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Itapema FM  | 08/07/2015 10h08min

Gustavo Brigatti: precisamos falar sobre o Coringa de "Arkham Knight"

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Sim, Batman: Arkham Knight é um jogo legal. Sendo bem pragmático, é um dos melhores custos-benefícios do ano: bonito, longo e divertido. Pau a pau com The Witcher 3. Mas não foi isso que me fisgou. Não foi isso que me fez varar madrugadas inteiras. Foi outra coisa.



E A PARTIR DAQUI VOCÊ PODE PARAR DE LER SE NÃO QUISER SPOILERS



Arkham Knight é o jogo do Coringa. Não só o jogo, mas sua melhor representação até hoje em qualquer meio audiovisual. Esqueça Jack Nicholson, esqueça Heath Ledger. Mark Hamill encarna pela terceira vez o vilão na série e faz um trabalho digno de um Oscar.

Se você acompanha a série desde o primeiro jogo, Arkham Asylum, sabe do que eu estou falando. Sabe, também, que ele efetivamente morreu no episódio anterior, Arkham City, e que continua morto neste _ ponto para a Rocksteady, que respeitou a inteligência do público e não ressuscitou o personagem de alguma maneira bizarra. Era, aliás, o que eu estava esperando. Estava realmente esperando ser feito de idiota. Mas não fui.

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Entenda uma coisa: você começa incinerando o cadáver do Coringa ao som de I've Got You Under My Skin na interpretação clássica de Frank Sinatra. É a primeira cena de Arkham Knight, uma afirmação de princípios e respeito com o que está sendo contado. Mas o sujeito é um personagem muito bom para ser desperdiçado, convenhamos. E o Espantalho, suposto grande vilão da trama, é só um panaca megalomaníaco. O tal do Arkham Knight, tenha dó, genérico até a ponta das orelhas.

O Batman não poderia ficar sem o Coringa. Um não existe sem o outro. E quando o herói entra em contato pela primeira vez com a toxina do Espantalho, é aí que a música do funeral faz ainda mais sentido: o Coringa está dentro da cabeça do Batman. POW! A partir daí até o grande final, o Palhaço não sairá do lado do Homem Morcego.

Na maioria das vezes, mesmo de corpo presente, ele é apenas uma voz. Uma voz a questionar, da maneira mais sarcástica e cruel, toda a razão de existir do Batman. As escolhas pessoais que precisou sacrificar, os amigos que perdeu até ali, uma vida dedicada a manter limpa uma cidade que sequer sabe ser agradecida. Pior do que ter uma consciência punitiva, é essa consciência ser o seu negativo.

E é aí que mora a mágica de Arkham Knight. A guerra de nervos travada entre o Coringa e o Batman é semelhante a de A Piada Mortal, quando o primeiro quer provar ao segundo que o que separa um homem são de um lunático é apenas um dia ruim. Ou, no caso, uma noite ruim, que é precisamente o que Bruce Wayne está tendo. Nada a ver com a luta contra criminosos ou os vilões de sempre: o pior desse longo Halloween está nas entrelinhas mais íntimas, exploradas à exaustão.

O Charada está com a Mulher Gato, amor platônico do Batman; o Pinguim está dando trabalho para o Asa Noturna (Dick Grayson, o primeiro Robin); o atual Robin, Tim Drake, é fonte de dúvida e preocupação constante; Barbara Gordon acaba nas mãos do Espantalho, assim como seu pai mais tarde; e o pior de todos: Jason Todd, o segundo Robin, torturado mental e fisicamente pelo Coringa e transformado no tal Arkham Knight.

A chantagem "ah, veja só, todos que se aproxima de você acabam sofrendo" não é novidade. E nem é esse o objetivo do Coringa. Ele não quer magoar o Batman, por favor. Ele quer é fritar o cérebro do morcego, dobrar sua moral, fazê-lo abrir mão de todos os seus princípio, desistir da luta para, então, tomar conta do seu corpo – uma vez que o dele próprio virou churrasco.

Porque ao contrário do Batman, que age nas sombras, avesso a publicidade, o Coringa quer ser lembrado para sempre. Ele não quer morrer. E diferentemente do Batman, que é mais uma ideia do que uma pessoa, só existe um Coringa. Sua batalha, desde o primeiro jogo da série, sempre foi a de continuar existindo. Pinguim, Duas Caras, Charada, Cara de Barro, Espantalho, são todos criminosos com objetivos mesquinhos e mundanos. Querem dinheiro, querem poder, querem fama, querem domínio.

O Coringa, não. Ele quer apenas continuar a existir. Por que ele sabe que enquanto ele existir, nada estará seguro. Sua programação é simples como a de um vírus. O Coringa é uma condição, uma doença a infectar corpos saudáveis – e isso fica especialmente claro em Arkham Knight. E tal qual um vírus hiper resistente, ele não pode ser totalmente erradicado. No máximo, e por pouco tempo, controlado.

Batman, no fundo de sua cabeça, sabe disso mais do que ninguém. Porque é lá que ele literalmente tranca o rival. Os inimigos, como sabemos, precisam ser mantido bem próximos. Neste caso, custou apenas a sanidade de um homem. Uma troca que ele topou e estava disposto a fazer desde o início. Não poderia ser diferente.

SEGUNDO CADERNO
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