Um dia da caça, outro do caçador. O ditado tem algum sentido na carreira do baiano Wagner Moura, só que ao contrário. Depois de ficar conhecido como um policial linha-dura no filme Tropa de Elite, o ator mudou de lado em sua nova empreitada, interpretando não apenas um fora da lei, mas um dos bandidos mais infames da história: o traficante colombiano Pablo Escobar (1949 – 1993). Moura viverá o líder do Cartel de Medellín na série Narcos, que a Netflix estreia mundialmente em 28 de agosto.

Criado e produzido pelo cineasta brasileiro José Padilha (Tropa de Elite, Ônibus 174), o programa conta a história do narcotráfico a partir da popularização da cocaína, um processo comandado por Escobar na Colômbia desde os anos 1970. A primeira temporada contará com 10 episódios.

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– A estrutura narrativa de Narcos é muito parecida com a de Tropa: câmera na mão, voz em off... A vontade do Zé Padilha é de entender uma realidade e explicar para as pessoas, balanceando o lado épico com a ação, para que seja atrativa, e, ao mesmo tempo, revele uma realidade política e social – contou Moura em um evento de divulgação para jornalistas no início do mês, em São Paulo.

A série é narrada em inglês por um agente americano real (interpretado por Boyd Holbrook, de Garota Exemplar) que se mudou para a Colômbia a fim de combater o narcotráfico. O restante dos personagens, porém, fala em espanhol – inclusive o chileno Pedro Pascal (o Oberyn Martell de Game of Thrones, que, em Narcos, vive um policial colombiano) e, claro, o próprio Wagner Moura.

– Foi a parte mais difícil, porque eu não falava espanhol. Mas o bom é que tive tempo para me preparar. Comecei pelo básico: fui a Medellín, me matriculei em uma universidade e fiquei lá aprendendo e convivendo com as pessoas. E com o tempo fui pesquisando sobre Pablo, fui me aproximando mais dele – contou o ator baiano, que também precisou engordar 20 quilos para o papel.

Em Medellín, Moura pôde comprovar a complexidade da figura de Escobar – apesar de ter sido o maior traficante da história, ele é tido como herói por muita gente na cidade colombiana.

– Fui ao bairro Pablo Escobar, construído por Pablo. Ele deu 2 mil casas aos pobres que viviam em um lixão. A primeira coisa que se vê lá é a foto dele em um muro e, ao lado, a imagem do Menino Jesus. Agora, Pablo também inventou o narcoterrorismo. Ele chantageava o Estado metendo bombas na cidade – ponderou.


Pablo Escobar

O ator chamou atenção, contudo, para o fato de que Narcos não é sobre Escobar, mas sobre a história do narcotráfico. Portanto, se a série ganhar mais temporadas, nada impede que o foco mude da Colômbia para o México, por exemplo, hoje um polo de exportação de drogas ilegais.

Sobre a tendência de fazer papéis de pessoas que ficam no limiar da lei, Moura brinca:
– Personagens certinhos são muito chatos. Eu procuro personagens legais.


* A jornalista viajou a convite da Netflix