Itapema FM | 25/07/2016 22h03min
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A noite, muito mais do que de gala, era de animação: o Ballet do Teatro Guaíra voltava ao palco do 34º Festival de Dança de Joinville para apresentar o espetáculo Cinderela, em uma versão moderna e divertida da clássica história de contos de fadas. Por trás das cortinas, no entanto, uma das companhias mais tradicionais do País vivia a instabilidade de não conhecer seu futuro, já que na última sexta-feira o Tribunal de Justiça do Paraná publicou um acórdão tornando inconstitucional a criação de cargos comissionados para os bailarinos da companhia e para os músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná.
– Estamos nos apresentando nesta noite em Joinville sem saber se ainda existiremos amanhã – lamentou a diretora do Ballet do Teatro Guaíra, Cintia Napoli. – Estamos em frente ao sinal amarelo, avisando às pessoas a situação porque, se o sinal vermelho acender, precisaremos da força da sociedade.
Para a plateia que preencheu os 4.200 lugares da arena multiúso do Centreventos Cau Hansen, a continuidade da companhia que mais vezes se apresentou em uma noite especial do Festival de Joinville (a primeira foi em 1984, quando montou O Grande Circo Místico e deu início à tradição dos espetáculos de abertura) poderia ser garantida pelas palmas e ovações que os 20 bailarinos receberam.
Cinderela, que ganhou uma versão contemporânea para os 45 anos do Ballet do Teatro Guaíra pelo coreógrafo espanhol Gustavo Ramírez Sansano, parece com um musical: a história da Gata Borralheira foi atualizada para os anos 1950 e 60 e o príncipe torna-se um playboy milionário que faz o convite para o baile em busca de solteiras pela televisão. A Fada Madrinha é um rapaz barbudo e, moderninha, a Cinderela perde o vestido, e não o sapato.
– A montagem nasceu deste desejo de levar o público para assistir à dança contemporânea, porque ela, quando muito conceitual, afasta o público em geral. Em Cinderela, é muito bom ver o público, até crianças, se deliciando em alguns momentos – diz Cintia.
Apesar dos ares de teatro musical, Cintia conta que toda a dramaturgia do espetáculo foi construída em cima da linguagem da dança. Se os bailarinos cruzam limites não vistos nos clássicos de repertório, ao interagir com a plateia, é porque a dança contemporânea permite esta liberdade.
– É uma característica dela utilizar a expressão do corpo na íntegra, e a voz faz parte disso. Ainda assim, o desempenho do corpo é tão importante quanto – avalia.
Emoção no fim
Após os aplausos no fim do espetáculo, a bailarina Malki Pinsag leu uma carta em que explicava à plateia a situação do Ballet do Teatro Guaíra e da Orquestra Sinfônica do Paraná. Emocionada, ela pediu o apoio da comunidade, em nome da arte e da cultura. Se providências não forem tomadas logo, a companhia pode ser desfeita.
— Na situação atual do País, a cultura cada vez menos priorizada. Preocupamo-nos com a valorização da profissão da dança no Brasil, por isso a importância da divulgação por todos nós para que essa não seja a luta de uma companhia, mas de toda uma classe — dizia um trecho da carta.
Os cargos comissionados do Ballet do Teatro Guaíra foram criados em 2003, depois de um período entre 1998 e 2003 em que os bailarinos eram contratados como temporários. Os cargos comissionados para agente artístico foram considerados irregulares pois são exclusivos para funções de chefia, gerência e assessoramento.
Há dois anos, a diretoria do Teatro Guaíra e a Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná começaram a buscar soluções, que devem ser resolvidas com a criação de um Serviços Sociais Autônomos (SSAs), assumindo os contratos destes profissionais sob o regime da CLT. Por isso, a Procuradoria Geral do Estado do Paraná deve entrar com um pedido de adiamento desta decisão ainda nesta semana para evitar a exoneração dos bailarinos e músicos, o que levaria à paralisação das companhias por tempo indeterminado.
Releitura da clássica história dos contos de fadas encantou o público de Joinville
Foto:
Rodrigo Philipps
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