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Itapema FM  | 15/04/2015 14h37min

Biógrafo de Sylvia Plath fala sobre a experiência de mergulhar no universo da autora

Carl Rollyson é autor do livro "Ísis Americana", que narra a vida de uma das maiores poetisas do século 20

Luiza Piffero  |  luiza.piffero@zerohora.com.br

Autor de outras onze biografias, o jornalista Carl Rollyson conversou com Zero Hora sobre a sua imersão na vida de Sylvia Plath. Ele acaba de lançar, pela Bertrand Brasil, o livro Ísis Americana.

Quais são os erros mais cometidos pelos biógrafos de Sylvia Plath e por que você decidiu escrever mais um livro sobre a escritora?
Um dos motivos que me fizeram escrever o livro foi que eu pensei que uma narrativa mais potente da vida de Sylvia poderia ser escrita, uma que incorporasse o trabalho dela no fluxo da sua vida, por assim dizer, em vez do típico "parar e recomeçar" que é típico das biografias literárias.

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Você foi o primeiro biógrafo que teve acesso aos arquivos da Biblioteca Britânica. Quais insights você teve ao analisar esse material?
Vou mencionar dois: o diário de Ted Hughes sobre a última semana da vida de Sylvia mostra que ele estava tentando convencê-la de que eles poderiam voltar a ficar juntos de uma maneira nova. Ele queria mais liberdade, mas a Sylvia sabia que a sua noção de liberdade significava simplesmente fazer o que bem entendia. O outro insight foi a confirmação do papel crucial que Al Alvarez desempenhou nos últimos meses da vida de Sylvia.

Você escreve no livro que Sylvia Plath queria ser muito conhecida e não se importanta tanto com sua privacidade. Na sua opinião, ela estaria satisfeita com o jeito como é vista hoje em dia?
Eu não diria que Sylvia não se importava com a sua privacidade. Como qualquer um, ela às vezes queria ficar sozinha. Mas ela não concebia o papel de escritor como algo separado do mundo. Ela não costumava dizer "leia meu trabalho". Almejava alcançar uma grande visibilidade como uma pessoa criativa. Acredito que ela talvez ficasse desanimada com aqueles que pensam que ela teve uma vida triste. Se não considerarmos o seu suicídio, Sylvia Plath era uma pessoa alegre.

Enquanto você pesquisava para o livro ou depois que o publicou, chegou a receber algum feedback da filha de Sylvia, Frieda Hughes?
Eu não ouvi nada da parte de Sylvia.

Qual o seu posicionamento com relação a maneira como o espólio de Sylvia Plath foi gerenciado após sua morte? A luta de Ted Hughes e sua irmã Olwyn (que o ajudou a cuidar dos direitos da obra de Sylvia) para manter a vida pessoal da escritora em sigilo foi bem-sucedida?
Eu penso que o manejo do espólio de Sylvia foi terrível. Acho que explico isso bem no último capítulo do livro. Pelo menos no começo, eles (Ted e Olwyn) de fato conseguiram silenciar vários biógrafos.

Na sua opinião, Sylvia foi uma vítima de um tempo no qual as mulheres sofriam maior pressão para se casar, ter filhos e continuarem casadas? A sua tragédia está estritamente conectada ao fato de que nasceu em 1932 e não, por exemplo, 1990?
Eu jamais chamaria Sylvia de vítima. Certamente, como todos nós, ela foi, em parte, moldada pelo seu tempo. É claro que a vida dela teria sido diferente caso tivesse nascido em 1990, mas ela ainda teria se confrontado com muitas das mesmas pressões que todas as mulheres sentem ao combinar família e carreira. Ela deseja ser uma pessoa completa, e parcialmente por isso que a sua história é tão instigante.

Com uma artista como Sylvia, é possível separar a vida da obra?
A vida de Sylvia era o seu trabalho. Até os críticos que não apreciam biografia têm dificuldades em evitar falar da vida dela.

Você usou o trabalho de Sylvia como matéria-prima para entender a sua vida? Por que não trouxe mais da sua obra para o livro?
Eu queria me concentrar em certos poemas-chave. Não queria que a análise literária interrompesse a narrativa. Mas também acredito que a narrativa lança luz sobre os poemas. Não penso que negligenciei o seu trabalho. Mas também eu estava transformando uma necessidade em uma virtude já que não protocolei um pedido de permissão para citar a obra de Plath. Essa permissão certamente teria sido negada.

Foi doloroso trabalhar na biografia?
Eu considero os meus biografados tão fascinantes que não consigo afirmar que foi doloroso - exceto quando escrevi sobre a última semana de Sylvia. Ela teve tanta dificuldade de manter o equilíbrio...

Depois dessa imersão na vida de Sylvia, o que ela se tornou para você e qual a sua avaliação da relação dela com Ted?
Sylvia Plath é como uma pedra-de-toque. Eu mencionei que ela tentava ser uma pessoa completa. Na verdade, eu acho que ela era completa em certo sentido porque viveu muito em sua curta vida e era interessada e proficiente em tantos tipo de escrita. Eu descobri, em entrevistas com muitas pessoas, que ela tinha talento para fazer amigos. Embora eu acredito que entendo como foi tão difícil para Ted permanecer casado com Sylvia (ela era, afinal, muito exigente), acho que é revelador o fato de que ele não conseguia viver sem ela. Acho que muita da sua animosidade contra os biógrafos reflete a sua raiva de ter que dividir Sylvia com eles e com o mundo.

O que é tão fascinante em Sylvia Plath?
Eu creio que as pessoas continuam a repassar os últimos dias dela, tentando descobrir por que cometeu suicídio. Mas, como con Keats, também são fascinadas pela explosão de gênio que marcou seu último ano de vida. É algo que nunca vai deixar de assombrar os leitores.

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Foto:  Cortesia de Marcia Brown e Mortimer Rare Book Room,Smith College  /  Grupo Editorial Record


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