Itapema FM | 19/03/2015 08h49min
Uma semana depois da última enchente registrada em Joinville, o Museu Arqueológico de Sambaqui ainda contabiliza os estragos causados pelos 55 centímetros de água e lama que invadiram gavetas, prateleiras e arquivos, alguns deles contendo parte dos registros pré-históricos da região.
O prédio às margens do rio Cachoeira, que já tem registros de alagamentos desde a sua fundação, em 1972, não sofria tamanha inundação desde 1998. A coordenação estima que o museu ficará fechado para visitas pelo prazo mínimo 40 dias. As 30 visitas agendadas, a maioria de escolas da rede municipal e privada, estão temporariamente canceladas, assim como o acesso de pesquisadores.
– O museu só será reaberto quando todas as etapas de limpeza e desinfecção terminarem – afirma a coordenadora da unidade, Roberta Meyer Miranda.
Na manhã desta quarta-feira, funcionários continuavam a retirada da água acumulada no laboratório, acervo técnico e setor administrativo. Nem as prateleiras onde são depositados os registros arqueológicos de mais de 5 mil anos escaparam da água da chuva misturada com a do poluído Cachoeira, o que deixou um cheiro forte no interior do prédio. Os funcionários precisaram usar máscaras para suportar o odor.
Além de prejudicar a conservação dos registros arqueológicos atingidos, a enchente danificou o material da exposição móvel que o setor educativo leva às escolas do município. No comunicado publicado no blog da unidade, a equipe técnica avalia que as perdas devem comprometer “o desenvolvimento das ações de comunicação museológica a médio prazo (cinco anos)”, já que o conjunto itinerante Face a Face terá de ser refeito, assim como outros materiais didáticos. Alguns mobiliários não poderão mais ser aproveitados.
Estrago poderia ter sido maior
O estrago só não foi maior porque o Museu de Sambaqui passou a tomar medidas preventivas desde a grande enchente de 1998. As portas receberam contenção de madeira e borracha para barrar a entrada da água. Os objetos foram guardados em prateleiras mais altas, incluindo o acervo em exposição, que fica em vitrines fechadas. Mesmo assim, o volume ultrapassou o que era esperado e chegou até as peças importantes, algumas delas do acervo de Guilherme Tiburtius, que deu o pontapé na criação do museu.
O Sambaqui é referência nacional e modelo único em se tratando de museus de caráter municipal que se dedicam também à pesquisa e à preservação. Seu acervo conta com mais de 40 mil peças, entre ossos humanos e de animais, pedras, acessórios e instrumentos de caça.
Fundação busca abrigo temporário para o acervo
Enquanto os funcionários do Museu de Sambaqui passam pente fino no material encharcado e contabilizam as perdas, a Fundação Cultural de Joinville (FCJ) procura um imóvel para alugar que possa abrigar parte do museu até que o futuro do prédio, em processo de tombamento, seja definido. Existe uma antiga discussão sobre a desocupação da construção de arquitetura modernista não só pelo risco causado pelos alagamentos, mas porque ele já não comporta mais o grande volume do acervo.
Segundo a gerente de patrimônio, ensino e arte da Fundação Cultural, Gessônia Leite Carrasco, existe um projeto de construção de um prédio anexo ao antigo que deve voltar a ser considerado. A nova estrutura seria construída em nível mais alto para não ser alagada e poder abrigar com segurança o acervo. Seria uma solução para que o antigo não fosse descartado.
– Não queremos perder este prédio que é referência do museu para a cidade – avalia Gessônia.
Por enquanto, a FCJ pensa em alugar um outro imóvel para a salvaguarda do acervo e para que apenas o laboratório e a exposição permaneçam na rua Dona Francisca. Para a coordenadora do museu, o retorno ao Palacete Niemeyer, onde os funcionários chegaram a trabalhar por mais de um ano, está descartado, pois a estrutura não comportaria todos os setores.
Em 2012, a Vigilância Sanitária interditou alguns setores do museu por considerá-los insalubres aos funcionários. As atividades da unidade só retornaram quando a iniciativa privada disponibilizou o Palacete Niemeyer para a mudança da direção e da área de pesquisa, enquanto a sede continuou acomodando a exposição permanente. As equipes se dividiram nos dois prédios até o final de 2013, depois que a FCJ contratou uma análise, que negou a insalubridade e possibilitou a volta.
:: Confira imagens do dia do alagamento ::
Associação quer mobilização
Segundo a presidente da Associação de Amigos do Museu de Sambaqui, Fernanda Borba, a entidade conta com a mobilização social para tentar resolver a situação da sede e a vulnerabilidade do acervo.
– O problema da sede não é novo. Quando os funcionários tiveram que ser realocados para o palacete, foram realizadas adequações mínimas no prédio. Eles retornaram, mas desde então o museu não podia receber pesquisadores de fora – conta Fernanda.
A associação está elaborando um documento que será apresentando no Fórum de Museus e Espaços de Memória para que a situação do espaço seja discutida junto aos demais setores da cidade. Por enquanto, a entidade faz barulho nas redes sociais para ganhar o apoio dos joinvilenses.
Funcionários ainda retiram água do acervo uma semana depois do alagamento
Foto:
Salmo Duarte
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