente | 05/07/2011 07h11min
Em novembro de 2008, um vigilante de 34 anos chamado Jdimytai Damour foi pisoteado até a morte em uma loja do Walmart em Valley Stram, Nova York (EUA), por algo descrito por jornais locais como um contingente "fora de controle" de 2 mil compradores "em frenesi" que haviam se enfileirado durante toda a noite na promessa de uma grande liquidação. Com a multidão cantando "empurrem as portas", os funcionários escalaram máquinas de refrigerante para escapar do estampido resultante.
Siga o @zhnossomundo no Twitter
Mesmo quando a polícia declarou que a loja ficaria fechada, pois havia se tornado uma cena de crime, compradores raivosos reclamaram com os policiais. Um deles gritou que estava na fila desde a manhã do dia anterior. As barganhas em oferta incluíam uma televisão de alta definição de 50 polegadas com tela de plasma por US$ 798.
Rachel Botsman, uma inovadora social que já apresentou suas ideias em Downing Street e diante de executivos da Microsoft e do Google, reconta o evento em seu livro What's Mine is Yours: How Collaborative Consumption is Changing the Way We Live (O Que é Meu é Seu: Como o Consumo Colaborativo Vai Mudar o Nosso Mundo).
- É uma metáfora triste e fria para a nossa cultura. Uma multidão de consumidores exaustos derrubando portas e pisando em pessoas simplesmente para comprar mais coisas - afirma Rachel.
Ideia relativamente antiga
O livro fala sobre os excessos, a futilidade e as contradições do consumo de massa, mas não se junta às tropas habituais do anticonsumismo. Em vez disso, o livro é um apelo para que consumamos de maneira "mais esperta", nos distanciando do conceito obsoleto de propriedade direta em direção a um conceito em que compartilhamos, trocamos e alugamos bens que incluem não apenas os de consumo, mas também nosso "tempo e espaço".
A noção de consumo colaborativo não é, ressalta Rachel, nova. Ela está por aí há séculos. Mas a chegada das redes sociais na internet e dos smartphones com localizadores geográficos deram força a um conceito que já ganhava rapidamente primazia em função da pressão das crises ambiental e econômica. Ecoando o conceito japonês de caça implacável pela erradicação de ineficiências em qualquer sistema, o consumo colaborativo pretende explorar o valor antes ignorado ou despercebido em todos os nossos bens ao eliminar o desperdício e gerar demanda por bens e serviços que, em caso contrário, ficariam ociosos.
Rachel usa o exemplo dos automóveis para mostrar como o consumo colaborativo já faz sentido:
- Noventa por cento dos carros são subutilizados por seus proprietários. E 70% das jornadas são feitas por uma pessoa só. Então agora vemos empresas de clubes de carros como a Streetcar se provando muito populares nas cidades. Em Munique, a BMW tem um esquema em que deixa seus membros pagarem carros por minuto em vez de por hora - afirma ela, direto de sua casa na Austrália.
Uma aposta na confiança
Se a internet e as redes sociais atuam como lubrificantes para o consumo colaborativo, então a confiança é a cola que junta todos os elementos. Nada disso funcionaria se não tivéssemos fé de que a pessoa invariavelmente anônima na outra ponta da transação vai cumprir com sua promessa, ou seja, pagar por seus bens ou serviços, ou entregar o que anunciou.
- Coisas muito interessantes acontecem em relação à confiança no momento. Não confiamos em monopólios centralizados, mas confiamos em sistemas decentralizados. Então vemos sites peer-to-peer de empréstimo de dinheiro, como o Zopa, provando-se populares, em comparação com os bancos. "Círculos de confiança" são construídos online para coisas como compartilhamento de habilidades, aluguel de espaços e gerenciamento de tarefas. O eBay nos mostrou que transações baseadas em confiança funcionam online. Os EUA está 18 meses à frente da Grã-Bretanha com isso, mas sites como o TaskRabbit e o Hey, Neighbor! redefinem o que é um vizinho - sentencia Rachel.
Curta o Nosso Mundo no Facebook
Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2011 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.