Itapema FM | 01/04/2016 06h51min
Não é porque existe há 13 anos, atraiu nomes de peso da literatura nacional e consolidou sua presença na agenda de eventos da cidade que a Feira do Livro de Joinville tem vida fácil. Sem os editais de incentivo (Simdec e Rouanet) para dar suporte, ela foi buscar apoio do empresariado, onde o dinheiro também não anda jorrando. A ajuda veio, suficiente para manter o evento de pé e realizar a edição enxuta que começa hoje e vai até até o dia 10 no Expocentro Edmundo Doubrawa e no Teatro Juarez Machado.
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Por outro lado, a necessidade de privilegiar autores locais e regionais dá a chance de os joinvilenses conhecerem a farta produção literária que emana de seu próprio jardim. Há quatro meses, porém, a situação era desesperadora. Com o caixa zerado, Sueli Brandão, presidente do Instituto de Cultura e Educação, que organiza o evento, estava pronta para transformá-lo em bienal, ou jogar a toalha de vez.
Foi desestimulada por várias pessoas e instituições, que se dispuseram a apoiar da forma que podiam. Os R$ 60 mil arrecadados posteriormente mostraram a saída: enxugar a estrutura física, cortar os nomes de vulto já reservados (Frei Betto, Paula Pimenta e Eva Furnari) e investir em autores de Santa Catarina.
— Quando não conseguimos os recursos via edital, vimos que a cidade abraçou a feira, dando toda forma de apoio e reconhecimento. Assim, fizemos a feira mais simples, sem recursos, mas sem perder a qualidade. Estamos fazendo uma feira na cara e na coragem — frisa Sueli.
Assim, as cerca de 70 mil pessoas esperadas no Expocentro durante os próximos dez dias encontrarão 39 estandes com livros à venda, apresentações musicais, exibição de filmes, exposições, oficina e, claro, sessões de autógrafos e bate-papo com autores.
Boa parte da lista de convidados é de Santa Catarina. Alguns deles: Eberson Teodoro, Bernadete Costa, Humberto Soares, Taiza Mara Rauen Moraes, Rita de Cássia Alves, Vanessa Martinelli, Jura Arruda, Vanessa Bencz, Alcides Buss, Borges de Garuva e Urda Klueger. Detalhe: todos os escritores abriram mão de cachê, e cerca de 20 convidados de fora estão bancando a própria passagem para Joinville.
No meio desse perrengue por deixar as contas em dia, o tema da 13ª edição (A literatura pede passagem) pode passar um tanto despercebido. De acordo com Sueli, ele não será trabalhado de modo específico dentro da programação e funcionará mais como uma mensagem relacionada à literatura presente na vida cotidiana das pessoas, seja como entretenimento, seja como via de reflexão para os tempos duros que vivemos.
Quem certamente não passará batido é Juarez Machado. Assim como foram Carlos Adauto Vieira, Raquel Santiago, Wilson Gelbcke e Taisa Rauen Moraes, entre outros, ele será o homenageado do ano na Feira do Livro. Fruto da produção literária do pintor em décadas passadas, o tributo virá acompanhado do lançamento de dois títulos seus e, mais uma vez, do reforço junto ao público de que muito se faz na seara das palavras em Joinville.
— Ao reconhecer um talento local, queremos reconhecer os vários talentos que existem na cidade — acredita Sueli.
Confira a programação completa aqui.
HOMENAGEADO, JUAREZ, REVÊ OBRAS
Dá até para imaginar Juarez Machado, do outro lado da linha, meneando a cabeça negativamente ao ser perguntado sobre a homenagem como escritor, e não pintor, que a Feira do Livro de Joinville está fazendo a ele.
— Sou um escritor de imagens, inclusive na minha pintura. Eu pinto a folha de um livro e o espectador vai continuar a história, ou voltar para trás — diz o artista, diretamente de seu apartamento em Paris. Ele chegará no sábado para receber o tributo do evento literário.
Porém, Juarez não virá a Joinville apenas para ser agraciado por sua bibliografia, que condensa pelo menos uma dezena de títulos em que a imagem é o fio narrador, vários deles premiados mundo afora. Ele aproveitará a feira para apresentar dois “novos” livros, lançados pela editora mineira Miguilim.
O primeiro é, na verdade, um relançamento: "Domingo de Manhã", produzido no final dos anos 70, é todo narrado da perspectiva do passageiro de um carro cujo motorista deixa a garagem, passa por vários lugares pitorescos, compra um buquê de flores e vai ao encontro da amada. Já o inédito Saída data de 2000 e foi feito após uma semana chuvosa em Piçarras e em meio a sérias turbulências no relacionamento que Juarez mantinha na época. O próprio surge diante de várias portas, cada qual exigindo um truque ou tarefa para ser aberta – uma clara metáfora para a necessidade que ele sentia de fugir da relação.
O retorno dessas obras fez ressurgir em Juarez a vontade de produzir para as páginas de livros. E, segundo ele, há muita coisa na fila, inclusive outro volume de "Saída".
— Cada vez me sinto mais estimulado a fazer coisas que provoquem as pessoas.
O quê: 13ª Feira do Livro de Joinville.
Quando: abertura hoje, até 10 de abril, das 9 horas às 21 horas (sábados e domingos, até as 20 horas).
Onde: Expocentro Edmundo Doubrawa e Teatro Juarez Machado, avenida José Vieira, 315 (Beira-rio).
Quanto: gratuito.
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