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Itapema FM  | 03/03/2015 16h24min

Grupo parou o trânsito de Joinville na terça-feira com passos de dança

Cia. Muovere de Dança Contemporânea se baseou nos movimentos dos transeuntes para criar os passos coreografados do espetáculo "Desvio"

Cláudia Morriesen e Luiza Martin  |  claudia.morriesen@an.com.br e luiza.martin@an.com.br

Alguns motoristas de Joinville foram testemunhas de uma dança com superpoderes na manhã desta-segunda-feira: quatro bailarinos pararam o trânsito na avenida Beira-rio, em frente ao Centreventos Cau Hansen.

A faixa de pedestres se transformou, durante cerca de meia hora, em palco de salsa, tango e funk, alguns dos estilos improvisados na coreografia improvisada que deslizou em frente ao semáforo.

O quarteto da Cia Muovere de Dança Contemporânea veio do Rio Grande do Sul para apresentar a intervenção artística, batizada de Desvio, que só se completa em duas vias, a cena e o semáforo. 

— A, B, C e D. Objetivo: parar o trânsito. Tema: lagarto! — ordenava a voz onipresente e onipotente do diretor de arte da Muovere, Diego Mac, de 34 anos.

Com o microfone e o comando da música, ele aumentou o volume:

"É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado", gritava letra com batida de funk que fazia o quarteto rastejar pelo asfalto, como os lagartos que o narrador-comandante mandava.

Cada bailarino foi batizado, no início da improvisação, com uma letra de A a D. Mac convocou quem e quantos quis e delegou os temas que preferiu. A vogal e as consoantes faladas ao microfone atravessavam a rua dançando a música que fosse tocada, criando, na hora, os movimentos de dança.

— É bem improvisado, para eles jogarem. Eles sabem os motes do espetáculo. Outros, eu falo na hora. Mas, se eles têm que ir ou ficar, eles não sabem — disse Mac, sobre a dinâmica que fez os bailarinos cruzarem a avenida.

O improviso é a matéria-prima quando os bailarinos se apresentam no meio da rua. Entre os carros, o objetivo é causar um "mini terrorismo". 

— Tem toda essa brincadeira de exercer o poder e interferir na mobilidade urbana, para que as pessoas parem um pouquinho mais do que o tempo da sinaleira. Parar para perceber o mundo de outra maneira — filosofou o diretor.

Para Joana Amaral, de 30 anos, que dançou na "sinaleira", o espetáculo que fala sobre trânsito permite o contato mais direto com o motorista. Na parte que os membros da companhia chamam de "cena", o trânsito vai para o lado de "dentro" do espetáculo.

— Na sinaleira é a pressa, o não se permitir, o "não posso esperar", "estou com pressa", "sai" — explicou Amaral, que não acredita na escassez do tempo de parar e contemplar — É uma coisa que a vida não nos permite sempre. O semáforo é uma oportunidade. O atraso é o atraso, seja de um ou cinco minutos.

A fama de "Cidade da Dança" trouxe a companhia para a cidade, de acordo com a coreógrafa e diretora da companhia, Jussara Miranda, de 56 anos.

— Mapeamos Joinville como uma das cidades que receberia o projeto porque tem referências muito fortes em dança — comentou a coreógrafa.

Às 17h30, o estacionamento do Centreventos Cau Hansen recebe o quarteto ao som de Vivaldi para Desvio Cena, o espetáculo completo. Com a agenda cumprida em terras joinvilenses, o grupo continua a jornada de espetáculos em Curitiba, Londrina e Florianópolis.

Leia mais:
Entenda os objetivos do espetáculo Desvio, da Cia. Muovere de Dança Contemporânea




Plateia no meio da rua

Em determinado momento, o narrador que comandava o jogo de improvisação avisou: "tema: Lago dos Cisnes". Os passos dançados originalmente pelo Ballet Bolshoi de Moscou no século retrasado, no entanto, não tinham nada a ver com o que ocorria na Beira-rio. Os bailarinos João Pedro Ludwig e Pâmela da Silva, que estão na 8ª e na 6ª série da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, no entanto, se divertiram ao assistir. Eles são da turma de balé clássico, mas também tem aulas de contemporâneo na grade curricular.

— É uma proposta diferente, que eu nunca tinha visto. Essa velocidade que eles tem para criar, combinando com o ritmo e a adrenalina de estar no meio da rua, é muito interessante — avaliou João Pedro, que revelou: em determinados momentos, ficou bem apreensivo com as investidas dos motoristas que insistiam em tentar furar o bloqueio criados pelos dançarinos. 

— Joinville, por ter a cultura da dança impregnada, costuma estar mais acostumada a essas coisas, mas acho que a maioria dos motoristas estava mais interessada em seus próprios compromissos — afirmou o rapaz.

A preocupação com o perigo vivido pelos bailarinos permeada pela satisfação de assistir a um espetáculo de dança de surpresa no meio do dia também alcançou outras pessoas.  Eles que costumam estar sempre no Centreventos Cau Hansen, mas nem sempre no lado de dentro na hora das apresentações: a equipe de limpeza virou plateia naqueles minutos em que o projeto Desvio Sinal dançou bem em frente à escadaria do prédio.

— Eles são corajosos, porque nem todo motorista respeita — às vezes, não respeitam nem quando os pedestres querem passar, imagina quando estão dançando? — disse Juciara Silva, 38 anos.


A NOTÍCIA
Rodrigo Philipps / Agencia RBS

De forma corajosa, bailarinos criaram movimentos em meio ao trânsito de uma avenida do Centro
Foto:  Rodrigo Philipps  /  Agencia RBS


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