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Itapema FM  | 27/08/2015 04h06min

Gustavo Brigatti: a volta do bromance com "Gears of War"

Clássico do XBox 360 prova que envelheceu bem na excelente remasterização para console XBox One

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Sujeitos com cara de quem comeu e não gostou, abrindo caminho por um mundo em ruínas, vestindo armaduras de meia tonelada banhadas em sangue de monstros destrinchados pelas motosserras acopladas a suas metralhadoras. Acreditem ou não, isso é romance. Ou melhor: bromance.

Pelo menos no universo de Gears of Wars, que volta remasterizado para XBox One. Lançado exclusivamente para XBox 360 em 2006, o primeiro jogo da franquia tornou-se um clássico instantâneo quando o console da Microsoft completava meros dois anos de vida. Entre os méritos, estavam dosagem correta de desafio e diversão, história imersiva, jogabilidade fluida e personagens carismáticos, que comungavam sincero amor fraternal.

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Seu retorno agora se dá em grande estilo e com dignidade. Com respeito ao cânone original, a desenvolvedora The Coalition repaginou gráficos e som para atual geração de consoles – mudança perceptível especialmente nas cutscenes, algumas refeitas do zero. O único reparo é no sistema de troca de armas, que poderia ter sido melhorado para um simples apertar de botão (como acabou acontecendo mais adiante em Judgement), mas foi mantido como no original.

Para mim, no entanto, o reencontro com o jogo se dá em um nível mais subjetivo. Conheci a série em seu segundo capítulo, quando comprei um XBox 360, no começo de 2009. Na época, fazia dois anos que tinha vindo de Americana para Porto Alegre e morava em uma kitnet, tentando me acostumar com a ideia de estar sozinho em uma cidade que não conhecia. Era complicado especialmente por estar longe da família e dos amigos, o que fez a história de Marcus Fenix e Dominic Santiago bater fundo.



Veja bem, Marcus e Dom, assim como seus parceiros protagonistas da série, não são modelos de comportamento. São sujeitos brutos, de pavio curto, violentos, que tomam decisões questionáveis obedecendo às ordens de gente duvidosa. E não estão em conflito contra uma raça subterrânea de monstros porque consideram ser o mais correto, mas para achar seus entes queridos e, no processo, encontrar alguma redenção no meio de toda a loucura que é uma guerra.

Mais importante: no campo de batalha, morreriam um pelo outro. Quando um cai, ferido, o outro corre para levantar. Ninguém avança sem que esteja todo mundo em condições. Nada mais importa além do bem estar do seu companheiro. É por ele, pelo cara que está do seu lado no flanco, que você avança, recua, cria estratégias, poupa munição e se sacrifica. Não é pelo seu comandante, pelo seu país, pela sua bandeira, por grana ou por algum ideal que não faz nenhum sentido quando as metralhadoras começam a cuspir. É simplesmente pelo seu parceiro. Pelo seu bróder.

Era disso que eu sentia falta, de laços que podem parecer meio extremos e absurdos quando analisados por outra ótica, mas que no universo masculino são naturais. É algo que talvez esteja se perdendo, não sei se para o bem ou para o mal, mas que é muito presente no jogo e que GoW me proporcionou, reaproximando-me, assim, de amigos que havia perdido para a distância física.

De repente, Galo, Beraldexxx e Magossi, três dos meus mais valiosos parceiros, passaram a frequentar a minha sala minúscula, agora encarnados nos personagens do jogo. De repente, estava de novo integrado, estava entre iguais, estava podendo fazer, no jogo, o que eu faria na vida real por ele. A solidão diminuiu, enquanto nossos laços se estreitaram.

No final, Gears of War não é sobre matar ou morrer, salvar ou não a raça humana. É sobre sobre amizade, cumplicidade e confiança. Irmandade de espírito. Sentimentos que Marcus e Dom me ajudaram a resgatar.

SEGUNDO CADERNO
Divulgação / 

À frente, Dom (esq.) e Marcus (dir.) lutam mais pelos seus iguais do que pela humanidade
Foto:  Divulgação


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