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Itapema FM  | 30/07/2015 18h35min

Mesmo desclassificados, dois grupos são convidados para a Noite dos Campeões do Festival de Dança de Joinville

Grupo Especial da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos e Cia. de Dança Kahal ultrapassaram o limite de tempo, mas obtiveram nota máxima em seus gêneros

Atualizada em 31/07/2015 às 11h03min Cláudia Morriesen  |  claudia.morriesen@an.com.br

Correção: Até as 11 horas desta sexta-feira, 30 de julho, a matéria informava que a Noite dos Campeões começa às 20 horas. O horário correto é 19 horas.

 

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Dois casos de coreografias e apresentações acima da média entre os concorrentes da Mostra Competitiva do Festival de Dança de Joinville levaram a uma decisão inédita no maior evento de dança de mundo: mesmo desclassificados por questões técnicas, o Grupo Especial da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos e a Cia. de Dança Kahal foram convidados para participarem da Noite dos Campeões, em 1º de agosto.

A apresentação do Grupo Especial da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos, que ocorreu na sexta noite competitiva, nesta quarta-feira, gerou comoção entre o público e os participantes do Festival de Joinville, com a repercussão indo parar nas redes sociais. 

Noite de Walpurgis, balé de Leonid Lavrovsky que recebeu adaptação do coreógrafo Jorge Texeira para o Grupo Especial, foi aplaudida durante e, principalmente, após a apresentação, em um momento de ovação impressionante para os que geralmente ocorrem no Festival — que é famoso pela empolgação de sua plateia.

— Pessoas choraram e até os jurados aplaudiram de pé. Depois, alguns deles nos disseram que chegaram a soltar a caneta e o papel porque, para eles, estavam diante de um verdadeiro espetáculo — conta o coordenador artístico da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos, Saulo Sinelon.

Quando a Mostra Competitiva acabou e chegou a hora da divulgação dos resultados, que tradicionalmente ocorre na Feira da Sapatilha, veio o choque: o grupo não havia se classificado em nenhuma posição entre os primeiros lugares.

— A organização do evento não avisou que havíamos sido desclassificados, então foi inesperado. O público começou a gritar em nossa defesa e até os outros grupos não concordaram com a ausência do nosso nome. Os jurados começaram a ser agredidos verbalmente, então eles começaram a se manifestar para explicar o que havia ocorrido.

O problema: por 28 segundos, a Noite de Walpurgis do Grupo Especial da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos ultrapassou o limite de tempo máximo que uma apresentação de balé clássico de repertório pode alcançar. Se em período de tempo parece muito pouco, no palco, este número é grande: o regulamento tem uma tolerância de até 15 segundos, o que ainda deixava o grupo com 13 segundos a mais de apresentação. Por isso, mesmo obtendo a nota mais alta de seu gênero e modalidade (conjunto sênior de balé clássico de repertório), o Grupo Especial foi desclassificado.

— Foi erro nosso. Somamos a minutagem pelo celular e achamos que estava no tempo certo — explicou Saulo, referindo-se à diferença de fazer o cálculo tendo a base sessenta, e não a base dez, que é utilizada no dia a dia para a maioria das contas.

Sem tanta repercussão, a mesma situação havia ocorrido uma noite antes com a Cia de Dança Kahal, de Jundiaí. A coreografia Jogos de Mesa foi apresentada na Mostra Competitiva como duo sênior de danças urbanas, mas não foi anunciada ao fim da noite entre os três primeiros lugares.  

— Quando a apresentação acabou, todos ficaram em silêncio na plateia. De repente, os pés começaram a bater no chão e os aplausos começaram. Foi gostoso de ouvir — conta a bailarina Taysa Copelli.

No caso da Cia. de Dança Kahal, o tempo ultrapassou em 23 segundos, com oito segundos ultrapassando a tolerância da regra. Segundo a banca de jurados, em reunião com o coreógrafo Henry Camargo, o trabalho não receberia nenhuma crítica: ele era sensacional e inovador, tinha nota de primeiro lugar e Henry estaria entre os concorrentes ao prêmio especial de melhor coreógrafo, enquanto o grupo concorreria a melhor grupo e ao Prêmio Estímulo. Tudo foi perdido por um erro de atenção.

— Foi besteira: contamos o tempo da música, sem lembrar que havia um momento na coreografia que não tinha trilha, que é mais interpretativa — assume Taysa.



Festival com foco na arte

Apesar de reconhecer a qualidade dos trabalhos em questão, a organização do Festival de Dança de Joinville não deixou de penalizá-los pelos erros. Em compensação, ambos foram convidados para participar da Noite dos Campeões, em 1º de agosto. Eles não terão direito a medalhas e nem poderão concorrer aos prêmios especiais, para os quais naturalmente estariam bem cotados, mas estarão no palco entre os melhores da 33ª edição do Festival de Joinville.

— Houve um belíssimo trabalho, mas o regulamento deve ser seguido — analisa o coordenador-geral do Festival, Victor Aronis.

O curador artístico do evento, o primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro Marcelo Misailidis, concorda com Victor:

— Foi a falta de atenção que desclassificou os grupos. Por melhor que a avaliação da composição artística tenha sido, eles precisam seguir o regulamento. É como as leis de um país: não pode-se mudar uma lei só por causa de uma situação isolada — diz Marcelo.

Segundo o curador, a comoção em torno do trabalho do Grupo Especial da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos tem explicação: ela atingiu seu objetivo na graduação técnica, aquela que é esperada por todos aqueles que fazem balé.

— A técnica é usada como aspecto finalizador da arte, mas, quando não há mais o subterfúgio de linguagem acadêmica, e sim a linguagem teatral plena, quer dizer, quando o nível de maturidade atinge seu apogeu, o trabalho escapa de seus contornos para se tornar um objeto artístico. [Na apresentação do Grupo Especial], todos os elementos — a dinâmica, a mise-én-scene, a técnica — fazem com que não seja mais necessário observar se houve pequenas falhas, porque o trabalho está emoldurado em atmosfera artística — explica ele — Para a banca de jurados, não houve dúvida de que estávamos diante de uma dessas joias que só acontecem de tempos em tempos no Festival de Joinville.

Marcelo completa que, no caso da Cia. de Dança Kahal, a situação é a mesma: a coreografia estava acima da curva da média em comparação aos seus concorrentes, que é o resultado que a curadoria artística do evento espera que todos os participantes alcancem.

No entanto, apesar do caráter competitivo do Festival de Joinville, curadores, jurados e o instituto organizador chegaram à conclusão de que existe um aparato artístico e educacional que norteia o evento e que cria a possibilidade de convidar os dois grupos de apresentarem-se na Noite dos Campeões, mesmo que estes não recebam premiações: uma forma também de garantir que o público tenha acesso a apresentações artísticas relevantes.

— Nossa apresentação foi algo especial, uma noite de arte. Isso às vezes fica de lado no Festival de Joinville, por ser um evento competitivo. Nossos bailarinos são jovens, estão em busca de medalhas, mas o lado artístico, que não se julga, superou a competição — elogia Saulo, da Escola Municipal de Bailados de Ourinhos.

A Noite dos Campeões ocorre em 1º de agosto, às 19 horas, no Centreventos Cau Hansen. Os ingressos já estão esgotados, mas, 15 minutos antes do início da apresentação a bilheteria libera convites e vale-ingressos que não foram resgatados, dando chance àqueles que buscam uma cadeira livre. 

A NOTÍCIA
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