Itapema FM | 19/11/2015 15h16min
Na capa, na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo, Guilherme Fontes esclarece que comprou os direitos e utiliza as informações do livro de Fernando Morais, mas faz a ressalva:
— O Chatô dele é o real. O meu é fictício.
Marco Ricca, que faz o papel, esclarece que foi maravilhoso entrar na onda do diretor.
— O filme dele, ao contrário de outras biografias, assume que se trata de uma interpretação. Não é o Chatô, não é o Getúlio, mas a forma como o Guilherme os vê.
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Daí a falta de verossimilhança física. Paulo Betti não tem nada a ver com a iconografia consagrada de Getúlio.
— E lá eu ia querer um bom velhinho? — pergunta o diretor.
Ele admite que construiu seu protagonista no corpo de Marco Ricca.
— Dirigi nos gestos, na voz, no figurino. Moldei nele o meu Chatô.
E que Chatô é esse? Um czar da imprensa, um grande manipulador.
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— Essa coisa de imprensa isenta não existe. Existem evidências que terminam por se impor, mas o Chatô era um controlador que não queria contar a história do Brasil. Queria fazê-la — reflete Guilherme Fontes.
No livro, o personagem é um pouco o Cidadão Kane de Orson Welles. Cidadão Chateaubriand. O livro é narrado em flash-backs, tem o seu Rosebud — o enigma que movimenta o quebra cabeças que Welles armou com o roteirista Herman Mankiewicz.
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Francis Ford Coppola, que seria parceiro em Chatô e chegou a participar da leitura pública do primeiro tratamento do roteiro, viu uma versão antiga e deu um conselho a Fontes: "cuidado com as passagens de tempo. Ocupe-se bem delas." O diretor preocupou-se tanto que surgiu esse tempo particular de seu filme — atemporal. O eixo dramático constrói-se em torno de um suposto "julgamento do século", quando Chatô participa de um programa de TV que dá voz a figuras que foram decisivas em sua vida. Ex-mulheres, ex-colaboradores e a mítica "Vivi". Para interpretar Chatô, ou seja, para captar a totalidade do homem e do mito, Fontes percebeu que precisava de muita cor, da cenografia, do Abaeté, do Brasil. Submeteu Cidadão Kane a uma (re)leitura antropofágica e fez, como lhe disse Cacá Diegues, "o último grande filme tropicalista".
Da mesma forma, com medo de processos — o filme é anterior à lei das biografias —, Fontes e seus roteiristas, entre eles João Emanuel Carneiro (autor da atual novela das 9, A Regra do Jogo), condensaram personagens. "Andréa Beltrão é o maior amor dele, a amante dos poderosos." Vivi — é seu nome — divide-se entre Chatô e Getúlio. Arma para Chatô e favorece Getúlio na Revolução de 30, que desemboca na ditadura do Estado Novo. Marco Ricca intervém.
QUIZ: demorou mais ou menos do que Chatô?
— Andrea é maravilhosa. Já trabalhei com ela, inclusive num projeto de Maurício Farias (marido da atriz) que foi arquivado. Nunca vi isso no cinema. Ela mata o Chatô com seu sexo, na cama!
E Fontes prossegue:
— Leandra Leal faz a mulher argentina dele, que transformei em cantora para retratar o Brasil de Chatô, os Diários e Emissoras Associados. Gabriel Braga Nunes faz Rosemberg, o funcionário desprezado que vira concorrente e inimigo de Chatô. Tem horas que é Samuel (Wainer) e outras de (Carlos) Lacerda.
O filme era muito mais excessivo, informa o diretor.
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— Quando ele chega à emissora, antes de começar o julgamento do século, Chatô ia abrindo portas e a gente via a Miss Brasil, a Rainha do Rádio, todo aquele Brasil que ele ajudou a formatar e modernizar. Mas não cheguei a filmar isso. Na verdade, desperdicei muito pouco. Podia ter feito um filme de 2h20min, mas preferi ficar em 1h45min, para não aborrecer o espectador. Detesto filme que se estende inutilmente. Filmei o essencial e esse essencial está no filme que quis fazer.
Ricca comemora:
— O filme existe, não é lenda, como muita gente achou que ia virar. Espero que esse cara (Guilherme Fontes) possa fazer outros filmes, não porque é bonzinho, mas porque é talentoso. Detesto isso aqui (a entrevista foi feita no cinema, depois que o público havia entrado para a pré-estreia de Chatô na terça-feira e os fotógrafos que correm atrás de celebridades haviam ido embora). Gosto é dos processos, da camaradagem, da criação. No começo da produção, fui à produtora do Guilherme e era uma festa. Coppola, coisa e tal. Voltei depois e já era na fase difícil. O clima era lúgubre, a casa vazia. Todo esse processo tem sido longo. Ando fazendo exercícios mentais para me lembrar de tudo. É muita gente querendo reavivar a história, e tem gente que já chega de má-fé, querendo incriminar o Guilherme. Somos artistas. Ninguém desviou dinheiro. E, sim, eu também acredito que fizemos um belo filme. Estou muito feliz.
Depois de quase 20 anos, "Chatô" de Guilherme Fontes está pronto para estrear
Foto:
Milocos Entretenimento
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