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Agricultura  | 21/06/2011 07h11min

"Estamos com as emissões acima do pior cenário de todos"

Entrevista: Eduardo Delgado Assad, 53 anos, secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, pesquisador da Embrapa e um dos coordenadores do estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira

Pedro Moreira  |  pedro.moreira@zerohora.com.br

Nosso Mundo Sustentável - Que medidas o agronegócio tem de tomar para tentar reduzir os impactos do aquecimento?
Eduardo Delgado Assad -
A primeira medida foi que o agronegócio parou de dizer que não existe mudança climática, o que já foi um grande avanço. Depois de 10 anos negando, começaram a ver que a coisa não é bem assim, que é preciso arregaçar as mangas e buscar algum tipo de adaptação. O segundo ponto é um investimento razoável em melhoramento genético para se buscar cultivares adaptadas ao aumento de temperatura e deficiência hídrica. Por fim, é preciso incentivar boas práticas agrícolas, de maneira que elas permitam aumentar a quantidade de água no solo.

Nosso Mundo - Em que pé está essa mudança de paradigma do agronegócio brasileiro? Há um encaminhamento para uma postura responsável?
Assad -
Eu acho que sim. Recebemos, em maio, o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. Esse plano é conhecido como ABC (Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), e começa promovendo as boas práticas, como melhoria de pastios, redução de área degradadas, integração lavoura-pecuária, utilização de resíduos sólidos, plantio direto e reflorestamento. São ações que vão na direção de uma agricultura equilibrada.

Nosso Mundo - Podemos afirmar que o mapa da agricultura do Brasil vai mudar nas próximas décadas?
Assad -
Mantida essa tendência de aquecimento, sim. Se trabalharmos para reduzir as emissões, essa mudança será mais lenta. O que estimamos que possa acontecer no Brasil com o café e com a cana foi observado nos últimos cem anos nos Estados Unidos em relação à laranja, e, na França, no que diz respeito ao período de colheita da uva.

Nosso Mundo - Confirmada a tendência de elevação da temperatura, corremos risco de escassez de alimentos no país?
Assad -
Se mantivermos uma política de inação, se o setor agrícola acreditar que nada está acontecendo, sim. Se partirmos para melhorar a eficiência da produção, com boas práticas, tomando muito cuidado com a produção de água, sim, iremos manter a produção sem risco de desabastecimento.

Nosso Mundo - No estudo que o senhor coordenou sobre o tema, há dois cenários: um otimista e outro pessimista. Na sua avaliação, caminhamos para qual deles?
Assad -
Os dados de emissão que recebemos hoje dizem que o meu cenário catastrófico, hoje, é bonzinho. Estamos com as emissões acima do pior cenário de todos.

Nosso Mundo - Mas vamos conseguir diminuir as emissões?
Assad -
Esperamos que sim, o esforço está sendo imenso, e a agricultura tem um papel fundamental. Se conseguirmos aumentar a produção agrícola com redução de emissões, daremos um exemplo ao mundo. Tecnicamente é possível e o dinheiro está no banco. É uma questão de entendimento do processo que está ocorrendo. Estamos em uma virada importante, que nos trará soluções para a agricultura.

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Divulgação / 

Eduardo Delgado Assad defende ações de mitigação do aquecimento
Foto:  Divulgação


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