Carol Macário  |  caroline.macario@diariocatarinense.com.br

Instituição cultural mais antiga de Santa Catarina, a Academia Catarinense de Letras (ACL) completa 95 anos nesta semana com muitos planos para o futuro. Traz a reboque, no entanto, restrições orçamentárias, atrapalhações administrativas, um site fora do ar, goteiras e mofo no imóvel histórico que lhe serve de sede em Florianópolis, além das dificuldades de eleger novos imortais para ocupar sete de um total de 40 cadeiras. O desafio maior é voltar a ser referência na cultura, cumprindo o objetivo de cultivar e promover a língua e a literatura do Estado.

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Ontem o tradicional encontro realizado na última segunda-feira de cada mês para o cafezinho (Chá das Cinco é só na Academia Brasileira de Letras!) e parlatório literário foi adiado para amanhã, quando os acadêmicos comemorarão o aniversário da entidade. A celebração será singela, com discurso e entrega de uma premiação simbólica aos destaques da literatura em 2015.

Com o atual presidente, Salomão Ribas Junior, afastado do cargo há mais de três meses em razão de problemas graves de saúde, a diretoria da gestão eleita no ano passado esforça-se para manter a instituição viva e executar projetos e ideias até o final do ano. Entre os planos está a reativação do site e a publicação da Revista da ACL em novo formato - já pronto e com projeto gráfico menos careta que os anteriores. Falta só o dinheiro para a impressão.

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Em maio de 2014, a entidade recebeu R$ 50 mil da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), via programa orçamentário Pró-Cultura. Foi a parcela inicial de um contrato de R$ 200 mil. Mas o repasse das seguintes foi bloqueado por problemas na prestação de contas da primeira parte.

- Ela foi elaborada, mas com considerável atraso. Ainda faltam alguns documentos. Além do afastamento do presidente, o tesoureiro da entidade, o escritor Amilcar Neves, teve problemas de saúde e outros pessoais. Isso sem considerar as questões burocráticas do Estado - afirma o vice-presidente da ACL, o poeta Pinheiro Neto.

Diante disso, a Academia não pode receber nenhum outro repasse de verba. O valor era para ser aplicado em atividades como editoração de livros. Era. Cerca de R$ 30 mil da primeira parcela foram usados para pagar indenização a uma ex-funcionária que moveu ação trabalhista contra a instituição por falta de pagamento.

- Essa prestação está pronta. Tem uma série de procedimentos e é tudo feito por meio da internet. Isso eventualmente traz complicações. Problemas com senhas, por exemplo, já que o presidente Salomão ficou doente e só ele tinha esses dados - justifica Amilcar Neves.

COMO FUNCIONA

A ACL mantém-se com a anuidade de R$ 200 paga pelos acadêmicos, valor que dá conta de despesas rotineiras. Para a realização de projetos e eventos, a instituição elabora anualmente um planejamento e encaminha à FCC solicitando os recursos financeiros para a viabilização.

- É sempre muito conturbada a relação com o governo. Muito depende da força e prestígio político do presidente para se conseguir recursos. O valor de R$ 50 mil veio do Funcultural, mas essa dotação orçamentária não seria a ideal - diz o tesoureiro Amilcar Neves.

Atualmente a ACL conta com dois funcionários. Uma secretária e um responsável pela biblioteca. Visitantes podem consultar as obras de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h. Há projeto para abrir o espaço para estágio de profissionais de biblioteconomia.

Além dos encontros mensais, todas as quintas-feiras ocorrem reuniões da diretoria. Nas terças e quartas-feiras são os plantões da tesouraria e da secretaria - o da presidência é de segunda a quinta, para atendimento a compromissos internos e externos. Durante o mês também são realizadas reuniões das assessorias de eventos e ritualística, efemérides, jurídica, avaliação institucional e patrimônio.

Dos 33 acadêmicos, 10 estão doentes e quatro moram em outras cidades, reduzindo o número de participantes ativos.

OS PROJETOS EM 2015

Além das homenagens e sessões especiais ao sesquicentenário de José Boiteux (1865 - 1934), fundador da entidade, a ACL planejou pequenas ações para comemorar os 95 anos. Entre elas a renovação da galeria de fotos dos ex-presidentes, acadêmicos e patronos (muitos quadros estão com o vidro quebrado); montagem de sala de pesquisa e a reorganização da biblioteca.

_ A primeira fase, que foi a limpeza dos títulos, já está terminada. Os passos seguintes serão catalogação documental e digitalização _ diz o vice-presidente Pinheiro Neto.
Há outras ações, ainda em fase embrionária, que demandam parceria como o Nenhuma Escola sem Biblioteca, o Nenhum Município sem Obras de Autores Catarinenses e o Letras Catarina _ A Trajetória de uma Academia, cujo objetivo é resgatar a história da ACL.

_ Apesar do problema financeiro, a Academia conseguiu desenvolver vários projetos. Foi firmada parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis para atuação no Floripa Letrada (estantes de livros nos terminais), aproximação com a Unisul e outras universidades com sede em Florianópolis _ avalia Pinheiro.

Para o próximo ano as prioridades são aproximação com instituições congêneres e com as escolas, além de retomar a edição do Congresso Estadual das Academias e das Associações de Escritores de Santa Catarina.

GOTEIRAS E MOFO

A Casa José Boiteux, número 523 da Avenida Hercílio Luz, é um imóvel histórico da década de 20 que abriga a Academia e o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC). Foi cedido por 99 anos pela Secretaria de Estado de Turismo Cultura e Esporte e Fundação Catarinense de Cultura, em 2011, e cabe ao Governo do Estado a manutenção.


A última reforma foi feita em 2010, mas o casarão apresenta problemas sérios de infiltração e goteiras. Um calha quebrada faz com que a água inunde a copa e atinja o porão, onde estão muitas livros ainda encaixotados.

Segundo a FCC, a manutenção da casa é feita periodicamente, com ênfase quando algum problema pontual é detectado e não há previsão para nova reforma.

_ Fomos notificados verbalmente na última semana. A FCC já acionou a empresa responsável para realizar a manutenção. Assim que o período chuvoso se estabilizar, os reparos necessários serão realizados, de acordo com o cronograma estabelecido para este e outros espaços que necessitem também de melhorias _ informou a Fundação por meio da assessoria de imprensa.

NOVOS IMORTAIS

Não é qualquer pessoa que entra para o seleto grupo de imortais da ACL. São apenas 40 vagas vitalícias. Ocupar uma cadeira quer dizer fazer parte de um trabalho de valorização da história literária de Santa Catarina.

Para preencher é preciso cumprir um ritual demorado. Além de inscrever-se no edital, o candidato deve ter expressão no meio cultural do Estado, ter livro publicado, formalizar sua intenção por meio de requerimento dirigido ao presidente, preencher ficha de inscrição e anexar três exemplares dos trabalhos publicados. Após 30 dias o prazo de inscrição, uma comissão analisa a documentação deferindo ou não cada candidatura e então é marcada a data da eleição.

_ Há detalhes, entretanto, que não estarão nos editais nem explícitas no processo eleitoral, mas que são essenciais a qualquer um que pretenda ser um membro, como cultivar a língua vernácula e defender os valores da cultura nacional e estadual, especialmente no campo literário; ter a consciência de que antes de qualquer coisa é preciso escrever literatura _ romance, novela, conto, crônica, poesia; produzir pesquisas, ensaios, estudos, críticas sobre artes plásticas, literatura, folclore, cinema, história, cotidiano, cultura etc. Após o ingresso, todo acadêmico precisa ter compromisso com a instituição. É prudente menos empáfia e mais humildade. E ter consciência da imortalidade acadêmica _ explica Pinheiro Neto.

Os editais para as cadeiras 5, 36 e 40 estão abertos. Antes de lançar o edital para as outras quatro vagas, a ACL ainda precisa cumprir o ritual estatutário, que são as sessões de saudade (uma para cada imortal).

QUEM SÃO OS ACADÊMICOS

1: Edy Leopoldo Tremel - advogado e escritor
2: Urda Alice Klueger - historiadora e escritora
3: Moacir Pereira - jornalista, advogado e escritor
4: João Alfredo Medeiros Vieira - advogado, jornalista e escritor
5: VAGA
6: Hugo Mund Júnior - poeta e artista plástico
7: Leatrice Moellmann - poeta, contista e cronista
8: VAGA
9 : João Nicolau Carvalho - advogado, jornalista e escritor
10: Júlio de Queiroz - filósofo, tradutor e escritor
11: Olsen Jr. - jornalista e escritor
12: Édson Ubaldo - advogado, poeta e escritor
13: José Artulino Besen - padre e escritor
14: VAGA
15: Celestino Sachet - advogado e escritor
16: VAGA
17: Gilberto Gerlach - historiador e cinéfilo
18: José Curi - filósofo e escritor
19: Sérgio da Costa Ramos - advogado, ensaísta, cronista e crítico literário
20: Miro Morais, escritor
21: VAGA
22: Antônio Carlos Konder Reis - advogado, economista, museólogo, político e escritor
23: Flávio José Cardozo - jornalista e escritor
24: Liberato Manuel Pinheiro Neto - jornalista, professor e poeta
25: C. Ronald, escritor e artista
26: Lélia Nunes, escritora
27: Pedro Bertolino - filósofo e poeta
28: Péricles Prade - advogado, jornalista e escritor
29: Napoleão Xavier do Amarante - advogado e escritor
30: Jali Meirinho - historiador e jornalista
31: Walter Piazza - professor, historiador e escritor
32: Amilcar Neves - engenheiro, escritor e cronista
33: Silveira de Souza - jornalista e escritor
34: Osvaldo Della Giustina - filósofo, jornalista e historiador
35: Rodrigo de Haro - poeta, pensador e artista plástico
36: VAGA
37: Artêmio Zanon - advogado e poeta
38: Salomão Ribas Júnior - radialista, advogado, político e escritor
39: Gilberto Callado de Oliveira - escritor
40: VAGA

 

 

DIÁRIO CATARINENSE