Ambiente | 28/03/2011 08h44min
Londres 2012 está muito perto de conseguir o que se propôs anos atrás: tornar-se a Olimpíada mais verde da história. A sustentabilidade foi uma das bandeiras da candidatura britânica a ser sede dos Jogos — e a organização do evento levou o comprometimento realmente a sério.
O sucesso, portanto, não ocorreu à toa: veio com muito planejamento, esforço e disciplina de todos os envolvidos no projeto. A começar por um plano bastante específico do que deveria ser feito, que englobava desde a decisão sobre onde seriam realizadas as competições, quais materiais seriam utilizados nas obras necessárias, como produzir menos lixo nesse processo e como economizar água, além de iniciativas menos óbvias, como dar prioridade para a compra de alimentos produzidos localmente.
Para garantir que o compromisso era real, e não apenas promessas vazias, foi criada uma comissão independente pioneira, responsável apenas por acompanhar e reportar se o andamento das iniciativas verdes propostas pela organização estava adequado, além de propor alternativas para o que não estivesse dando certo (leia mais na entrevista abaixo).
O que foi feito por lá
Construções
A organização se comprometeu a utilizar ginásios e estádios já existentes sempre que possível (caso das competições de futebol, vôlei e outros esportes como judô, boxe e tênis de mesa, por exemplo) e construir estruturas permanentes apenas que tivessem utilidade no longo prazo depois da Olimpíada.
Outras construções foram projetadas com a possibilidade de redução na capacidade de lugares, para que sejam adaptados a competições menores.
A Vila Olímpica (onde os atletas poderão se hospedar, dentro do Parque Olímpico) será transformada em uma espécie de condomínio, com 2,8 mil novos apartamentos disponíveis à população londrina.
Em alguns casos, as construções serão temporárias e poderão ser desmontadas e reutilizadas em outro local. Um exemplo é o ginásio que receberá os jogos de basquete.
Transporte
Londres tem uma grande vantagem neste aspecto, por já ter uma das melhores infraestruturas de transporte público do mundo. Metrô, trens e linhas de ônibus são muito eficientes e alcançam com facilidade qualquer ponto da cidade e de sua região metropolitana.
A região de Piccadilly Circus será revitalizada com o objetivo de se tornar uma área mais amigável para pedestres, com a retirada de grande parte dos gradis, já que na proximidades serão realizados eventos de vôlei de praia, maratona, triatlo e ciclismo.
A cidade prevê um investimento de 140 milhões de libras em um programa de aprimoramento da estrutura para ciclistas no país. A estimativa é de que essa iniciativa gere uma redução de 16 milhões de jornadas de carro em um período de três anos na capital britânica.
Grande parte das construções novas estão dentro do Parque Olímpico, a distâncias que podem ser feitas a pé pelos atletas hospedados na Vila Olímpica.
Resíduos e reciclagem
De acordo com o projeto, nenhum material deixa o canteiro de obras se pode ser reutilizado ou reciclado, reduzindo a quantidade de lixo enviado aos aterros sanitários.
Durante o processo de demolição das estruturas pré-existentes, 97% foram recuperados para serem reutilizados na construção do Parque Olímpico.
O novo projeto da Greenway, uma importante rota para ciclistas e pedestres, reutilizou materiais de demolição como tijolos, paralelepípedos e azulejos da fase de demolição.
O concreto das fundações de vários prédios construídos tem uma grande quantidade de material reciclado em sua composição. O Estádio Olímpico, que está sendo construído para os jogos de 2012, por exemplo, terá facas e armas de fogo apreendidas pela polícia em sua estrutura, reduzindo o uso de aço. Além disso, os suportes do telhado do estádio são feitos de tubulação de gás reciclada.
A preocupação com o lixo não valerá só para as obras, mas também para o evento em si. No Parque Olímpico, por exemplo, pelo menos 70% dos resíduos serão reutilizados, reciclados ou passarão por compostagem.
Água
No total, os prédios utilizados nos Jogos consumirão 40% menos água, devido a iniciativas como banheiros com descargas menos gastadoras e reaproveitamento da água da chuva.
No Centro Aquático, por exemplo, a água das descargas será reciclada e usada para limpar os filtros da piscina.
Sociedade
Longe do centro, a região industrial de Stratford, no Leste de Londres, foi escolhida para a instalação do Parque Olímpico, com o intuito de ser revitalizada. A área era um aterro sanitário, cujo solo estava contaminado com agentes químicos e foi recuperado pela equipe olímpica. Após os jogos, o local será um dos maiores parques urbanos da cidade e vai abrigar espécies de plantas e animais ameaçados de extinção. Serão mais de 4 mil árvores, 374 mil plantas e 60 mil sementes.
Os operários envolvidos na obra se engajaram nos esforços de garantir a sustentabilidade do projeto. Um dos motivos foi a criação de um prêmio que reconhece a performance e a contribuição de equipes ou indivíduos no canteiro de obras.
Dentro do projeto de sustentabilidade, também estão incluídas ações que promovam os esportes (como a seleção de mil "jovens embaixadores" para passar a ideia adiante) e um estilo de vida mais saudável (como a realização de "campanhas pela caminhada" no país).
Emissões de CO2
Várias construções têm telhados verdes, que ajudam a resfriá-las e diminuem o uso de ar-condicionado.
Uma hidrovia foi criada especialmente para atender às necessidades de transporte de material para a construção, e uma ferrovia foi reativada com o mesmo objetivo, ajudando a reduzir a emissão de carbono da construção.
Quase todas as medidas descritas nesta reportagem, de alguma forma, ajudam a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, seja por economia de energia, pela diminuição do consumo de combustíveis fósseis ou pela redução do uso de matérias-primas nas construções.
Praticamente toda a ventilação do Velódromo e do Parque Olímpico é natural, sem uso de ar-condicionado.
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