Atualizada às 15h13min Sansara Buriti  |  buritisansara@gmail.com

Depois do sucesso dos favela movies e das comédias, a produção crescente de filmes de terror e suspense indica o surgimento de uma nova aposta no cinema nacional. Nos últimos cinco anos, filmes como Quando Eu Era Vivo (2014), de Marco Dutra (com a cantora Sandy no elenco), e Mar Negro (2013), de Rodrigo Aragão, foram alguns dos responsáveis pelo renascimento do gênero no Brasil. Em Santa Catarina, jovens diretores e produtores também investem em histórias macabras para atrair o público.

Web série Protocolo 43 leva zumbis para aterrorizar Sul do Estado
O Amuleto, suspense gravado em Florianópolis, tem estreia nacional

- Sempre fui fã do gênero, então pensar em um roteiro de terror é algo natural para mim - conta Cíntia Domit Bittar, cineasta e sócia da Novelo Filmes, que em O Segredo da Família Urso trouxe referências de filmes como O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, para criar o clima sombrio e estranho da história de uma menina que é proibida pelos pais de entrar em seu quartinho de brinquedos.

Vencedor de diversos prêmios no Brasil e no exterior, o sucesso do curta estimulou a produtora de Florianópolis a seguir por essa trilha. As próximas três produções da Novelo serão de suspense e terror. Entre elas está o longa Quebranto, sobre um casal que vive momentos sobrenaturais e malignos na Ilha de Santa Catarina.

A história do grupo de amigos jovens e bonitos que vai passar o fim de semana em uma casa longe de tudo e de todos já rendeu dezenas de filmes assustadores. Alexander Siqueira, também da Capital, faz uso do clichê para abordar a homofobia no curta Feriado.

- A narrativa é a mesma de muitos filmes do gênero, onde os protagonistas normalmente são casais héteros. Em Feriado, os personagens principais são gays. Eles são atraídos para uma festa e acabam sendo vítimas de um assassino homofóbico.

A produção já foi exibida em cinco países e, assim como O Segredo da Família Urso, poderá ser conferida pelo público do Estado durante o FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul), a partir do dia 19.

Menos preconceito, maior interesse do mercado

Outro catarinense que está tocando o terror é Marcos DeBrito. Nascido e criado na Capital, ele estudou cinema em São Paulo, onde vive atualmente, e sua mais recente produção é Condado Macabro. Gravada em 40 dias no Mato Grosso do Sul, é sobre um massacre de jovens em uma mansão perto da floresta. Um palhaço coberto de sangue tenta provar sua inocência para um policial que o encontrou na cena do crime.

Em maio, Condado Macabro recebeu o prêmio de melhor longa-metragem no Fantaspoa (Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre)  e estreou em Santa Catarina durante o CineramaBC, em Balneário Camboriú. A produção deve chegar às telas de cinema de todo o Brasil no mês de setembro. Uma editora também já fechou contrato com DeBrito para transformar o roteiro em livro.

- Antigamente havia mais preconceito com o cinema de terror, as pessoas o consideravam menor. Hoje, muito diretores conhecidos querem fazer filmes do gênero. Acho que o Brasil tem um grande potencial para produzir usando os clichês norte-americanos, mas situados dentro da nossa cultura. Percebo uma abertura maior do mercado - e mesmo sendo bem mais leves e com menos sangue, a trilogia Crepúsculo e a minissérie da Globo Amorteamo são alguns exemplos desse interesse pelo terror e suspense - acredita DeBrito.

Lançado em maio nos cinemas de Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo, o suspense adolescente O Amuleto, do diretor paulista Jefferson De, também faz parte dessa nova safra. A produção gravada em Florianópolis mobilizou mais de 70 profissionais. Inspirado nas histórias de bruxas do folclore ilhéu, o filme é protagonizado pelas atrizes globais Maria Fernanda Cândido e a catarinense Bruna Linzmeyer.

Referência

O catarinense Petter Baiestorf, de Palmitos, no Oeste do Estado, é uma das principais figuras do cinema de terror independente. Considerado um expoente do gore (filmes com sangue escorrendo como cachoeira, sexo, escatologia e muitas bizarrices), já produziu mais de cem filmes desde 1993. Em 2014, dirigiu uma das cinco histórias de As Fábulas Negras, filme de Rodrigo Aragão reunindo diretores novos e consagrados do terror nacional, como José Mojica Marins, o Zé do Caixão.

Confira os trailers e saiba mais sobre os filmes:

Condado Macabro

É um tributo aos filmes slasher dos anos 70 e 80 com todo gore e humor negro do seu gênero. A ideia surgiu no final da década de 90, quando Marcos DeBrito ainda estava na faculdade de Cinema. Condado Macabro foi produzido com recursos próprios (cerca de R$ 20 mil) e, em 2012, ganhou um edital do governo de São Paulo no valor de R$ 290 mil, para ser finalizado. No elenco, globais como Larissa Queiroz, de Insentato Coração e Paraíso Tropical, e Leonardo Miggiorin, que além das novelas é conhecido pela minissérie Presença de Anita. Antes de chegar aos cinemas em setembro, o longa será exibido em festivais.

 Feriado

É o primeiro curta-metragem de terror e suspense de Alexander Siqueira. Filme independente, foi gravado em parceria com amigos no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. Formado em Cinema pela Unisul, Siqueira já dirigiu outros cinco curtas, entre eles Mais ou Menos, sobre um jovem gay vítima de bullying na escola. A obra recebeu 13 prêmios e foi exibida em mais de 60 festivais. Em Feriado, a temática LGBT volta a ser tratada.

O Segredo da Família Urso

Foi realizado com prêmio de R$ 60 mil do edital Cinemateca Catarinense de 2012.   Gravado em Lages, na Serra Catarinense, o curta ganhou quatro prêmios no Cine PE, em Pernambuco, no mês de maio, um deles para a pequena Liz Cormellato,10, eleita melhor atriz.O filme se passa na época da ditadura militar no Brasil e tem direção de Cíntia Domit Bittar, que traz no currículo outros trabalhos premiados: Qual Queijo Você Quer? e O Tempo que Leva. Sócia da Novelo Filmes, de Florianópolis, ela pretende continuar investindo nos roteiros de terror e suspense.

 

O Amuleto

Quatro jovens saem em busca de uma festa na Floresta da Cabana e acabam se perdendo no caminho. A partir daí, uma história de desaparecimentos e mortes começa a ser investigada pela polícia por meio das gravações encontradas nos celulares das vítimas e pelos depoimentos da única sobrevivente, Diana (Bruna Linzmeyer), e sua misteriosa mãe (Maria Fernanda Cândido).

As Fábulas Negras

O filme apresenta cinco histórias do folclore brasileiro dirigidas por Petter Baiestorf (Pampa Feroz),  Rodrigo Aragão (O Monstro do Esgoto, A Casa de Iara), Joel Caetano ( A Loira do Banheiro) e José Mojica Marins (O Saci).

 

DIÁRIO CATARINENSE