Neo, o protagonista de Matrix (1999) vivido por Keanu Reeves, precisava acreditar no próprio potencial para convencer a si mesmo e ao público de que era o escolhido. Em Sense8 essa prerrogativa se inverteu: é o espectador que precisa ter fé para seguir adiante na nova produção dos irmãos Wachowski.

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Produção original da Netflix que estreia nesta sexta, Sense8 recorre ao básico da mitologia criada pelos Wachowski. Estão lá as entidades superiores em guerra pela humanidade e os indivíduos comuns selecionados à revelia para entrar nesta batalha. Só que, ao invés de máquinas dotadas de inteligência artificial, são seres superiores com capacidade de transitar entre planos dimensionais, se teletransportar, essas coisas.



Dos 12 episódios de Sense8, ZH assistiu a três. O cerne da trama são oito pessoas, de diferentes perfis e morando em cantos opostos do mundo, que começam a se conectar. Essa ligação se dá de todas as maneiras, desde a DJ britânica que vislumbra o policial americano no espelho até o ladrão russo que sente vontade de comer a comida de uma noiva indiana e a executiva coreana assustada com a galinha de um perueiro africano.

Pelo menos no início, a única ligação visível é terem sido, digamos, paridos por uma entidade – que não dá para saber se é um anjo, uma deusa, alienígena, X-Man, enfim. Tal qual uma Lady Gaga no clipe de Born This Way, a mulher (interpretada por Daryl Hannah) "dá à luz" os personagens (ou os poderes deles) ao mesmo tempo em que é acuada por um desafeto e incentivada por um aliado.

Não fica claro o que eles representam ou o que querem. Tampouco os protagonistas entendem alguma coisa – em um dia, estão desfilando na Parada do Orgulho Gay, no outro, internados em um hospital para serem lobotomizados porque há uma conspiração secreta para mexer em seus cérebros e anular os poderes que eles nem sabiam que tinham ou para que servem – se é que servem para alguma coisa...

Cabe, então, ao público preencher essas imensas lacunas ou esperar que os irmãos Wachowski, em algum momento, forneçam as explicações necessárias. Ou pelo menos indiquem um caminho, porque, se depender só de fé, vai ser preciso um exército de Neos para garantir uma segunda temporada a Sense8.