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Itapema FM  | 29/10/2015 14h57min

10ª Bienal do Mercosul enfoca América Latina, mas o que mais se vê é arte brasileira

Oito exposições se distribuem em diferentes locais de Porto Alegre. Depois da Usina do Gasômetro, ZH trará comentários das outras exposições nas próximas semanas

Francisco Dalcol  |  francisco.dalcol@zerohora.com.br

A 10ª Bienal do Mercosul pretende apresentar uma revisão da história da arte da América Latina, reunindo obras do século 18 até a atualidade sem se guiar por cronologias, gêneros e classificações. Interrompendo a guinada internacional das últimas edições, o curador-chefe desta, Gaudêncio Fidelis, quer resgatar o que chama de "vocação histórica" da mostra.

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Um olhar sobre as exposições indica que, mais do que latina, esta é uma Bienal de arte brasileira. Juntos, os 19 países estrangeiros somam menos de cem artistas. Sozinho, o Brasil tem mais de 150. Nesse sentido, a participação da América Latina parece servir mais para iluminar a história da arte brasileira em relação a seus vizinhos, apontando como a herança do passado colonial e a hegemonia dos centros artísticos da Europa e dos EUA se refletem na arte das Américas Central e do Sul.

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É claro que números não determinam se um projeto curatorial é bem-sucedido, ainda mais em relação a países de diferentes dimensões territoriais. Contudo, ajudam a analisar se esta Bienal consegue de fato ser a plataforma da arte latino-americana a que se propõe. Números ganham significado também em um projeto desde o início ambicioso em proporções, dependente de empréstimos de coleções estrangeiras e de uma complexa logística de transporte. E ainda afetado por crise econômica e redução de orçamento.

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Como consequência da tentativa de manter o projeto inicial, a Bienal preencheu lacunas buscando obras estrangeiras que estão no Brasil e trabalhos em vídeo "transportáveis" pela internet. Entre o desejado e o possível, foram retirados mais de cem artistas da lista inicial com mais de 400. A relação final só foi divulgada na véspera da inauguração. O curador-chefe reconhece o peso das baixas, mas argumenta que o projeto se preservou conceitualmente. Ainda assim, é difícil pensar que a mostra não foi prejudicada. E se não era o caso de, diante das dificuldades, revê-la na extensão de suas ambições.

Isso tudo é a parte, digamos, invisível da Bienal. A parte que o público está vendo desde sábado apresenta oito exposições em diferentes locais de Porto Alegre até 6 de dezembro. Os primeiros dias já mostraram que a Usina do Gasômetro é o centro desta edição. Além de hospedar quatro das mostras, tem recebido o maior fluxo de visitantes. É um bom começo para se desbravar a Bienal.

 "Tropicália", de Hélio Oiticica, no térreo da Usina do Gasômetro, integra mostra "Marginália da Forma". Foto: Omar Freitas

No primeiro andar, o sucesso de Tropicália, de Hélio Oiticica, pode ser medido pela quantidade de pegadas na areia do público que percorre a instalação. A mostra Marginália da Forma também resgata obras dos anos 1980 de artistas gaúchos como Frantz, Heloisa Schneiders da Silva e Karin Lambrecht. Nesse andar, onde os trabalhos ficaram um tanto dispersos e alguns escapam ao percurso dos visitantes, a "escondida" Galeria Iberê Camargo merece uma pausa para dois vídeos: um de Jorge Francisco Soto, que projeta números relacionados aos assassinados pela ditadura no Uruguai, e outro de Analivia Cordeiro, pioneira da videoperformance no Brasil.

Está no segundo andar a exposição mais interessante no conjunto, A Poeira e o Mundo dos Objetos. Vale dedicar atenção aos trabalhos de materiais alternativos. Pelo caráter efêmero, muitas dessas obras deverão se alterar ao longo da mostra. Brígida Baltar desenha com pó de tijolo; Nuno Ramos esculpe com pó de cal e madeira; Dudi Maia Rosa, com isopor; André Petry usa pó de motor de caminhão; Shirley Paes Leme lida com filtros de ar-condicionado manchados pela poluição; Regina de Paula cria um castelo de areia dentro de uma bíblia; Geórgia Kyriakakis emoldura fotografias com pó de metal carbonizado. Merece um olhar atento Ismael Monticelli, artista gaúcho da nova geração que ganhou espaço generoso para suas fotografias enigmáticas e as pinturas de paisagem recobertas com pó de cimento.

 Obra de Lygia Pape com aromas, na mostra "Olfatória: o Cheiro na Arte", no segundo andar da Usina do Gasômetro. Foto: Guilherme Dias/Divulgação 

No mesmo andar, a mostra Olfatória: o Cheiro na Arte também chama atenção pela abordagem, ao enfatizar outro sentido que não a visão. Há obras de Lygia Pape, Ernesto Neto, José Ronaldo Lima, Oswaldo Maciá e Alexandre Vogler que exalam aromas. Mas outras interrogam o porquê de estarem ali.

Por fim, no andar acima, Aparatos do Corpo reúne trajes de Arthur Bispo do Rosário, Lygia Clark e Flávio de Carvalho, mas o destaque são dois vídeos: as performances de Leticia Parente, costurando frases na sola do pé com agulha e linha, e de Regina José Galindo, que fica nua em um gramado enquanto uma escavadeira cavouca a terra ao seu redor com profundidade tamanha que a deixa ilhada em meio à natureza.

Da Usina, basta caminhar 15 minutos até a Praça da Alfândega para ver outras três exposições (no Margs, no Memorial do RS e no Santander Cultural) e depois se deslocar até a Zona Norte para ver a última (no Instituto Ling).

Visite

A 10ª Bienal do Mercosul começou no último sábado e segue até 6 de dezembro, com entrada gratuita. As exposições são apresentadas na Usina do Gasômetro, Margs, Memorial do RS (todos de terça a domingo, das 9h às 19h), Santander Cultural (terça a sábado, das 9h às 19h, e domingo, das 13h às 19h) e no Instituto Ling (segunda a sexta, das 10h30 às 22h, domingo, das 10h30 às 20h).

 

ZERO HORA
Omar Freitas / Agencia RBS

Visão da mostra "A Poeira e o Mundo dos Objetos”, uma das quatro exposições da Usina do Gasômetro
Foto:  Omar Freitas  /  Agencia RBS


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