Notícias

Itapema FM  | 13/07/2015 07h01min

Mario Prata lança livro de entrevistas imaginárias com personalidades brasileiras

Pedro Álvares Cabral e outros ilustres "contam" histórias instigantes a Mario Prata, em "Mario Prata Entrevista Uns Brasileiros"

Sansara Buriti, especial  |  buritisansara@gmail.com

O mineiro criado em São Paulo e radicado em Florianópolis há mais de uma década, Mario Prata, 69 anos, abre as portas do seu apartamento na beira do mar, em Canajurê, para falar do processo de criação do livro Mario Prata Entrevista Uns Brasileiros, um delicioso e cômico relato da formação da sociedade brasileira.

Como surgiu a ideia de "entrevistar" pessoas mortas?

O dono da revista Brasileiros, que é meu amigo, vivia me pedindo para colaborar com entrevistas, aí falei que faria, mas só se pudesse "entrevistar" personalidades mortas. Comecei a escrever e a gostar da coisa. Depois surgiu o convite da editora Record para fazer o livro. Defini que seriam 22 entrevistas e quando organizei o material em ordem cronológica percebi um registro da nossa raça: começa com os índios e os portugueses, depois tem a chegada dos negros, e essas foram as raças que formaram o Brasil até a chegada de outros imigrantes.

No final do século 19, fiz a entrevista com o maestro Carlos Gomes que é a síntese do povo brasileiro, pois era descendente dessas três raças. Decidi que precisava encerrar o livro com um branquelo. Lembrei do Charles Miller, e ele me atendeu prontamente. Durante a entrevista tomamos uma garrafa de uísque. Aliás, enchi a cara com todo mundo nesse livro!

Como foi a pesquisa histórica dessas personalidades?

Pesquisei muita coisa na internet e também consultei os amigos Fernando de Morais (escritor e biógrafo), Mary del Priori (escritora e historiadora), Matthew Shirts (historiador brasilianista) e Angela Marques da Costa (historiadora). Fui me surpreendendo com as descobertas. O Dom João VI tinha um masturbador profissional, um cara contratado para isso, chamado Chico Lobato. O maestro Carlos Gomes alisava os cabelos negros e encaracolados com ferro de passar.

Tem também a história do escravo que tentou suicídio ao saber que tinha sido comprado por Aleijadinho.  Considerado nosso maior artista plástico, ele tinha o rosto e corpo deformados por uma doença degenerativa.  O escravo não morreu e acabou se tornando auxiliar e amigo de Aleijadinho.

Qual "entrevista" você gostou mais de fazer?

Sem querer fazer média, gostei de todas. Mas com o Charles Miller eu podia ficar conversando por muito tempo, pois adoro futebol. Ele nasceu em São Paulo, ainda no Império, filho de um escocês chamado John d’Silva Miller e de dona Carlota Fox, brasileira filha de ingleses. O pai dele veio para o Brasil trabalhar na construção da primeira estrada de ferro, a Santos-Jundiaí.

 Aos dez anos, Charles foi estudar na Inglaterra. Quando voltou dez anos depois, em 1894, trouxe camisas, bolas, um apito e um livrinho com as regras do futebol. Ele organizou uma partida entre os funcionários da companhia da estrada de ferro e o pessoal da companhia de gás e foi o maior sucesso, um troço que pegou igual Facebook. No dia seguinte tinha 2 milhões de pessoas jogando futebol no Brasil. E foi esse esporte que consagrou muitos negros brasileiros, como Pelé e Garrincha.

Fazer entrevistas, seja com gente viva ou morta (risos), é algo que você tem bastante experiência, já que começou a carreira em jornal. Mas como foi a transição para o trabalho de escritor e dramaturgo?

Quando eu tinha nove anos, meu pai alugou uma casa em Lins, interior de São Paulo, bem na frente da Gazeta de Lins. A redação do jornal tinha cheiro de chumbo por causa da linotipo, máquina que fazia linha por linha do texto. Era uma mágica aquilo! 
Aos 14, comecei a escrever uma coluna social nesse jornal, em seguida crônicas e outras coisas.

Depois resolvi ir para a capital, pois havia passado num concurso do Banco do Brasil. Aos 23, trabalhava e cursava o último ano da faculdade de economia da USP. Nessa época, comecei a escrever uma peça de teatro que deu muito certo, foi encenada no Rio, em São Paulo, tinha o Marco Nanini no elenco.

O sucesso fez com que eu largasse a faculdade e o banco. Minha família tomou um baque, meu tio que era padre veio de Uberaba até São Paulo para conversar comigo, achavam que eu estava possuído pelo demônio.
Hoje tenho um pequeno arrependimento quando vejo o valor da aposentadoria do Banco do Brasil e comparo com a que eu ganho (risos).

Seu filho, Antonio Prata, também é escritor. Aliás, já faz um tempo que ele deixou de ser conhecido como "o filho do Mario Prata". Agora você é que é reconhecido como "o pai do Antonio Prata." Como você sente?

Sempre tem o perigo da "síndrome do Zoca". Quando o Pelé voltou da Copa da Suécia, em 1958, ele dizia que bom era o Zoca, o irmão dele. Levaram o Zoca para o Santos, mas ele não jogava bem, era só irmão do Pelé. Eu tinha esse medo com o Antonio.
Um dia, na casa do Luis Fernando Veríssimo, estava o Chico Buarque e ele discutindo quem tinha falado primeiro que o Antonio era fantástico. Me sinto honrado e orgulhoso em ser pai dele. Ele escreve crônicas muito melhor do que eu.

Quais os próximos projetos?

Estou escrevendo um conto policial para o livro São Paulo Noir, organizado pelo Tony Belloto. É uma série internacional que se passa em várias cidades. Também comecei a entrevistar personalidades estrangeiras. Já entrevistei Marylin Monroe, Hitler, Cleópatra e James Dean. Tem muita gente que diz que o James Dean está vivo, escondido por aí. Mas estive com ele e garanto, ele está morto. O bom de entrevistar morto é que morto não mente!

Leia mais notícias sobre literatura


Mario Prata Entrevista Uns Brasileiros.
De Mario Prata.
Editora Record. 248 págs. R$ 35

DIÁRIO CATARINENSE
Charles Guerra / Agencia RBS

Humor, ficção e história se misturam em novo livro de Mario Prata.
Foto:  Charles Guerra  /  Agencia RBS


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.