Durvinha e Moreno tinham quase cem anos quando revelaram sua real identidade aos filhos. Nos anos 1930 e 40, em meio à caçada implacável aos cangaceiros que restavam no Nordeste, esconder o passado e recomeçar do zero era o último recurso de sobrevivência do casal. O reencontro com a verdade, tantas décadas depois, constitui um flagrante repleto de emoção, registrado pelo cineasta Wolney Oliveira em O Último Cangaceiro, que estreia nesta quinta-feira no Guion Center.

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Veja, abaixo, uma lista de filmes nacionais de cangaceiros

Durvinha morreu em 2008, aos 92 anos. Moreno, em 2010, aos 99. Só agora, no entanto, o cearense Oliveira (diretor de Milagre em Juazeiro, entre outros longas) traz a público o documentário que relembra a história da dupla, os últimos integrantes remanescentes do bando do "rei do cangaço" Lampião (1898 – 1938).

No longa, Durvinha e Moreno recuperam memórias espantosamente intactas daquele tempo de guerra entre os justiceiros do sertão e as chamadas Forças Volantes, repressão organizada por policiais e sertanejos. Os ex-cangaceiros veem os raros filmes dos velhos parceiros e falam sobre eles. "Era uma debochada", diz Durvinha ao identificar Maria Bonita em imagens registradas por Benjamin Abraão em 1936. "Ela tinha risada de rapariga."

São os historiadores que dão a real sobre a periculosidade da dupla, especialmente Moreno. "Mais de mil pessoas chegaram a caçá-lo simultaneamente", descreve um pesquisador ouvido por Oliveira. Os Últimos Cangaceiros não deixa perguntas no ar: saímos do cinema sabendo a exata dimensão daqueles personagens extraordinários.

Há mais. Oliveira é muito feliz ao falar das mulheres naquele contexto, emendando no assunto a sequência do encontro de Durvinha com uma cangaceira mais jovem. Outro paralelismo rico se dá quando misturam-se cenas de dança – atuais, junto a familiares, com imagens de arquivo, junto a Lampião e companhia. Também funciona bem demais a narração de um radialista a descrever a visita do casal a lugares por onde passaram oito décadas antes. Nesse trecho específico, é inevitável lembrar do maior clássico sobre os foras-da-lei tupiniquins – O Bandido da Luz Vermelha (1968).

Os anti-heróis preferidos do cinema nacional ganharam, com Os Últimos Cangaceiros, um registro documental à altura de sua importância no imaginário do país.

Os Últimos Cangaceiros
De Wolney Oliveira
Documentário, Brasil, 2015, 80 minutos.
Cotação: 4 estrelas (de 5).

Alguns filmes nacionais de cangaceiros através das décadas
O cinema brasileiro já teve inclusive um "ciclo do cangaço", nos anos 1960, para identificar os longas-metragens que põem em evidência a figura dos matadores do sertão. Confira uma lista com 15 dos mais destacados títulos deste subgênero genuinamente nacional:

O Cangaceiro, de Victor Lima Barreto (1953)
A Morte Comanda o Cangaço, de Carlos Coimbra (1961)
Nordeste Sangrento, de Wilson Silva (1963)
O Cabeleira, de Milton Amaral (1963)
Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha (1964)
Lampião, o Rei do Cangaço, de Carlos Coimbra (1964)
Memória do Cangaço, de Paulo Gil Soares (1964)
Meu Nome É Lampião, de Mozael Silveira (1969)
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha (1969)
Corisco, o Diabo Loiro, de Carlos Coimbra (1969)
Faustão, o Cangaceiro do Rei, de Eduardo Coutinho (1971)
O Último Dia de Lampião, de Maurice Capovilla (1975)
A Mulher no Cangaço, de Hermano Penna (1976)
O Cangaceiro do Diabo, de Tião Valadares (1980)
Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas (1996)
A Luneta do Tempo, de Alceu Valença (2014 – inédito no circuito)