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Itapema FM  | 02/07/2015 11h07min

Quando o pinhão catarinense vira cerveja

Produto foi feito de forma sustentável e garrafas devem chegar aos supermercados nesta semana

Thiago Santaella  |  thiago.santaella@diario.com.br

O pinhão catarinense deixou de lado o entrevero e a paçoca para se aventurar em outro Estado, num novo tipo de consumo gastronômico: a cerveja. Uma cervejaria do Paraná, a Insana, resolveu aproveitar o sabor e o aroma da semente típica dessa época do ano, e da Região Sul. E fez tudo isso de forma sustentável.

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A experiência já tinha sido feita ano passado, com pinhões coletados no próprio Paraná. Neste ano, pela primeira vez, os produtos vêm da Serra catarinense, dos municípios de Urubici e Urupema. Foram comprados 800 kg de três famílias de agricultores que vivem dessa produção de forma sustentável. Por causa da iniciativa, foram preservados 40 hectares de florestas de araucárias e mais um hectare completamente preservado — sem nem mesmo a coleta das pinhas que caem naturalmente das árvores.

Foto: Vani Boza / Agência RBS

Os agricultores fazem parte do projeto Araucária+. E para tal, têm que seguir uma série de regras: a retirada do gado da área vinculada à produção sustentável, pois o pisoteio desses animais prejudica o crescimento de novas plantas, impedindo a regeneração da floresta; não realizar queimadas e nem utilizar agrotóxicos.

Em contrapartida, os produtores receberam R$ 4 pelo quilo do pinhão. Mais do que o preço médio da safra de 2015, na casa dos R$2,50 pelo mesmo peso.

— Não é pagar mais caro. É pagar mais correto — diz o mestre cervejeiro e sócio da cervejaria Insana, Pedro Reis.

A bebida é produzida sazonalmente, apenas quando a extração do pinhão é autorizada. Para 2015 foram envasadas 45 mil garrafas, que têm como destino principalmente os mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O produto deve chegar às prateleiras dos supermercados ainda nesta semana.

— É uma cerveja extremamente complexa, do tipo Barley Wine, como um vinho de cevada. Densa e licorosa. Lembra pinhão cozido e mel, com um final amargo do lúpulo — explica Reis, para quem se interessar.

Foto: Divulgação

POTENCIAL NA GASTRONOMIA

A ideia da cervejaria é criar um processo industrial, dentro de um manejo sustentável, para o pinhão. Uma pequena porta de entrada para o alimento em uma gastronomia mais universal, apesar de ele ser quase onipresente na culinária regional.

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Para se ter uma ideia, o primo europeu do pinhão, que vem do pinheiro europeu, chega ao Brasil custando R$ 100 o quilo. Por aqui, o preço no supermercado está próximo dos R$ 5. E o produto dificilmente chega a outras partes do próprio país.

PROJETO DE PRESERVAÇÃO

O projeto Araucária+ é uma parceria entre a Fundação CERTI e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Ele surgiu em 2012 após um estudo que propôs um modelo de conservação e de valorização da floresta de Araucária, um ecossistema ameaçado de extinção — tem hoje 3% da área que tinha antes da colonização do país.

— Pagamos 40% a mais por esses produtos diferenciados. E dois dos produtores também receberam pelo trabalho de descascar o pinhão, feito em uma cooperativa — explicou o coordenador do projeto, Rafael Kanke, do Centro de Economia Verde da CERTI.

No ano passado, um outro projeto ajudou a preservar 64 hectares dessas matas. O produto nativo, no entanto, era outro: a erva-mate. Usando critérios parecidos de sustentabilidade, foram exportadas para os EUA 20 toneladas do principal produto do chimarrão gaúcho e do chá-mate. Para quem não sabe, ele também é natural dessa floresta.

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Foto: Adriana Franciosi / Agência RBS

DIÁRIO CATARINENSE
Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS

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Foto:  Ricardo Wolffenbüttel  /  Agencia RBS


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