Itapema FM | 24/09/2016 08h02min
Cerca de 80 sobrenomes com origens principalmente do Leste Europeu e da Ásia aparecem no elenco do Balé da Opera de Kazan, teatro da capital do Tartaristão, na Rússia. Até o início desta semana, entre eles identificava-se apenas um conhecido "Gomes", com a brasileira Amanda contratada há dois anos para a tradicional companhia de balé clássico. Agora, "Carvalho", "Zaborne" e "Diógenes" também estarão nesta lista, com a ida de outros três bailarinos formados pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil para o grupo. Eles são, respectivamente, Wagner, Carolina e Thais, e deixam Joinville para viver o sonho de dançar em um grande balé da Rússia.
Os três jovens faziam parte da Cia. Jovem do Bolshoi Brasil, grupo semiprofissional que dá aos recém-formados a oportunidade de viver a experiência do primeiro emprego enquanto representam a renomada instituição de ensino. Para Thais, 21 anos, era sua casa há cinco anos: ela era a integrante mais antiga da companhia atualmente, em uma trajetória que a permitiu vivenciar grandes momentos da Escola Bolshoi e da cidade.
A última foi acender a pira olímpica quando a tocha das Olimpíadas passou por Joinville, há pouco mais de um mês. Ela também protagonizou O Quebra-nozes, último balé completo montado pelo Bolshoi Brasil, e os grandes papeis de peças famosas de dança clássica.
— Além de O Quebra-nozes, passei por quase todos os papeis de Don Quixote, Giselle, Raymonda, Chopiniana. Dancei todos os balés que a escola tem, o que foi muito importante para me conhecer melhor e amadurecer no palco — afirma Thais.
Ainda como aluna, ela foi escolhida por Mikhail Baryshnikov, considerado um dos maiores bailarinos da história, para participar ao lado de dois colegas do espetáculo que sua companhia, a Hell's Kitchen Dance, apresentou na abertura do 25º Festival de Dança. Ela tinha 15 anos e boas notas mas, quando o fim do ano chegou, foi avisada que teria que repetir a quarta-série.
— Eu era muito pequena, não tinha estrutura física, mas na época fiquei muito triste e até pensei em desistir — recorda ela, que depois foi autorizada a pular a sétima série e a se formar com a turma na qual havia ingressado aos nove anos, quando entrou na primeira série.
Desde 2015, Thais era partner de Wagner e, em abril, os bailarinos foram premiados no 14º Russian Open Ballet Competition, em Perm, na Rússia. Foi lá que Vladimir Yakovlev, diretor artístico do Balé da Ópera de Kazan, os assistiu dançar trechos de O Quebra-Nozes e de Don Quixote e a grande chance nasceu. Além disso, Wagner levava na bagagem um portfolio da namorada, Carolina, para entregar em mãos ao diretor. Recém-formada, a jovem sonhava com uma companhia na Rússia, principalmente depois de dançar um trecho de Giselle com o Ballet Bolshoi de Moscou quando este passou em turnê pelo Brasil, no ano passado, ao lado de outras cinco colegas, entre elas Beatriz Paulino (confira a história abaixo).
Agora, os três encaram a mudança para o outro lado do mundo e o aprendizado de um novo idioma e passam por uma audição que definirá os papeis que assumirão na companhia. A Cia. Jovem, que começou o ano com 16 integrantes, chega ao fim de 2016 com apenas seis — ao longo dos últimos sete meses, outros bailarinos também alçaram voos para grandes companhias.
Uma chance no Brasil
Conquistar uma vaga em uma companhia de dança internacional é um grande feito, mas o desafio não é diferente para quem quer ser bailarino no Brasil. Ele aumenta se for para um grupo com história e estabilidade. Por isso, uma das bailarinas que também deixa a Cia. Jovem Bolshoi em setembro, Beatriz Paulino, 19 anos, comemora a ida para a Cia. de Dança Sesiminas, em Belo Horizonte. Fundada em 1990 e com foco no clássico, a companhia costuma fazer apresentações com objetivo social, levando arte para escolas, centros de lazer e até canteiros de obras.
Para Beatriz, é uma oportunidade de ser bailarina no Brasil com registro profissional, mantendo o sonho de menina, mas conciliar os estudos da faculdade de Direito, iniciada no ano passado.
— Se fosse para outro País, teria que parar de estudar, e essa não era uma opção para mim — afirma a jovem paulista, que deixou a casa da família aos 12 anos para tornar-se aluna da Escola Bolshoi depois de cinco anos dedicando-se aos estudos de balé simultaneamente em duas escolas de São Paulo.
Carolina, Wagner e Thais realizam o sonho de participar de uma grande companhia de balé clássico na Rússia
Foto:
Rodrigo Philipps
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