Saúde | 06/04/2011 08h50min
A função de um conservante é permitir que o seu hidratante possa permanecer no banheiro por, em média, dois anos sem a invasão de fungos, microorganismos ou a possibilidade de infecções. Normalmente, pouco se fala no nome científico dessas substâncias e em possíveis implicações no corpo humano e no planeta. Isso mudou quando um estudo colocou em xeque a ação de um dos conservantes mais usados em cosméticos e difundidos mundo afora: os parabenos.
A polêmica começou nos Estados Unidos em 2004 e rapidamente chegou à Europa. Apenas recentemente, muitos brasileiros passaram a encontrar produtos com a indicação "livre de parabenos" em alguns rótulos, com muitos vendedores salientando essa "vantagem" para seus clientes, geralmente sem nem saber o que isso significa.
Publicada no Journal of Applied Toxicology, a pesquisa detectou a presença de parabenos em tumores de mama e foi suficiente para que empresas e consumidores passassem a conhecer e temer o conservante. Para o poderoso órgão americano Food and Drug Administration (FDA), agência que regulamenta alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, mesmo relacionando os parabenos com propriedades semelhantes ao estrógeno, hormônio feminino, o estudo tem lacunas importantes.
– Ele não mostrou que os parabenos efetivamente poderiam causar o câncer – afirma o órgão, em comunicado oficial.
A professora de Cosmetologia do curso de Farmácia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e vice-presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia, Vânia Leite, concorda com o questionamento da FDA e levanta outra questão importante:
– Há muitos estudos sobre os parabenos. Substitui-los por novos conservantes é um risco, pois implica usarmos substâncias que conhecemos menos ainda e também podem causar algum tipo de dano.
Já a organização americana Women's Voices for the Earth (WVE, Vozes das Mulheres para a Terra, em tradução livre), que trabalha para eliminar produtos químicos tóxicos que podem afetar a saúde feminina, entende que a presença de parabenos em biópsias ou na urina de adultos é, pelo menos, um indício importante de que os químicos estão indo dos produtos para o corpo.
– Considerando a possível desregulação endócrina causada pelos parabenos e a alta exposição das mulheres aos cosméticos, a média é de nove a 15 produtos por dia, a situação é alarmante – acredita Erin Switalski, diretora executiva da WVE.
A sugestão da WVE é a substituição desses químicos por outros equivalentes – o que já vem sendo feito por várias empresas – ou, ainda, a redução do prazo de validade dos cosméticos, para que menos conservantes sejam utilizados.
O que são os parabenos
— Quimicamente, os parabenos são ésteres do ácido p-hidroxibenzóico que começaram a ser usados antes da década de 50.
— Os tipos mais comuns hoje são metil, etil, propil e butilparabeno.
— Costuma-se usar mais de um parabeno na conservação de cosméticos —ou a mistura de parabenos com outros conservantes —, por isso não é tão simples definir qual produto tem qual tipo.
— Pode haver parabenos em alguns alimentos cremosos como molhos prontos, cremes ou pudins.
— No Brasil, a Anvisa permite uma concentração máxima de 0,8% de parabenos em misturas e de 0,4% quando os parabenos são o único conservante do produto.
— De acordo com a FDA, a maioria das principais marcas de desodorantes e antitranspirantes hoje não contêm parabenos.
— É fácil identificar a presença de parabenos buscando pela nomenclatura internacional (methylparaben, propylparaben e butylparaben) nas embalagens dos produtos.
— Um dos substitutos mais comuns dos parabenos na conservação dos cosméticos é uma mistura de isotiazolinonas e a clorexidina. Existem muitos outros conservantes, mas alguns especialistas não os consideram tão eficazes quanto os parabenos.
Por que o butilparabeno é o vilão?
Essa substância tem uma cadeia carbônica muito longa, o que faz dela um composto mais solúvel em gordura. Por esse motivo, o butilparabeno tem uma capacidade maior de se depositar na gordura corporal, podendo penetrar e se fixar com facilidade na pele. Isso é mais evidente quando se pensa em um creme em contato direto com o corpo, por exemplo. Já uma substância com uma cadeia carbônica menor, como o metilparabeno e o propilparabeno, que são mais solúveis em água, e não se depositam na gordura corporal, sendo facilmente laváveis durante o banho diário.
A prevenção das empresas
Mesmo sem uma definição dos cientistas, muitas empresas optaram por parar de utilizar os parabenos em seus cosméticos. É o caso de gigantes como a Natura e a L'Oreal e de empresas menores como a Vyvedas. Enquanto a FDA afirma que não há motivo para que os consumidores se preocupem com o uso de parabenos em cosméticos, a ideia das empresas é a prevenção. Mesmo sem consenso, muitas deixam de utilizar e, em muitos casos, expõem na embalagem o selo "Parabens free" ou "Sem parabenos".
Para a Vyvedas, que entrou no mercado em 2004, o conceito da marca, que tem apelo ecológico, também fez parte da decisão de dizer não aos parabenos.
— Os parabenos são derivados do petróleo e estamos retirando substâncias não-renováveis dos nossos produtos — esclarece Mariana Soares, diretora da Vyvedas.
Em 2009, a marca começou a retirar esse tipo de conservante dos produtos. Hoje, 90% do que está nas prateleiras não contém os parabenos.
O cuidado com o descarte
Para a professora de Cosmetologia no curso de Farmácia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e vice-presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia, Vânia Leite, há outras questões muito importantes que também precisam estar na cabeça dos consumidores para evitar problemas de saúde e danos ao planeta.
O cuidado básico indicado pela farmacêutica é ler o rótulo dos cosméticos e identificar se o produto é adequado para a sua idade, seu tipo de pele ou seu cabelo. Depois disso, é preciso estar atento ao prazo de validade indicado pelo fabricante. Fora do prazo de validade, o princípio ativo dos cosméticos costuma estar inferior aos 100% convencionais, o que pode contaminar, alterar a cor, o cheiro ou, até mesmo, cessar o efeito.
E se os cosméticos vencidos podem ser prejudiciais ao homem, eles também afetam a natureza. Produtos muito ácidos, como os usados em peelings, ou muito básicos, como os tônicos faciais, agem sobre o PH. Desta forma, quando descartados em locais inadequados podem alterar o PH da água e, em grande quantidade, desequilibrar ecossistemas.
Claudio Frankenberg, engenheiro químico e vice-diretor da Faculdade de Engenharia da PUCRS, acredita que o descarte ideal é em aterros sanitários controlados, como os dos medicamentos, ou o lixo orgânico.
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