Se minha barriga mandasse, eu assistiria a todos os programas culinários. (Hum, acho que o da Bela Gil não.) Porque ela — a barriga, não a Bela Gil — pode ignorar a falta de tempo, o estresse do trabalho, as contas a pagar, as filhas a criar. Não são os bifes Wellington ou as bouillabasses, contudo, que me põem diante da TV por duas horas nas noites de terça. O MasterChef Brasil seduziu outras duas partes: o cérebro e o coração.

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Desde que a febre me pegou, no segundo episódio desta temporada, sou impelido a discutir o programa (uns 17 leitores acompanham meus posts no Facebook). A comida é quase um detalhe. O prato principal são os personagens.

Os comentários ácidos de Jacquin, Paola e Fogaça já me fizeram refletir: quem de nós não gostaria de saciar um apetite por dizer verdades cruéis — e muitas vezes necessárias? Os concorrentes encarnam um microcosmo de qualquer ambiente de trabalho.

Cristiano é aquele seu colega que baixa a cabeça e dá duro, sem papo. Raul é o cara talentoso que se autodeprecia, talvez por insegurança, talvez por defesa. Jiang é invenção, Izabel é paixão. Carla era a mãezona, Fernando, o falso líder — em vez de salvar alguém de sua equipe, salvou a si mesmo.

Mas, como na vida real e na melhor ficção, esses personagens não estavam limitados a um perfil. Idiossincrasias se mostraram um tempero delicioso e decisivo para o sucesso do MasterChef. O simpático Cristiano guardava sob o avental um lado rancoroso. Rígido, o chef Fogaça emocionou ao revelar sua frustração: não poder cozinhar para sua filha, que se alimenta por sonda e não sente o gosto da comida.

Ao elenco forte, soma-se uma edição saborosa, que, combinada à trilha sonora, é feliz na criação do suspense: Lucas conseguirá terminar a prova no tempo? O filé do Marcos ficou no ponto certo? Com que roupa esquisita a Ana Paula Padrão vai aparecer hoje?

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