Fãs na porta de hotéis, coletivas de imprensa disputadas e milhões de seguidores nas redes sociais: John Green é um dos poucos escritores com status de popstar. O trabalho do autor de 37 anos avança mais um largo passo em popularidade com a estreia amanhã da adaptação para o cinema do livro Cidades de Papel, lançado por ele em 2008.

Adaptação do livro de John Green, "Cidades de Papel" aposta no humor e no mistério; leia a crítica

O filme chega um ano depois do lacrimejante e exitoso A Culpa É das Estrelas, longa mais visto no Brasil em 2014 (6,1 milhões de espectadores), sobre a história de amor entre dois jovens na luta contra o câncer. Coadjuvante deste primeiro filme, protagonista do longa que chega agora às telas e, como muitos de sua geração, leitor de John Green, o ator Nat Wolff, 20 anos, arrisca uma explicação para tamanho sucesso:

– John descreve os adolescentes como indivíduos complexos, assim como quaisquer outras pessoas – disse Nat na entrevista coletiva concedida na semana passada, no Rio, ao lado do escritor.

Mais leve e divertido do que A Culpa É das Estrelas, Cidades de Papel narra a história de um jovem que investiga o sumiço de uma colega de classe, sua paixão platônica. O filme valoriza a importância da amizade e de não idealizar pessoas ou relações. Em entrevista a ZH, Green afirmou que uma das suas inspirações para o livro foi a frase "I contain multitudes" (algo como "Eu contenho multidões"), do poema Folhas de Relva, de Walt Whitman (1819 – 1892):

– Todos contemos multidões. Os personagens se veem de modo muito simples inicialmente e depois aprendem que todos contêm multidões – filosofa o autor.

John Green e Nat Wolff comentam referências de "Cidades de Papel" em entrevista para ZH:

Apesar da pinta de bom-moço e de promover campanhas de doações para instituições de caridade junto a seus fãs, Green não poupa seus personagens ao tentar expor suas multiplicidades. Seus protagonistas são compreensivos e solidários, mas também capazes de invadir prédios públicos e privados e subornar vigias apenas para se divertir ou se vingar de um amigo ou namorado infiel – e geralmente saem impunes.

– Não sinto nenhuma motivação pelo politicamente correto, o que me move é contar uma história com honestidade – afirma Green.

O autor diz que ainda não tem planos para um novo livro, mas já avisa que não pretende mudar de público-alvo:

– Gosto de escrever sobre adolescentes. Ao mesmo tempo em que os jovens querem ter os prazeres e as responsabilidades dos adultos, também se sentem novos, livres e selvagens. São duas linguagens diferentes, é muito bom poder explorá-las juntas.

Assista ao trailer do filme:

Irmandade de fãs

Antes mesmo de publicar seu primeiro livro no Brasil – em 2010, Quem É Você, Alasca? (2005) –, John Green já tinha uma comunidade ativa de fãs que lia seus romances em inglês e acompanhava o escritor em projetos como o Vlogbrothers, canal no YouTube em que ele conversa com o irmão Hank sobre diferentes assuntos.

– Recebo muitos e-mails de leitores do Brasil e sempre me impressiono com a qualidade da leitura deles e a profundidade com que se relacionam com meu trabalho – contou Green.

Foi com alguma pressão desse grupo de admiradores, conhecidos como nerdfighters, que editores passaram a publicar as obras do autor no país:

– Mandamos muitos e-mails e insistimos para as editoras – afirma Lais Baptista, 25 anos, frequentadora da comunidade Nerdfighters Brasil no Facebook, que tem 4 mil participantes. – Ele entrou no Brasil conquistando os adolescentes, público que tem a vantagem de não ter vergonha de falar muito sobre algo que gosta. Mas os livros atraem tanto jovens quanto adultos.

Em frente ao hotel no qual o escritor estava hospedado no Rio, dezenas de fãs se revezavam em busca de um autógrafo ou aceno do ídolo.

– Os fãs sempre me apoiaram e são extremamente cooperativos. Me sinto muito sortudo em ter uma irmandade como esta aqui – disse Green.

* O repórter viajou a convite da Fox Filmes