Itapema FM | 04/08/2015 07h02min
Na mesa da sala do apartamento onde vive em Florianópolis, Mena Wendhausen, 61 anos, exibe tudo o que conseguiu reunir ao longo dos anos sobre o tio com quem esteve apenas uma vez. Fotos, cartões-postais, discos, livros, textos publicados na internet. Faz isso não só para recuperar um pedaço da própria história familiar, mas também para contá-la em um livro que pretende escrever sobre a vida e obra de Walter Wendhausen, pintor modernista nascido em 1920 na Capital catarinense e radicado no Rio de Janeiro no final dos anos 40.
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Utilizando rodas de bicicletas, telefones velhos, tampas de creme dental e todo tipo de sucata para criar, ele alcançou reconhecimento no meio artístico carioca, sendo considerado um expoente da renovação das artes plásticas na década de 60.
- Hermínio Bello de Carvalho, amigo, compositor e produtor musical, conta que o apartamento onde meu tio vivia com o pintor Luis Canabrava, no Rio, era um verdadeiro centro cultural. Paulinho da Viola, Harry Laus, Elizeth Cardoso e muitos outros artistas e intelectuais varavam a noite bebendo, ouvindo discos e recitando poesias - conta Mena.
A vida boêmia era mantida com a venda de obras e com os trabalhos de ilustrador no departamento de publicidade das lojas Mesbla e crítico musical da revista Leitura.
- Ele era um pintor vanguardista com um trabalho muito diferente e avançado para a época, mas em Santa Catarina pouca gente conhece sua história - afirma o pintor catarinense Tércio da Gama, 82 anos, contemporâneo de Wendhausen.
Obra Fragmentos (1969) faz parte do acervo do Masc.
Foto: Jesse Giotti
Guerra X Arte
Caçula de uma família de quatro irmãos, Walter demonstrava talento para o desenho desde a infância. Na juventude, ficou conhecido por desenhar murais no quartel onde era soldado - anos depois foi voluntário da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Mas a vocação para as artes venceu. Ao voltar do campo de batalha, passou a fazer parte do Círculo de Arte Moderna de Santa Catarina, trabalhando como cenógrafo para montagens de obras de Sartre, Pirandello e outros grandes nomes até decidir estudar desenho e pintura no Rio, em 1949.
Exposição em Florianópolis
A primeira e única exposição na Capital ocorreu em novembro de 1968, no Museu de Arte Moderna de Florianópolis (MAMF), que depois passou a se chamar Museu de Arte de Santa Catarina (MASC). Convidado pelo amigo e escritor catarinense Miro Morais, Wendhausen retornou à cidade para apresentar obras inspiradas em planetas e estrelas. Pela primeira vez, Mena ficara frente a frente com o irmão do pai de quem tanto ouvia falar.
Pintura em papel cartão enviada pelo artista, que vivia no Rio de Janeiro, à família em Florianópolis. Foto: Charles Guerra- Walter era tímido e de uma sensibilidade imensa. Acreditava que a sociedade precisava ser reconstruída e abordava isso em sua obra de maneira instigante, utilizando sucatas - lembra.
No início dos anos 70, o artista ficou doente. A cantora Elizeth Cardoso chegou a organizar um show beneficente para arrecadar dinheiro para o tratamento do amigo, mas não adiantou. Em 1973, ele morreu aos 53 anos, no Rio de Janeiro, por conta de um grave distúrbio circulatório.
Em Santa Catarina, apenas três obras dele fazem parte do acervo permanente do Masc. Temendo que o tempo apague a história do tio, Mena segue em busca de informações, documentos e pessoas que conviveram com Wendhausen:
- Gostaria que a vida e obra dele fossem conhecidas e valorizadas pelo povo de sua terra.
Crítica
O catálogo da exposição de 1968, no Masc, trazia críticas sobre o trabalho do artista publicadas em jornais do Rio de Janeiro:
"Alguns quadros de Walter atingem o nível da pintura internacional."
Antônio Bento (Jornal Última Hora)
"Walter Wendhausen, este romântico repórter da sucata, já num estágio maior de compreensão das possibilidades expressivas do áspero material que escolheu, um dos poucos brasileiros na internacional Academia do Ferro Velho."
Jayme Mauricio (Jornal Correio da Manhã)
Amizade com Elizeth Cardoso rendeu parcerias artísticas. Duas capas de discos da cantora foram criadas por Wendhausen: Elizeth Sobe o Morro (1965) e A Enluarada Elizeth (1967)
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