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Itapema FM  | 04/06/2015 13h24min

"Bienal do Mercosul está confirmada", diz presidente José Antonio Fernandes Martins

Apesar da crise econômica, 10ª edição contará com R$ 6,5 milhões, metade do orçamento, para ser realizada de outubro a novembro, em Porto Alegre

Francisco Dalcol  |  francisco.dalcol@zerohora.com.br

A quatro meses da abertura da 10ª Bienal do Mercosul, a mostra de arte contemporânea está confirmada para ocorrer de 8 de outubro a 22 de novembro, em Porto Alegre. A garantia é dada pelo presidente da Fundação Bienal do Mercosul, o empresário José Antonio Fernandes Martins, em entrevista a ZH. E traz uma resposta ao cenário de incerteza que se instaurou com a crise econômica, que gera efeitos nas verbas que garantem a realização de eventos da área cultural.

– A crise, que começou ainda no ano passado e ganhou força depois da Copa, deixou o cenário da economia nada favorável. Neste ano, estamos enfrentando uma crise geral não só na indústria, mas nos ramos de comércio e serviços. PIB negativo é recessão econômica. Quando surge a crise, a primeira coisa que empresários fazem é reduzir custos. E, logicamente, um evento como a Bienal, que só se realiza mediante patrocínios, é atingido em termos de captação de recursos. Mas a Bienal está confirmada – diz Martins.

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Inicialmente com orçamento de R$ 13 milhões, a 10ª Bienal do Mercosul trabalha agora com recursos da ordem de R$ 6,5 milhões – um corte de 50%. Dessa redução de valor, estariam garantidos 90%, obtidos por patrocínios de empresas como Petrobras, Gerdau, Itaú, Santander, Vonpar, Lojas Renner e DuFrio.

– Tivemos bastante dificuldade para reunir o volume mínimo de recursos e, depois de muita luta, conseguimos não o que desejávamos, mas o que achamos suficiente para fazermos uma Bienal que venha dentro da expectativa do povo e dos apreciadores da arte, pela sua grandiosidade, magnitude, tecnologia e pelas obras que vamos apresentar. Tenho certeza de que vamos ter uma Bienal da qual todos ficarão orgulhosos pela qualidade – completa Martins, que é vice-presidente de Relações Institucionais da empresa Marcopolo S/A.

O corte orçamentário incide diretamente nas exposições e atividades que serão apresentadas durante os dois meses da 10ª Bienal. Mesmo com uma reengenharia em processo envolvendo redução de custos, o curador-chefe desta edição, Gaudêncio Fidelis, acredita que o projeto não será afetado. Esta Bienal do Mercosul se propõe a dar visibilidade para a arte das Américas do Sul e Central, desviando da arte europeia, norte-americana, asiática ou oriental. A lista de artistas deverá ser divulgada no final de julho, seguida pelo lançamento do Programa Educativo em agosto.

– Neste momento, estamos pensando nas mudanças que terão de ser feitas, mas que não afetam o projeto curatorial em sua integridade – garante Gaudêncio. – Estamos, por exemplo, buscando alternativas para diminuir custos de transporte de obras de países que são mais difíceis, como da América Central. Difíceis porque há pouca oferta de rotas aéreas e aeronaves de transporte. Por isso, envolvem um trânsito complexo que se torna mais caro. As alternativas que estamos estudando para manter a vinda da produção de outros países envolve buscarmos obras em acervo e coleções em países mais próximos.

O curador-chefe também comenta que alternativas estão sendo elaboradas como estratégia, envolvendo, por exemplo, apoios de embaixadas e consulados "como forma de garantir que as obras desses países com maiores dificuldades de logística sejam mantidas". Contudo, sobre o corte de orçamento, Fidelis reconhece que impactará nas exposições, ainda que afirme que não comprometerá a proposta curatorial. Pelo projeto, seriam apresentadas oito exposições em espaços como Margs, Santander Cultural, Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, Usina do Gasômetro, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, Casa de Cultura Mario Quintana e Paço Municipal.

– Alterar e repensar museografia envolve impacto significativo com o orçamento. Por isso, possivelmente tenhamos que encolher um pouco a ocupação dos espaços, concentrar algumas exposições, tentando juntá-las se for o caso. Estávamos prevendo participação de artistas com diversas obras, algumas de grande escala, e talvez teremos que rever isso. Nas próximas semanas, tudo isso deve estar mais claro e definido. Pelo menos até o momento, posso garantir que vamos manter a integridade do projeto curatorial – diz Gaudêncio.

O cenário de recessão que recai sobre a Bienal do Mercosul tem sido acompanhado por certa apreensão no meio artístico. Nas últimas semanas, aumentou o coro de vozes da suspeita de que realização da mostra deste ano estaria ameaçada, a ponto de ser cancelada. E mais: que se realizada, a 10ª edição seria a de despedida, marcando o encerramento da Bienal do Mercosul. O presidente da Fundação Bienal nega os boatos:

– Pelo menos dentro da diretoria e do conselho, nunca se falou sobre isso (o fim da Bienal do Mercosul). Isso deve ser alguma ideia plantada por não sei quem. Seja lá quem for (que esteja espalhando boatos), garanto que não existe essa ideia dentro da diretoria.

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Criada em 1997 na euforia da abertura dos mercados e das fronteiras econômicas daquela década, a Bienal do Mercosul foi resultado do envolvimento do empresariado gaúcho, que desde então financia a cada dois anos a mostra de arte contemporânea que colocou Porto Alegre no mapa das bienais do mundo.

– Não há razão para se terminar com a Bienal. Já tivemos nove edições, todas bem-sucedidas e de grande repercussão, e estamos indo para a décima – diz Martins.

No sentido de reforçar a presença institucional da Bienal, o presidente conta que tem feito uma espécie de campanha junto ao empresariado sobre a importância de se investir em eventos artísticos e culturais:

– A arte é o único caminho que perpetua uma era, uma época, uma civilização. O que saberíamos dos egípcios se não fossem todos os monumentos? A arte perpetua isso. É isso que queremos despertar. Estou fazendo esta campanha aos poucos, para que levemos às nossas empresas e líderes o seguinte recado: vamos guardar um pouco de recursos para prestigiar nossa arte. A arte perpetua e dignifica, faz com que um povo seja um pouco mais feliz.

O curador-chefe da 10ª Bienal do Mercosul, Gaudêncio Fidelis (ao microfone), junto aos outros curadores no lançamento da mostra em agosto de 2014

ZERO HORA
Félix Zucco / Agencia RBS

José Antonio Fernandes Martins, presidente da Fundação Bienal do Mercosul
Foto:  Félix Zucco  /  Agencia RBS


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