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Itapema FM  | 07/04/2015 07h01min

Florianópolis sedia a primeira escola de palhaços do Sul do Brasil

Curso oferecido no Circo da Dona Bilica, no Sul da Ilha, introduz os alunos na arte da palhaçaria

Ângela Bastos  |  angela.bastos@diario.com.br

O palhaço é um poeta. Sua poesia é fazer rir. Mesmo que dele mesmo. Faz isso de forma autêntica e transparente. Ingênuo, debocha das próprias fraquezas. Intenso, permite que debochem de si. Há um verbo que não combina com ele, o dissimular. Isso faz com que não se esconda dentro das roupas largas. Nem se oculte atrás da pintura no rosto. Afinal, todo mundo escorrega, tropeça, cai. Além de soltar pum, arrotar e fazer cocô.

 

Parir o palhaço que existe dentro de cada um é um dos objetivos repassados aos 22 alunos do curso de palhaçaria que funciona no espaço cultural Circo da Dona Bilica. A primeira escola de palhaços do Sul do Brasil está instalada no Morro das Pedras, em Florianópolis. O projeto é executado com apoio do Prêmio Funarte Caixa Carequinha de Estímulo ao Circo 2013.

A turma é variada. Homens e mulheres. Uns bem jovens. Outros de cabelos brancos. A maioria mora em Santa Catarina. Mas também há os que vieram de Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná. O curso tem duração de seis meses. Além de dar início à arte da palhaçaria, os alunos seguem um currículo que inclui aulas de música, dança, acrobacia de chão, aéreos, mágica, malabares e também outros aspectos relacionados ao desenvolvimento de um espetáculo como produção, iluminação, bilheteria, divulgação.

O palhaço de hoje não pertence só ao picadeiro. Mas a todos os espaços do circo.

- Não basta fazer o número. É preciso saber levá-lo ao público, explica o palhaço espanhol Pepe Nuñez, idealizador da escola.

Casado com a atriz cômica Vanderléia Will, que criou a personagem Dona Bilica, Pepe é um encantado pela arte circense. Para ele, o palhaço é um virtuoso.

"Tá certo ou não tá, garotada?", perguntaria Carequinha, o primeiro palhaço da televisão brasileira, que surgiu quando o menino George Savalla tinha cinco anos e o padrasto, Osório Portírio, dono de circo, pôs uma peruca careca em sua cabeça. Sentenciou que a partir daquele momento ele seria Carequinha. O menino gostou, e o personagem, que estreou o Circo Bombril, em 1951, na inauguração da extinta TV Tupi, encantou sete gerações.

Além de poeta, virtuoso e questionador, o palhaço tem de ser espontâneo. Como foi Waldemar Seysse, que virou o palhaço Arrelia a contragosto. Dizem que os irmãos e o pai o maquiaram e o colocaram na arena à força, e ele, com raiva, chutou a primeira pessoa na arena. O homem partiu atrás dele, e o público caiu na gargalhada. Além de poeta, virtuoso, questionador e espontâneo, o palhaço tem de ser um crítico social. Como foi Abelardo Pinto, o palhaço Piolin, considerado o maior nome da arte circense do Brasil. Ele foi celebrado pelos intelectuais e artistas da Semana de Arte Moderna de 1922. Aclamado como Imperador do Riso, elaborava as piadas com base em elementos do cotidiano, satirizando conceitos sociais.

Por sinal, dia 27 de março só é o Dia Nacional do Circo porque foi nesta data que Piolin nasceu. Ele usava um chapéu coco, peruca pela metade e um nariz bolota encarnado. Apresentava-se com calça xadrez, enorme colarinho branco, gravata borboleta, sapatões retorcidos e uma bengala. Seu jeito inspirou outros palhaços, que podem ter ou não cara pintada, usar ou não nariz vermelho, vestir ou não calças largas. De uma forma ou de outra - e nem por isso - deixar de fazer rir. É o que propõe e se propõe a trupe da escola de palhaçaria do Circo da Dona Bilica que dá um outro sentido a uma frase que muitos de nós ouvimos nos tempos de escola: que palhaçada é esta na aula?

Aprendizes

O que faz um formado em sistema de informação se interessar pela palhaçaria? Michel Mendonça tem uma resposta simples:

- O meu olho brilha no olho do outro que ri da graça que faço. Natural de Apiaí, interior de São Paulo, o rapaz formado pela Universidade Federal do Paraná teve o primeiro contato com a palhaçaria em Curitiba. Foi um curso rápido, mas suficiente para fazê-lo entender que deveria prosseguir.

- Sinto que o aprendizado dessa arte, que acima de tudo é o de levar alegria, tem ajudado a melhorar inclusive o meu relacionamento com as outras pessoas.

O que faz uma professora de Sociologia se interessar pela palhaçaria?

Lidiane Cunha remete à autenticidade: 
- Um palhaço não é um personagem. Sinto que, quando monto a minha palhaça (Xicoza), sou eu que me monto e isso é processo que mexe comigo.

Quando criança, conta a ex-professora do ensino médio, ela pouco foi ao circo. Aluna na escola de Dona Bilica, agora está experimentando o encantamento que a arte circense provoca.

O que faz um jornalista e publicitário se interessar pela palhaçaria?

Fernando Freitas busca aprofundar o conhecimento sobre a terapia do riso, a risoterapia. Ele revela interesse nas práticas que recuperam no universo da infância a condição de espontaneidade, estimulando o riso e tornando o mundo mais encantado. A ideia é fazer da risada um complemento na conquista do bem-estar da pessoa, independentemente da doença que a afete.

Informações e inscrições
Para acompanhar as atividades da Escola de Palhaços e ter mais informações sobre as inscrições para as próximas turmas, acesse o site www.escoladepalhacos.com.br.

Marco Favero / Agencia RBS

Além do picadeiro, aulas incluem o desenvolvimento do espetáculo circense
Foto:  Marco Favero  /  Agencia RBS


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