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Itapema FM  | 13/05/2015 18h36min

Crítica: "Mad Max: Estrada da Fúria" debate a vida em cenário de morte

George Miller retoma a saga do anti-herói com olhar duro, mas feminino

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Uma perseguição no meio do deserto. Atrás, um sem número de veículos de todos os tipos, todos eles armas afiadas e explosivas pilotados por figuras igualmente letais e deformadas. À frente, uma fortaleza sobre rodas apropriadamente denominada Máquina de Guerra, um caminhão-tanque que leva em seu interior o motivo da rusga. Não é água. Não é combustível. É a vida em seu estado embrionário. Literalmente.

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Mad Max: Estrada da Fúria expande ao limite do absurdo o circo de horrores criado por George Miller em 1979. Se antes havia a figura do ex-policial caladão patrulhando as rodovias de um mundo à beira do colapso, agora sequer há estradas. As cidades caíram, e com elas qualquer possibilidade de civilização – mesmo as tentativas mostradas pelo realizador nas sequências originais de 1981 e 1985.




Mas mesmo no deserto inclemente que compõe a paisagem, mesmo em uma ordem criada através do metal enferrujado, da pólvora e da loucura, mesmo com seu inegável pessimismo, Miller decide falar justamente sobre a vida. Sobre como, apesar da finitude iminente e do desastre consumado, continuar acreditando é só o que nos resta. O que nos mantém vivos.

É a isso que se apega Furiosa (a estupenda Charlize Theron), que se atira numa missão suicida para resgatar um grupo de jovens mulheres mantidas em cativeiro por Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). À sua maneira e à revelia das garotas, o decrépito regente da Cidadela (um dos únicos aglomerados humanos possíveis) quer reiniciar a povoação do planeta fazendo filhos saudáveis. Furiosa concorda, mas acha que, mesmo no fim do mundo, essa não deve ser uma decisão unilateral.

Durante sua fuga pelo deserto (em uma sequência que redefine o termo "perder o fôlego" e que justifica pagar com gosto pelo caríssimo ingresso para ver em 3D e em Imax), a heroína tromba com Max (Tom Hardy) e Nux (Nicholas Hoult em excelente momento). E pouco importa que o primeiro seja um elemento neutro e o segundo, um aprendiz de vilão: eles são homens e naturalmente constituem ameaça. Pelo menos em um primeiro momento.



Estrada da Fúria se passa em um mundo forjado por homens e para homens, mas o olhar de Miller é voltado para a vida. Para o útero. Portanto, um olhar que se permite feminino e até feminista. Furiosa não é uma mulher que precisa ser masculinizada para exercer liderança e cair na porrada. Max segue atormentado pela perda da mulher e filha. Nux muda de lado quando percebe que a vida pode ser mais do que morrer com tinta spray cromada na boca – e graças ao toque sutil e sincero de uma das passageiras de Furiosa.

Por outro lado, Immortan vê suas noivas como animais para reprodução. Ele não vê nada de errado em usá-las apenas com finalidade reprodutora (e uma delas chega mesmo a mudar de ideia durante a fuga) e Miller permite que isso aconteça. Não há lições de moral prontas em Estrada da Fúria. Existe apenas o tétano cortando a paisagem, o sangue derramada na areia e uma lágrima furtiva aqui e acolá. O restante é com o expectador.

SEGUNDO CADERNO
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