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Itapema FM  | 07/04/2015 10h54min

Duo Assad passa por 14 cidades com turnê que comemora 50 anos de carreira

A dupla, que se apresenta em Florianópolis no dia 23 de abril, falou em entrevista sobre o cenário musical contemporâneo

Marina Martini Lopes  |  marina.lopes@itapemafm.com.br

Os irmãos Sérgio e Odair Assad já foram definidos por publicações como o Washington Post como "o melhor duo de violões que já existiu, talvez em toda a história" - e isso é só um exemplo da relevância e do alcance do trabalho do Duo Assad, que em 2015 comemora 50 anos de carreira. Entre os dias 8 e 29 de abril, os músicos celebram com uma turnê pelo Brasil, durante a qual apresentam também o repertório do álbum O Clássico Violão Popular Brasileiro, lançado no iTunes e em lojas físicas no mês passado. Em Florianópolis, o show está marcado para o dia 23 de abril, às 21h, no Teatro Ademir Rosa, do CIC (Centro Integrado de Cultura). Os ingressos já estão à venda.

A turnê passa por mais 13 cidades brasileiras, e, em maio, segue para os Estados Unidos. Além das apresentações, os violonistas oferecem master classes para músicos profissionais nas cidades São Paulo, João Pessoa, Natal, Belo Horizonte e Porto Alegre; além de encontros com a comunidade artística, especialmente músicos, professores de música e violonistas profissionais. Residindo - respectivamente - nos Estados Unidos e na Bélgica desde os anos 80, Sérgio e Odair se apresentam pelo mundo em recital, com orquestras e ao lado de grandes nomes internacionais, como Yo Yo Ma, Paquito D'Rivera e Nadja Sonnenberg, além de serem professores em importantes conservatórios. Com mais de 15 CDs lançados, já conquistaram o Grammy algumas vezes. O programa da atual turnê traz na primeira parte obras emblemáticas, representativas do repertório que consagrou o duo internacionalmente, em uma equilibrada escolha entre o clássico e o popular. A segunda parte é totalmente dedicada ao novo disco, O Clássico Violão Popular Brasileiro, que reúne João Pernambuco e Paulo Bellinati, Canhoto e Paulo Porto Alegre, entre outros músicos eruditos e populares. Das antigas gerações, como a de Canhoto (Américo Jacomino, 1889-1928), João Pernambuco (João Teixeira Guimarães, 1883-1947) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), até a mais nova representação, com Paulo Bellinati (1950) e Mauricio Carrilho (1957), o trabalho traça um panorama do violão no Brasil.

A integração entre clássico e popular, presente tanto no álbum quanto na turnê, é mais natural que intencional - segundo Sérgio, no Brasil, é praticamente impossível criar uma barreira entre os dois estilos. "No Brasil, quem toca violão clássico sempre toca o popular, porque o violão popular é muito forte", afirmou o músico, em entrevista coletiva para divulgar os shows deste mês. "O Brasil é bastante único nesse sentido, porque tem uma música muito violonística", concorda Odair. Leia abaixo a entrevista, em que os músicos falaram sobre o atual trabalho e também sobre o cenário musical contemporâneo:

Pergunta: Como foi a escolha do repertório para o último disco e para esta turnê?
Sérgio: No CD, nós escolhemos por importância histórica: começamos pelos alicerces da música do violão brasileiro e fomos avançando, sempre tentando associar o violão clássico e o popular. A gente quis contar a história de como foi estruturado o violão, então os nomes mais atuais acabaram ficando de fora. Talvez fosse necessário fazer um segundo disco para essa parte. (risos) Foi uma coincidência feliz o lançamento do disco com o aniversário de 50 anos de carreira - no início, nós não tínhamos nem percebido que ia coincidir. Para o show, pensamos em músicas que fizeram parte da nossa carreira, que nos ajudaram de alguma forma, que ganharam destaque ao longo desses anos. Também tem um pouco de um retorno ao que tocávamos com nosso pai quando éramos crianças. Foi um pouco difícil fazer essa escolha, mas, infelizmente, não dá para tocar tudo.

P: Vivendo tão longe um do outro, como é o processo de trabalho de vocês? Como fazem para trazer as influências e ideias de cada um para o trabalho no duo?
Odair: Desde 1983, quando o Sérgio foi morar nos Estados Unidos, há um oceano nos separando - realmente, fica mais difícil trabalhar. (risos) Mas, como antes dessa época nós já havíamos tido tempo de nos conhecer muito bem, a coisa funciona: sabemos o timing um do outro. Quando fazemos algo novo, é só nos encontrarmos e tocarmos um pouco juntos, e fica tudo certo.
Sérgio: Também viemos ao Brasil pelo menos umas duas vezes por ano, então nunca perdemos o contato com o país. É maravilhoso poder voltar, revisitar o Brasil, ter esse contato com o público. Estamos fisicamente separados, mas nosso fogo é a brasilidade - esse é o alicerce do duo.

P: Como vocês veem o universo do violão no Brasil atualmente, tanto o popular quanto o clássico?
Sérgio: Bom, primeiro, eu não acho que exista essa barreira entre os dois mundos, o popular e o clássico. Até já existiu - mas era uma barreira muito leve, e acabou caindo. No Brasil, quem toca violão clássico sempre toca o popular, porque o violão popular é muito forte. Nós mesmos, eu e o Odair, fomos treinados para ser violonistas clássicos, mas tocamos violão popular também. Claro que há diferenças; geralmente quem está acostumado com o popular tem mais facilidade para improvisar, por exemplo, enquanto quem toca o clássico tem mais acuidade. Cada um tem seu valor e suas características, mas eles se misturam. E, apesar de as escolas serem diferentes, o nível técnico é o mesmo, porque temos violonistas populares excelentes.
Odair: O Brasil é bastante único nesse sentido, porque tem uma música muito violonística. Na Bélgica, onde eu moro, por exemplo, não existe isso, não tem uma "música popular belga". (risos) Aqui existe, e é pouco valorizado - os estrangeiros dão mais valor para a nossa música do que nós mesmos.

P: E o mercado de música instrumental, como fica nesse contexto?
Sérgio: Acho que há mais abertura para a música instrumental hoje em dia, mais incentivo, até mesmo mais iniciativa privada.
Odair: Até mesmo a internet facilitou muito. O acesso à informação cresceu tanto que hoje em dia qualquer pessoa com talento ou interesse pelo assunto sabe onde encontrar material e até mesmo onde se divulgar, onde se tornar conhecido. Na época em que começamos, nos anos 1980, não tinha nada disso. (risos) O lado negativo é que a internet acabou com os discos. Ninguém compra mais CDs, né? E isso é um desastre. Vamos ver se alguém compra esse nosso aqui. (risos)

P: As pessoas estão preparadas para ouvir música desse tipo?
Sérgio: Existe um público preparado para isso. Claro que, para despertar o interesse de alguém que não está, teoricamente, preparado para ouvir música instrumental, é preciso um esforço maior de muita gente, mas é possível. Eu tenho alunos que nem vieram de famílias musicais, ou estavam acostumados a ouvir e tocar música de outros estilos, mas foram a um concerto de música clássica e saíram de lá apaixonados.
Odair: Mas essa realidade, de que o público preparado para ouvir música clássica não é a maioria, infelizmente não é só brasileira, é global: o nível geral de educação musical está caindo muito. Eu acho que um dos caminhos para mudar isso seria contar com a colaboração da mídia. A mídia dá pouco espaço para a música, especialmente a clássica, a erudita. Não é só no Brasil que os jornais estão tomados por futebol, na Europa também. Mas dar espaço para a música instrumental é muito importante. Crianças que têm contato desde cedo com um instrumento musical são comprovadamente menos agressivas, por exemplo. A nossa parte nós estamos fazendo (risos), mas falta divulgar um pouco mais.

P: Vocês sentem diferença quando se apresentam no Brasil ou no exterior?
Odair: Tudo é sempre muito diferente, desde a estrutura do teatro até o acolhimento do público. No Japão, por exemplo, eles aplaudem, mas não fazem mais barulho nenhum: dá para ouvir uma mosca voando pelo teatro. Dá até medo, você fica pensando "será que eles estão gostando?" (risos)
Sérgio: Países do norte da Europa em geral são mais 'frios', também; mas na Itália, por exemplo, é quase a mesma coisa que aqui, no Brasil: bastante barulho, todos muito afetuosos. É uma questão cultural.


Serviço
Duo Assad no show "O Clássico Violão Popular Brasileiro"
Quando: dia 23 de abril, quinta-feira, às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa, do CIC (Centro Integrado de Cultura - Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica)
Ingressos à venda na loja e site Blueticket e nas bilheterias dos teatros Ademir Rosa (CIC), Álvaro de Carvalho (TAC) e Pedro Ivo
Valores: R$ 70 (inteira) / R$ 35 (meia - professores, estudantes, idosos e membros do Clube do Assinante DC)
Mais informações: (48) 3664-2555

ITAPEMA SC
Duo Assad / Divulgação

A turnê passa por mais 13 cidades brasileiras, e, em maio, segue para os Estados Unidos
Foto:  Duo Assad  /  Divulgação


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