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Itapema FM  | 30/03/2015 11h25min

Como o rock entrou na vida dos integrantes da Camerata

A maioria descobriu o estilo quando criança, antes de tocar música clássica

Emerson Gasperin  |  emersong@gmail.com

No último dia 24, os alunos de Iva Giracca foram dispensados mais cedo. Naquela tarde de terça, a organização do Rock in Rio divulgou a maior parte das atrações do palco Sunset. Entre nomes como as bandas de metal Korn e Nightwish, o grupo de rock industrial Ministry e o cantor de jazz Al Jarreau, foi anunciada a participação da Camerata Florianópolis em show conjunto com o guitarrista norte-americano Steve Vai.

– Assim que me contaram, não consegui continuar a aula, fiquei... – revela a violinista da orquestra e professora do instrumento, com uma expressão de perplexidade e êxtase no rosto.

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Como ela, os demais músicos regidos pelo maestro Della Rocca viviam essa expectativa desde a semana anterior, quando a produtora da Camerata, Maria Elita Pereira, havia lhes mandado um WhatsApp falando do interesse do festival e pedindo segredo até estar tudo acertado. Com a confirmação, a ansiedade agora é para que 25 de setembro chegue logo.

– Só vou acreditar mesmo na hora em que subir ao palco com ele. Tenho todos os seus discos, inclusive o vinil do Passion and Warfare – diz Daniel Galvão, referindo-se ao primeiro álbum solo de Steve Vai, lançado em 1990.

Hoje com 37 anos, o florianopolitano descobriu a guitarra e o rock ainda criança. Aos 21, após assistir a um concerto, apaixonou-se pelo violoncelo. Em 2002, começou a estudar na Camerata, para a qual entrou em 2006. O guitarrista se aposentou, mas não o roqueiro. Galvão canta nos espetáculos Rock’n Camerata – em que a sinfônica interpreta Led Zeppelin, Black Sabbath, AC/DC e outros gigantes do gênero – e na banda de stoner rock Jugulator. Também é violoncelista no Enarmonika, grupo que mistura heavy metal e música erudita e gravou o EP Duality.

– Se der, quero entregar nosso CD a ele, pedir um autógrafo e perguntar como era a sua relação com Frank Zappa – pretende.

A curiosidade do Fausto Kothe, 35 anos, é outra. Aos 17, o adolescente que crescera ouvindo o saxofone do pai e o violão da mãe em um conjunto instrumental mudou-se de sua Santa Cruz do Sul (RS) natal para a vizinha Ivoti a fim de aprender viola (uma espécie de violino maior, com som mais grave) no conservatório da cidade. Lá, o fã de Rush e Metallica foi fisgado definitivamente pela música clássica.

– Eu gostaria de saber como é que ele teve a ideia de tocar com orquestra – afirma o gaúcho, que acabou se formando no instrumento na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2004.

Depois de passar pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Osca), em 2009 ele veio para Florianópolis por causa da esposa, publicitária. Em 2011, ao ingressar na Camerata, reencontrou sua colega de campus Iva. Ela concluiu o curso de violino na UFSM em 2001 e, no ano seguinte, apresentou-se na capital com a Osca. Não foi mais embora e, em 2004, entrou na Camerata. Há quatro anos, é a spalla, o posto mais importante de uma orquestra depois do maestro. 

–  A verdade é que eu era uma chata, só escutava música clássica, latina e MPB – ri a loira de 37 anos, lembrando-se dos tempos da universidade.

A “chatice” acabou quando Iva foi convidada para a banda Poços e Nuvens, de rock progressivo. A violinista tornou-se mais popular, mas não abandonou a música clássica. Integrou a orquestra sinfônica da cidade de 1990 a 2002. Com a Camerata, excursionou pela Europa em 2005. Em 2008, classificou-se em concurso para músicos como chefe de naipe Filarmônica de Jalisco, no México.

Nada mal para a menina que, aos quatro anos, ganhou um violãozinho para brincar de acompanhar a mãe no piano e o pai no violão. Até ver uma orquestra na TV e ficar fascinada com o violino. Quando os pais viram, a pequena Iva estava com um pedaço de pau fazendo as vezes de arco arranhando as cordas de seu instrumento. Daí ela começou a estudar violino com a professora Maria Wilfried, que trouxe o método Suzuki (sistema de ensino japonês que utiliza a educação musical) para o país e não parou mais de progredir.

– É uma satisfação e um reconhecimento muito grande este convite para tocar no Rock In Rio com a Camerata. Caso eu tenha a oportunidade de conversar com Steve Vai, só quero fazer uma pergunta: vamos tocar junto? – diz.

Enquanto não chega esse dia, ela vai experimentando situações inéditas, provocadas pela anúncio da orquestra como uma das atrações do festival. Até sua vizinha do prédio, que lhe dizia no máximo “bom dia” no elevador, veio puxar assunto.

– No outro dia, ela me encontrou e veio toda simpática: “É verdade que vocês vão tocar no Rock in Rio? Que chique!” – ri Iva, ainda surpresa com a repercussão da notícia.

Quem é Steve Vai



É natural a empolgação dos integrantes da Camerata Florianópolis com o show no Rock in Rio e, mais ainda, com o fato de apresentação ser com Steve Vai. O guitarrista de 54 anos é dono de uma técnica tão apurada que extrapolou o universo do pop, sendo respeitado – e muito – também pelos instrumentistas de música clássica.

Quem gosta de rock o conhece pelos seus trabalhos com Frank Zappa, com quem passou a tocar junto quando tinha apenas 22 anos. Em 1982, Vai estreou solo com o disco Flex-Able e, três anos depois, substituiu o virtuose sueco Yngwie Malmsteen no grupo Alcatrazz.

Seu currículo inclui também passagens pelo Whitesnake, pela banda de David Lee Roth (ex-Van Halen) e pelo G3, o supergrupo que formou com Joe Sartriani e Eric Johnson. No lado mais erudito, ele já subiu ao palco com a Holland Metropole Oskest e com a Hollywood Bowl Orchestra.

DIORGENES PANDINI / Agencia RBS

Mesmo dedicados aos eruditos, instrumentistas da orquestra têm alma roqueira
Foto:  DIORGENES PANDINI  /  Agencia RBS


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