Subversivo. Imoral. Um amontoado vulgar de cenas de sexo. Os adjetivos negativos não eram poupados por Vicente, em seus relatórios, para descrever os filmes brasileiros a que tinha de assistir como censor da ditadura militar em 1973 — cargo para o qual havia sido indicado pelo sogro, um general linha-dura. Nada disso, porém, o impediu de se tornar diretor das produções que ele próprio precisava censurar.

Vicente é o protagonista de Magnífica 70, nova série original da HBO produzida no Brasil, com 13 episódios, que tem estreia neste domingo, 24 de maio, às 21h. O personagem interpretado pelo ator Marcos Winter se vê tendo uma vida dupla: no lado A, o censor reprimido que vive uma rotina monótona; no lado B, o apaixonado pelo cinema marginal produzido pela Boca do Lixo, região de São Paulo onde eram criados filmes independentes e as famosas pornochanchadas nos anos 1970.

– É um cara que foi criado para ser manso, quase um cordeirinho. Até que um dia, no filme A Devassa da Estudante, ele depara com essa mulher que remete a uma tragédia da família dele. A partir daí, tudo começa a se transformar para não parar mais — relata Winter.

A mulher que encanta Vicente é Dora Dumar (Simone Spoladore), principal atriz da produtora Magnífica. Ela entra na Boca do Lixo com o objetivo de roubar o dinheiro do filme para salvar o irmão, mas acaba descobrindo que tem alma de artista.

— Eu me inspirei na musa do cinema marginal Helena Ignez (ex-mulher de Glauber Rocha e viúva de Rogério Sganzerla, fez filmes como O Bandido da Luz Vermelha e A Mulher de Todos). Ela potencializa o feminino quando está em cena, e seus personagens têm uma característica de bandida. E a Dora é uma bandida — conta Simone.

A premissa de Magnífica 70 surgiu em um roteiro para cinema chamado O Homem Liberado, comprado pela Conspiração Filmes. A equipe do diretor Claudio Torres, então, transformou o que era uma comédia em uma série de drama. Para o elenco, foi convocado um velho conhecido da censura e do cinema daquela época: o ator gaúcho Paulo César Pereio, de clássicos como Os Fuzis (1964), Iracema — Uma Transa Amazônica (1976) e Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976). Mas, na ficção, ele está do lado do regime, interpretando o general Souto, sogro de Vicente.

— Pereio sabe o que cada uma daquelas falas significava, porque viveu na carne aquilo tudo. Não só a questão dos filmes, mas também a ditadura. Ele sabe o que é um general — comenta Torres.

O elenco conta também com Adriano Garib, Maria Luísa Mendonça, Joana Fomm e Stepan Nercessian.

Magnífica 70

Estreia no domingo, 24 de maio, às 21h, na HBO.

Depois, o primeiro episódio estará disponível gratuitamente a todo o público na plataforma HBO GO, no HBOMAX.tv e no YouTube.

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Outras séries nacionais

Com uma produção marcada pela qualidade, a HBO chega com Magnífica 70 a sua sétima série original feita no Brasil. Veja as outras seis, que estão disponíveis na plataforma HBO GO:

– Mandrake (2005) — Um advogado do Rio de Janeiro, especializado em resolver casos de chantagem e extorsão, se envolve tanto com indivíduos da alta sociedade carioca quanto com as classes populares.

– Filhos do Carnaval (2006) — Retrata o cotidiano dos bicheiros cariocas e como eles usam o Carnaval da cidade para lavar dinheiro.

– Alice (2008) — Crônica de uma garota que precisa se mudar para São Paulo.

– Mulher de Fases (2011) — Baseada no livro Louca por Homem, da gaúcha Claudia Tajes, é uma crônica moderna sobre os relacionamentos e sobre a busca de nós mesmos e de um amor.

– O Negócio (2013) — Indo para uma terceira temporada, mostra três prostitutas que aplicam uma nova estratégia de marketing na profissão.

– PSI (2014) — Prestes a ganhar uma segunda temporada, acompanha as experiências e os dilemas do psiquiatra e psicanalista Carlo Antonini, personagem das obras de Contardo Calligaris, também criador da série.