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Itapema FM  | 15/04/2015 04h01min

Nova biografia narra a conturbada vida da escritora Sylvia Plath

Em "Ísis Americana", o jornalista Carl Rollyson recupera as facetas de uma das maiores autoras americanas

Luiza Piffero  |  luiza.piffero@zerohora.com.br

Alguns escritores sonham com uma cabana no meio do mato para trabalhar em paz. Não Sylvia Plath. A poeta americana fantasiava com a fama, que apenas chegaria após o seu suicídio, em 1963, transformando-a em um mito da literatura.

Hoje, cada obra póstuma ou biografia publicada é prontamente devorada pelos fãs como uma nova pista para entender quem era a mulher que, aos 30 anos, ligou o forno a gás da sua cozinha e esperou a morte enquanto os dois filhos pequenos dormiam, seguros, no quarto ao lado. Gerações de biógrafos levantaram diagnósticos. Depressão? Bipolaridade? Esquizofrenia?

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Na biografia Ísis Americana, o jornalista Carl Rollyson faz um caminho diverso. O mérito do livro é resistir à redução grosseira de Sylvia ao papel de diva sofredora. Rollyson, autor de outras 11 biografias, mostra uma Plath alegre, popular, bonita e genial, mas também neurótica e megalomaníaca. Ao preservar sua complexidade, engrandece o mistério que cerca a autora sem contribuir para a espetacularização da sua morte. O lançamento do livro no país coincide com a iniciativa da Globo Livros  de resgatar toda a obra da autora.

Rollyson foi o primeiro biógrafo a aproveitar o arquivo das cartas escritas por Plath ao marido, o poeta Ted Hughes (1930 – 1998), cedido pela Biblioteca Britânica. No livro, a voz da autora é trazida à tona também por muitas cartas trocadas com a mãe e amigos e por seus diários. Com texto fluído, sem digressões, o autor mostra as dificuldades de Sylvia em conciliar a ambição de ser perfeita como escritora, esposa e mãe. Fazem falta, no entanto, os poemas da autora, os quais Rollyson não teve permissão para usar, afinal, o próprio biógrafo afirma que Sylvia reconhecia sua obra como ficção e também como relato de sua vida.

– A vida de Sylvia era o seu trabalho. Até os críticos que não apreciam biografia têm dificuldades em evitar falar da vida dela – diz o autor a ZH. – Ela não concebia o papel do escritor como algo separado do mundo.

Sylvia sempre escreveu sobre seu universo íntimo, sem esforços para disfarçá-lo. No seu único romance, A Redoma de Vidro (1963), a autora escreve sobre o período em que sofreu um surto depressivo, transformando as pessoas de sua vida em personagens. Já os poemas de Ariel (1965), seus mais prestigiados, evocam o desespero dos últimos meses de vida, em meio à pobreza e ao isolamento que sucedeu sua separação do marido infiel. Impossível lê-los sem procurar entender a sua morte.

– As pessoas continuam a repassar os últimos dias dela, tentando descobrir por que cometeu suicídio. Mas também são fascinadas pela explosão de gênio que marcou seu último ano de vida. É algo que nunca vai deixar de assombrar os leitores.

Para Rollyson, foi Ted Hughes quem melhor entendeu Sylvia ao dizer que sua maior criação havia sido sua própria imagem.

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Espólio censurado

Ísis Americana é uma biografia não autorizada de Sylvia Plath. O último capítulo, por sinal, é uma justificativa para isso, pois expõe a maneira pela qual o espólio da autora foi gerenciado após a sua morte. Detentor dos direitos de publicação de toda a obra de Sylvia, o ex-marido Ted Hughes fez de tudo para silenciar os biógrafos e evitar a exploração da sua tragédia. Seus protestos apenas fomentaram a mitificação da figura da escritora, que nos anos 1970 se tornou um ícone feminista, e reforçaram o ódio que os fãs dela já sentiam dele. Muitos acreditam que a infidelidade de Ted a levou ao suicídio e até hoje insistem em riscar o "Hughes" na lápide de Sylvia Plath.

Ísis Americana: A vida e a Arte de Sylvia Plath
De Carl Rollyson, com tradução de Regina Lyra.
Biografia, Bertrand Brasil, 392 páginas, R$ 55.

 

SEGUNDO CADERNO
Cortesia de Judith Denison / Grupo Editorial Record

Após cometer suicídio em 1963, aos 30 anos, Silvia Plath tornou-se um mito da literatura
Foto:  Cortesia de Judith Denison  /  Grupo Editorial Record


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