Itapema FM | 24/08/2016 07h31min
Amanda Gomes entra na sede da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, na região central de Joinville, e é como se o tempo não tivesse passado.
– Não parece que eu fui embora, eu sinto que ainda estou aqui – comenta a jovem de 21 anos.
No entanto, exatamente dois anos a separam da instituição onde cresceu, formou-se como bailarina e viveu a experiência do primeiro emprego: em 24 de agosto de 2014, Amanda preparava-se para embarcar para Kazan, cidade localizada na República do Tartaristão, na Rússia, onde assumiria o posto de solista no Balé da Ópera de Kazan.
Agora, ao voltar para passar as férias em Joinville, ela traz não apenas a experiência de dançar os grandes clássicos em palcos da Europa, mas também, na bolsa, a medalha de ouro do mais importante concurso de balé do mundo.
Se a carreira trilhada até agora precisasse ser resumida, determinação seria a palavra-chave. O The Varna International Ballet Competition tem a tradição de, em seus 50 anos, ter registrado o maior número de competidores – mais de 2.500 bailarinos de 40 países – e o prestígio de ter premiado estrelas da dança como Ekaterina Maximova (já em sua primeira edição) e revelado nomes como Mikhail Baryshnikov. Diante disso, Amanda confessa que chegou a tremer.
– É um concurso bastante concorrido e muito valorizado, foi o primeiro do mundo. É considerado a olímpiada do balé. Então eu pensei: “Pô, será que eu vou? Vai ser muito difícil. Depois eu pensei, mas por quê? O não eu já tenho. Então, vamos tentar” – recorda.
A preparação começou em fevereiro, com a montagem da coreografia de contemporâneo Beijo, de Alexander Mogilev. Então vieram os ensaios do Pas-de-Deux de Don Quixote, de O Quebra-nozes e a suíte do balé Laurencia. Por fim, faltando apenas 15 dias para o concurso, a segunda coreografia de contemporâneo foi montada: Sofia, sobre um tango de Piazolla.
Tudo isso ocorreu ao mesmo tempo em que o Balé da Ópera de Kazan preparava a nova temporada de espetáculos e, às vezes, era necessário ficar 12 horas no teatro para ensaiar os balés da companhia e, depois do horário, as coreografias para o concurso.
– Eu queria participar para mostrar o meu trabalho a quem está no mundo do balé agora, os diretores, os jurados do mundo inteiro. O ouro veio para minha surpresa, porque nas últimas duas edições não houve premiados em primeiro lugar neste concurso – conta ela.
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Agora, quando Amanda passa pelos corredores da escola onde estudou por seis anos – ela entrou no Bolshoi Brasil aos dez, formou-se aos 16, depois de pular duas séries, e por dois anos integrou a Cia. Jovem – é como se um ídolo da dança chegasse, pelo menos aos olhos dos alunos mais jovens.
Antes aluna, agora tratada como estrela
Em visita à escola, a bailarina tira fotos e dá autógrafos a crianças do Bolshoi que usam o mesmo uniforme que ela costumava vestir há poucos anos.
– Cada vez que eu venho, me assusto mais. As crianças me tratam como “a estrela Amanda Gomes” e eu penso que ainda nem conquistei tudo o que queria – relata a jovem, aos risos.
– Por isso tento ser um exemplo para elas, porque isso é muito importante quando você é aluno.
Na próxima semana, Amanda retorna para Kazan, onde ensaia durante seis dias consecutivos e se apresenta em pelo menos duas noites por semana diante de uma plateia que valoriza o balé clássico a ponto de saber os nomes dos solistas da companhia. No fim do ano, entrará em mais uma turnê pela Europa, dançando em cidades como Alemanha, Holanda, Bélgica e França.
Quando voltar a Joinville, é bem provável que o grande painel localizado do lado de fora do Centreventos Cau Hansen que mostra sua foto ao lado do antigo partner, Marcos Vinicius, tenha sido trocado por novos alunos da Escola Bolshoi. Mas ela sabe que as visitas anuais por aqueles corredores não terminarão.
– A escola me fez ser o que sou hoje, não só em questão de técnica, mas a ser uma boa pessoa. O Bolshoi não me ensinou só a dançar, porque isso você encontra em qualquer esquina. E em todo lugar que vou no mundo faço questão de falar que aqui no Brasil temos uma escola do Bolshoi que gera muitos talentos – afirma.
Na noite de segunda-feira, Amanda recebeu o Brasão da Cidade de Joinville e a Medalha dos 150 anos da cidade de Joinville, concedidas a personalidades de destaque que elevam o nome da cidade para o mundo.
A NOTÍCIA
Aos 10 anos, ela mudou de Goiânia para Joinville para estudar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil
Foto:
Maykon Lammerhirt
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