Itapema FM | 14/12/2015 05h02min
O ano é 1962, e embora haja aqui e ali laivos do ambiente elegante e conservador apresentado em Mad Men, há algo definitivamente mais cinza e perigoso no mundo que a minissérie The Man in the High Castle (O Homem do Castelo Alto, em português), produzida pela Amazon, descortina para o espectador. A explicação é simples e apresentada já na impactante vinheta de abertura, ao som de uma arrastada e fantasmagórica versão da canção alemã Edelweiss: o mundo encenado em The Man in the High Castle é aquele resultante de uma peculiar mas crucial alteração na história que conhecemos. Aqui, os aliados perderam a II Guerra, e o Eixo saiu vitorioso.
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Como consequência dessa guinada, os Estados Unidos em que a história se desenrola são agora uma nação fraturada em três: Os Estados Japoneses do Pacífico, na Costa Oeste; o Grande Reich Nazista, na Costa Leste, e uma faixa central neutra no território das Montanhas Rochosas que serve como Terra de Ninguém e foco de grupos de resistência.
Criada por Frank Sponitz e levemente baseada no romance homônimo de Philip K. Dick, The Man in the High Castle se afilia a uma vertente clássica das narrativas de ficção científica e fantasia, a da "história alternativa" ou "o que aconteceria se". É nesse cenário imaginado que se movimenta uma gama ampla de personagens, cada um com seus interesses, lealdades e agendas secretas _ todos atuando em um cenário político instável e perigoso. Depois de 20 anos de domínio mundial compartilhado, o Reich nazista e o Império Japonês têm cada vez mais desavenças e questões a resolver, o que pode levar o mundo à beira de outra guerra.
A trama lida com uma tapeçaria de personagens, mas três se destacam, inicialmente: a primeira é Juliana Crain (Alexa Davalos, de Mob City), que vive na parte japonesa dos EUA até que, com a morte da irmã, assume junto a um grupo de resistência a tarefa de viajar até os Estados Neutros levando um misterioso rolo de filme com um documentário de guerra que mostra a vitória não dos nazistas, mas dos aliados. Os filmes, subversivos, são aparentemente produzidos pelo enigmático "Homem do Castelo Alto", que viveria em uma fortaleza na zona neutra. A partida abrupta de Juliana traz consequências para seu marido, Frank (Rupert Evans), que cai nas mãos dos Kempeitai, a polícia secreta japonesa, e é torturado para revelar seu paradeiro. Não ajuda o fato de que as autoridades descobrem que a família de Frank, um operário metalúrgico com pretensões a joalheiro, tem raízes judaicas. Pelo outro lado do continente, o motorista Joe Blake (Luke Kleintank, de Bones) embarca em uma viagem de caminhão a partir da Nova York ocupada pelos nazistas para entregar outro rolo de filme na mesma zona neutra.
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Contando com uma fotografia e uma reconstituição de época fascinantes, a série se apropria do elenco do romance, mas os retrabalha de modo substancial. Enquanto o livro de Philip K. Dick investe mais na criação de um pano de fundo, do contexto político imaginário, a produção prefere enfocar as interações dos personagens e como seus passos são vigiados ou seguidos pelas figuras de autoridade em ambos os lados dos territórios ocupados: o sinistro chefe de polícia Kido (o americano de origem filipina Joel de La Fuente, de Hemlock Grove), no Pacífico, e o oficial SS John Smith (o inglês Rufus Sewell), no setor do Reich _ personagem, aliás, foco de uma das bizarrices da adaptação, já que os demais ostensivamente o chamam de Obergruppenführer, um posto na hierarquia SS com vaga equivalência ao de general, mas outro oficial seu assistente é chamado de "Capitão", em vez do Hauptsturmführer que seria de esperar se o critério fossem as patentes alemãs.Com o foco mais no jogo perigoso envolvendo os rolos de filme, o seriado abdica de parte da rica construção social tecida por K. Dick em seu romance, resultando em um tratamento mais frio as premissas do livro original. Algumas alterações e episódios parecem servir mais a andamentos do roteiro do que propriamente a um desenvolvimento orgânico da narrativa, mas a qualidade do elenco e a agilidade da montagem, associada ao cuidadoso trabalho de produção, tornam, ainda assim, esta uma das melhores adaptações audiovisuais da já muito adaptada obra de K. Dick.
Seriado da Amazon mostra os Estados Unidos dividido entre nazistas e japoneses
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