Gente | 22/06/2011 12h53min
No desenho animado Capitão Planeta, sucesso entre a criançada na década de 90, a combinação entre terra, fogo, vento, água e coração protege o mundo. Em Carazinho, no norte do Rio Grande do Sul, o respeito ao ambiente não cria super-heróis, mas bem que Ivandro Loeff, 42 anos, poderia ser um. Afinal, nas mãos dele, tudo que iria para o lixo volta para a natureza.
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Ao ajudar os vizinhos na limpeza de jardins, Loeff viu nos sacos de grama, galhos e terra a oportunidade para uma experiência gratificante. Três anos depois, transformou a própria casa em uma fábrica para processar e vender adubo orgânico. Desde que iniciou o negócio, há quatro anos, já vendeu 14 mil quilos do produto e lucrou R$ 7,8 mil.
- Tudo o que jogam fora, eu reaproveito - afirma.
A produção caseira começou por acaso, quase como brincadeira, mas virou trabalho sério. Aos poucos, ele passou a estocar no pátio pedaços de galhos, restos de grama cortada, cascas de frutas e outros compostos naturais. Hoje, a montanha de dois metros de altura esconde, ao fundo, uma mistura pronta para virar adubo.
A lição de Loeff é simples: aproveitar a natureza. O lucro obtido com o produto complementa a renda familiar e ajuda até a pagar parte da mensalidade da filha, que estuda Medicina. Ele conta que aprendeu a preservar o ambiente desde criança e acredita que, se cada um fizer sua parte, o mundo será melhor.
- O ser humano despreza muitas riquezas que poderia reaproveitar - observa.
O sonho de criar cooperativas
Criativo, Ivandro Loeff fez fama no bairro Loeff, um dos mais nobres de Carazinho. Quando sai pelas ruas, aponta com o dedo cada residência em que usam seu adubo. Ao mesmo tempo, mira montes de lixo espalhados pelas esquinas para transformar em produto natural em casa.
O material estocado fica depositado no pátio por até quatro meses. Então, a terra é levada a uma caixa de madeira com uma peneira de ferro na superfície. Ali, é misturado ao pó extraído de materiais ferrosos e brasas de lareiras ou churrasqueiras. Em seguida, passa pela peneira e vira adubo.
O que sobra é depositado em outro monte e misturado a resíduos orgânicos. Meses depois, volta para a peneira. Loeff ainda guarda no pátio uma máquina manual que inventou para facilitar o processo de separação. Na espécie de caixa rotatória, ele gira uma manivela e extrai o adubo mais rapidamente.
Visionário, Loeff sonha em levar a ideia adiante. Segundo conta, seria possível criar cooperativas para produzir o adubo em maior escala e comercializar. Para isso, busca apoio de empresários e do poder público. Entre os argumentos estão a geração de emprego, a preservação do ambiente e a contribuição para a limpeza urbana.
- Só depende de vontade, mas isso a gente ensina. O investimento não é alto e o lucro vem para todos - garante.
Entre mansões, um paraíso natural
Próximo a mansões imponentes e luxuosas no bairro Loeff, uma casa irrompe em meio à natureza. Dentre galhos e árvores, a residência retrata a paixão de uma família pelo ambiente. Na entrada, um caminho esculpido em pedra conduz à porta principal.
As paredes da sala são de pedras que seriam descartadas e foram trazidas por Loeff da rua ou obtidas com ajuda de amigos. Ele começou a arrecadar o material em 2004 e, desde lá, vem aperfeiçoando e ampliando o lar de 180 metros quadrados de área construída.
Na sala de estar, o piso foi feito com cerca de 500 lajotas de cerâmica sem serventia obtidas em uma empresa de material de construção. No chão, elas desenham um mosaico em forma de diamante. A base do telhado é feita com galhos de angico plantado por ele mesmo.
- Eu podei a árvore, mas não a derrubei. Depois, fiz um acabamento especial - conta.
Quem olha para cima encontra outra surpresa: um teto solar construído a partir da adaptação de para-brisas de ônibus. A sucata readaptada foi obtida na empresa de transporte em que Loeff trabalhou. No telhado, a chaminé foi construída a partir do tanque de combustível de um caminhão.
Mas as inovações não param por aí. A mesa da cozinha foi esculpida em pedaços de galhos de angico, e a escadaria que dá acesso ao segundo piso também foi feita a partir de árvores. Se pudesse, talvez Loeff morasse com a mulher e as duas filhas na natureza. Mas, no meio da cidade, ele criou seu paraíso particular.
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