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Itapema FM  | 23/06/2015 07h01min

Na contramão da era digital, bandas catarinenses apostam no vinil para lançar trabalhos

Músicos e especialistas explicam como e por que o LP voltou a aquecer o mercado fonográfico

Camila Iara  |  camila.iara@santa.com.br

Em um mundo cada vez mais digital, os discos de vinil voltaram com tudo. E não são apenas os bolachões antigos, encontrados em sebos e lojas de antiguidades, que estão fazendo a cabeça do consumidor — muito além de meras relíquias, eles são hoje responsáveis por abocanhar uma fatia gorda do faturamento da indústria fonográfica.

Jorge Ben Jor, Pitty, Maria Rita e Justin Timberlake são exemplos de artistas consolidados e que decidiram apostar no LP para apresentar trabalhos ou relançar clássicos da carreira. Enquanto isso, em Santa Catarina bandas como Apicultores Clandestinos, Taunting Glaciers, Ruca Souza e Skrotes depositaram no vinil a esperança de um mercado mais aberto.

— As gravadoras já descobriram que existe um mercado para isso e estão produzindo desde bandas até trilhas sonoras de filmes em vinil. Na minha opinião isso é ótimo, porque é um dos jeitos mais legais de se colecionar música — opina Roberto de Lucena, vocalista da Taunting Glaciers, de Blumenau, que em breve vai lançar seu primeiro trabalho em vinil pelo selo HeartsBleedBlue.

::: "Vinil é mais do que colocar o som pra tocar", diz colecionador

Única fábrica de vinis da América Latina, a Polysom é a prova de que o negócio só faz crescer no Brasil. Ano passado a carioca anunciou um aumento de 62% nas vendas em relação a 2013, percentual que deve se repetir em 2015. Segundo João Augusto, consultor da empresa, são fabricadas entre 8 mil e 10 mil unidades de vinis por mês. Além de comercializar títulos importantes da música brasileira, a fábrica vem apostando em trabalhos de talentos contemporâneos como Cícero, Rodrigo Amarante e Marcelo Jeneci — prova de que não é só a leva old school que se interessa pelo formato.

— Entramos no projeto por necessidade da gravadora, que queria fabricar os discos de seus artistas. Não esperávamos que o mercado aquecesse dessa forma. A Polysom está certa de que precisa ampliar sua capacidade produtiva, e isso tem que ser uma postura constante, não pode parar. Estamos certos de que o movimento atual irá crescer muito mais — afirma João.

De artigo vintage a experiência sensorial

Apesar da procura tanto dos artistas quanto do público, gravar e vender um disco de vinil pode custar até cinco vezes mais do que um CD. Mesmo assim, o consultor da Polysom acredita que o produto não vai cair no ostracismo num futuro próximo:

— O vinil ainda é um produto caro, mas no instante em que conseguirmos baixar seus preços o consumo irá crescer exponencialmente — prevê João.

Existe ainda o lado romântico da coisa. Conhecida principalmente pelo trabalho com a banda Café Brasilis, a cantora itajaiense Ruca Souza sempre teve o sonho de ouvir as músicas que escreve em um bolachão. Foi a motivação que levou a artista a lançar em vinil seu primeiro álbum solo, Marte. Para ela, o LP ultrapassou o conceito midiático e se transformou em uma verdadeira experiência tátil, visual e auditiva:

— O vinil é uma oportunidade de parar e ouvir música, ele vai estar ali num estado mais cru da sonoridade. Acho que o mercado não só vai seguir firme e forte quanto vai continuar crescendo, porque tem quesitos artísticos que não são encontrados em outros formatos. A apreciação é completa: arte da capa grande suficiente para você poder curtir os detalhes, a beleza do disco, encartes exclusivos e o som, que é único. Além disso, muitas bandas já enviam cartões de códigos junto com os encartes para que os fãs que já tem o vinil baixem a versão digital grátis — explica.

O vocalista da Taunting Glaciers diz que o mercado aquecido tem tudo a ver com o desenvolvimento das mídias digitais e o crescimento da pirataria:

— O mercado está ávido para lançar novas formas de produtos que possam ser consumidos pelo público. Muitos reclamam de falta de incentivo e apoio às bandas, mas na verdade você que tem que fazer seu próprio caminho e mostrar que está ali para ficar, independente do sucesso financeiro — finaliza.

JORNAL DE SANTA CATARINA
Mariana Florêncio / Divulgação

A banda blumenauense Taunting Glaciers vai lançar seu primeiro vinil pelo selo HeartsBleedBlue
Foto:  Mariana Florêncio  /  Divulgação


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