Entre 2012 e 2013, o ex-redator publicitário Radji Schucman, 37 anos, percorreu Brasil, Alemanha, França, Turquia e Marrocos fotografando o que chamava sua atenção. Ignorando os pontos turísticos e procurando passar sempre despercebido, ele acumulou em seu celular milhares de imagens de anônimos em situações do cotidiano. Quarenta delas compõem a exposição Topografia da Alma, que abre amanhã, quinta-feira, e vai até 17 de abril na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis.

- Quando a gente fala desse tipo de foto no Brasil, é comum a abordagem recair sobre a miséria. Já na Europa, o que mais me impressionou foi a solidão das pessoas - diz Schucman.

O agora fotógrafo tem uma história tão curiosa quanto o olhar que revela em cada instantâneo. Ele nasceu durante um retiro espiritual dos pais - um gaúcho e uma paulista - em Pondicherry, cidade no sul da Índia colonizada por franceses. Com menos de um ano, mudou-se para São Paulo. Aos 13, veio com a família para Florianópolis. Dos 18 aos 25, deu expediente em várias agências de propaganda locais.

Daí em diante, Schucman não parou mais de rodar. Comandou um bar na Lagoa. Faliu. Encheu um isopor de cerveja e virou ambulante. Foi para São Paulo trabalhar com camisetas promocionais. Interessou-se pelo ramo. Regressou à Ilha e abriu uma loja de camisetas descoladas com um sócio. Vendeu sua parte e montou outra, em São Paulo. Foi quando a fotografia entrou em sua vida.

- Eu dava camisetas escritas "gente" aos mendigos. Quando algum deles a vestia, eu fotografava, sem ser notado - conta.

Aqueles flagrantes despertaram o gosto pelo registro espontâneo, sem pose nem produção - ou "em segredo", como ele define. Para quem já tinha também cursado (sem concluir) Economia, Turismo, Filosofia e Cinema, foi fácil resolver mais uma vez abandonar o comércio, arrumar a mochila e ficar dois anos viajando e fotografando. Na volta, Schucman organizou o material e lançou no ano passado o fotolivro Topografia da Alma, que originou a exposição.

- O que me atrai é o contraste - descreve, indicando uma foto com camelôs marroquinos oferecendo artigos tradicionais espalhados por cima de uma toalha do Mickey.

Para variar, no momento Schucman está novamente com uma loja de camisetas, no centro de Florianópolis. Ainda não aprendeu a mexer em uma máquina fotográfica, mas pretende continuar apontando seu celular para capturar, com ironia, crítica ou sem razão aparente, tudo o que de alguma forma lhe toca.