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Itapema FM  | 07/04/2015 04h01min

Alcy Cheuiche aborda questões históricas e raciais em "O Farol da Solidão"

O autor participa de bate-papo e sessão de autógrafos nesta quarta-feira

Atualizada às 05h01min Alexandre Lucchese  |  alexandre.lucchese@zerohora.com.br

Alcy Cheuiche já levou personagens e leitores para batalhas históricas, conflitos por terra e até mesmo a voos com Santos Dumont. Agora, o escritor foi buscar inspiração para seu novo romance em um passado mais recente e um cenário mais pacato do que os apresentados em obras como Sepé Tiaraju, Ana sem Terra e Nos Céus de Paris. Nem por isso O Farol da Solidão deixa de ter momentos de ação ou deixa de abordar a história do país, dedicação pela qual seu autor ficou conhecido.

O livro será lançado nesta quarta-feira, às 18h30min, na Saraiva do Praia de Belas Shopping, com bate-papo entre Cheuiche, o vereador Pedro Ruas (PSOL) e o advogado Antônio Carlos Côrtes, seguido de sessão de autógrafos. É a primeira narrativa longa do escritor desde João Cândido, publicada em 2010. Mas as novidades não param por aí: no próximo mês, o autor de 74 anos lança uma versão bilíngue de Sepé Tiaraju, ilustrada com imagens do fotógrafo Leonid Streliaev.

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— O Farol da Solidão é a história de um homem que tenta se isolar de todos, mas a vida vem buscá-lo — resume o escritor, que foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 2006.

O isolado é Carmelo, juiz que, depois da morte da mulher, decide se afastar do convívio humano no Farol da Solidão, no litoral de Mostardas, em 2004 — na ficção, o farol estaria abandonado. Além disso, o personagem se ressente por acreditar que não consegue se alçar ao cargo de desembargador por ser negro, sendo vítima de preconceito.

Com a chegada da temporada de aves migratórias da Lagoa do Peixe, próxima ao farol, a vida do magistrado, que beira os 60 anos, volta a se movimentar, principalmente quando a ação de elementos para afugentar os pássaros começa a levantar suspeitas.

A dimensão histórica do romance se dá quando Carmelo começa a escrever um livro sobre a vida do deputado Carlos Santos, cuja carreira foi uma grande inspiração. Como introdução ao relato, ele ainda narra a Questão Christie, uma das principais contendas diplomáticas na qual o Brasil se envolveu, e que teve como episódio central o naufrágio de um navio inglês na faixa litorânea do Estado. O leitor acompanha os temas ao mesmo tempo em que vê o desenvolvimento de Carmelo como escritor.

— Mostro que aquela zona, que muitos julgam um areal perdido, já foi palco de muita coisa — explica Cheuiche.

Na foto, o Farol da Solidão, em Mostardas

Questão Christie

A faixa litorânea desde o Farol da Solidão, em Mostardas, até a fronteira com o Uruguai não foi sempre tão pacata quanto parece hoje. No passado, o vasto areal presenciou diferentes naufrágios e saques, sendo o estopim de uma das maiores tensões diplomáticas da história do Brasil, a Questão Christie.

Depois que um navio britânico encalhou naquela zona, em 1861, e foi saqueado pela população local, o embaixador britânico no Brasil, William Dougall Christie, solicitou ao imperador D. Pedro II um pedido formal de desculpas e indenização pelos danos, não sendo atendido.

Começava assim uma contenda entre países, culminando no rompimento das relações diplomáticas do Brasil com a poderosa Inglaterra por dois anos. No livro, o ilustrado protagonista Carmelo, que teria feito sua tese de doutorado sobre a Questão Christie, conta a história cruzando-a com a vida de um antepassado de Carlos Santos, cuja biografia tenta escrever.

O deputado Carlos Santos

Carlos Santos

O deputado marcou a história ao ser o primeiro negro eleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, comandando o Estado na ausência do governador. Na narrativa de Cheuiche, Santos é uma das grandes inspirações da trajetória do protagonista Carmelo, juiz que viveu diferentes episódios de preconceito por ser também negro. Isolado no litoral gaúcho, o magistrado começa a escrever a história do deputado.

Filho de uma professora de música e de um carpinteiro, Santos perdeu o pai com poucos meses de vida e deixou os estudos muito cedo para trabalhar em um estaleiro naval. Envolveu-se com o movimento sindical e foi eleito pela primeira vez deputado em 1935. Mais tarde, retomou os estudos e bacharelou-se em Direito.

Seguiu uma carreira política marcada pela defesa dos trabalhadores e de crianças abandonadas. Morreu em 1989, aos 84 anos.

O FAROL DA SOLIDÃO
De Alcy Cheuiche

Romance, AGE Editora, 146 páginas, R$ 35.

Lançamento nesta quarta-feira na Livraria Saraiva do Praia de Belas Shopping. Às 18h30min, bate-papo do autor com Pedro Ruas e Antônio Carlos Côrtes. Às 19h30min, sessão de autógrafos.

 

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Adriana Franciosi / Agencia RBS

O autor apresenta um protagonista que precisa vencer o preconceito racial. Na foto, Cheuiche diante de uma imagem do orixá Ogum
Foto:  Adriana Franciosi  /  Agencia RBS


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