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Itapema FM  | 04/06/2015 03h01min

Gustavo Brigatti: sobre "Hatred" e limites que precisam ser cruzados

Hiperviolento, game da Destructive Creations oferece a oportunidade perfeita para discutir até onde a indústria do videogame e seu público estão dispostos a ir

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Em qualquer processo criativo, limites existem para serem desrespeitados, torcidos, alargados e recriados. Às vezes, o resultado é bom, às vezes, nem tanto, e, às vezes, a consequência é o que menos importa: vale o aprendizado. Lançado nesta semana, Hatred é a oportunidade perfeita para discutir a questão.

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Anunciado no final do ano passado, o jogo da polonesa Destructive Creations deixou todo mundo apavorado. Polêmico, assustador, desnecessário, ultrajante, absurdo, controverso, pra que isso?, foram algumas das reações. Tudo porque o trailer mostrava um sujeito qualquer (com pinta do cantor Danzig) que acorda com o ovo virado e decide que a humanidade não vale o macarrão instantâneo que come. Armado até os dentes, sai passando fogo em tudo o que se mexe.

Dá um bico:



Convenhamos que não há nenhuma novidade em um enredo desse tipo em qualquer área da produção humana. Cinema, música, literatura, teatro, televisão, todo mundo já trabalhou uma história dessas com maior ou menor profundidade. Hatred está entre os rasos – portanto, precisa se apoiar no choque que a violência gratuita e exagerada ainda causa para conseguir alguma atenção.

Por um lado, deu errado: Hatred foi banido da loja virtual GOG, bloqueado na Austrália e na Alemanha e classificado como A (Adults Only) nos EUA, o que significa inapropriado para menores de 18 anos (o tipo de indicação extrema que apenas jogos sexuais costumam ganhar e quase uma sentença de morte para o mercado).

Por outro lado, deu certo: há três dias Hatred não sai da pauta da imprensa especializada e – talvez por isto – está entre os cinco títulos mais vendidos da Steam. A gigante do varejo virtual chegou a retirá-lo de suas prateleiras antes do lançamento, mas voltou atrás por pressão da comunidade gamer – a mesma que havia questionado o quão válido era um jogo cujo único objetivo é matar gente inocente com requintes de crueldade.

Como lidar, então? Censurar? Liberar com restrições? Promover boicote? Deixar que as pessoas decidam o que é melhor para elas?

Eu não enxergo uma solução definitiva – e ela talvez não exista nem seja necessária. Porque, para além do sucesso ou fracasso comercial de Hatred, está a discussão de até onde a indústria do entretenimento eletrônico está disposta a ir e qual o caminho seguir.

Se o objetivo for só juntar dinheiro, um Assassin’s Creed ou Call of Duty por ano dá conta do recado. Diversão pura e simples, tudo certo. Mas se o objetivo é estar no mesmo nível dos grandes fóruns da humanidade, como o cinema e a literatura, se o negócio é contribuir com algum debate, então é preciso se esforçar um pouco mais.

E Hatred, apesar de todas as suas falhas, ainda levanta algumas boas discussões. Discussões sobretudo a respeito de valores que queremos preservar e limites que desejamos cruzar. Mas não se enganem: não há omelete sem ovos quebrados. E crescer dói.

SEGUNDO CADERNO
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